Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Começa a vigília da Igreja Universal do Reino do Galo

"Sorte, muita sorte ao time que embarca nesta segunda levando o sonho de tantos milhões de devotos!"

postado em 07/12/2013 12:00 / atualizado em 07/12/2013 13:44

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Doutor Lincoln Pinheiro, leitor destas linhas e perspicaz comentarista no Twitter, credita a mim a ideia de transformar o Galo em Igreja – a Igreja Universal do Reino do Galo, para a qual doaríamos o dízimo, o trízimo, nossos imóveis e mães, se necessário fosse.

Não é costume, mas desta vez doutor Lincoln equivocou-se. Minha ideia era fazer da Igreja Universal do Reino do Galo uma boate de strip-tease, nos moldes da Igreja Maradonista de Buenos Aires. Funciona como um clube: segundo o filme de Kusturica sobre o maior jogador de todos os tempos, para ser um fiel maradonista o sujeito tem de passar pelo ritual de receber um cruzamento e fazer o gol com a mão. Em seguida, deve correr para uma câmera instalada na lateral do campo e comemorar o tento como um drogado, um cheiradão que seria pego depois no exame antidoping.

Como nada se cria, tudo se copia, o ritual de iniciação na Igreja Universal do Reino do Galo obrigaria o atleticano a repetir o feito de Victor no episódio de La Canhota de Dios. Cheguei a consultar alguns barões da noite belo-horizontina na intenção real de empreender tal estabelecimento em honra ao Atlético, às mulheres e ao uísque paraguaio. Infelizmente minha ideia parece à frente de seu tempo, e não logrou sucesso.

Mas sabe que o equívoco do dr. Lincoln não é de todo ruim? Ele mesmo o explicou em 140 caracteres, provando a capacidade sintética das grandes ideias: transformamos o Galo em Igreja, o que praticamente já é, e assim não teremos mais de recolher impostos. Dessa forma estaríamos perdoados, senão por Deus, pelo menos pela Receita Federal.

Kalil seguiria presidindo a casa, desta vez em caráter de papado, devendo ficar até morrer. Mário Henrique, o Caixa, seria o pastor, tendo como coroinha o Bolivar. Naturalmente, cultuaríamos São Victor. Seus apóstolos seriam o Galo de todos os tempos: Luizinho, Réver e Leonardo Silva; Cerezo, Pierre e Donizete; Tardelli, Ronaldinho, Éder e Reinaldo. Coitado do Silas Malafaia perto da gente.

O assunto tem pertinência no momento em que se batalha pela liberação do dinheiro de Bernard. Se o Galo fosse uma Igreja, já estava em caixa (e em espécie). Se fosse partido político, teria ingressado pelo caixa dois. Se fosse empreiteira, a grana estaria saindo pelo ladrão.

O Brasil tem surtos de justiça, sempre celebrados pela parcela da sociedade disposta a dar “um basta nisso tudo que tá aí”. Portando álcool e Pinho Sol, um jovem acabou condenado a mais de cinco anos de prisão em regime fechado, acusado de terrorismo nas manifestações. Avisei minha mãe, e ela já adotou a toca na cabeça em suas idas ao supermercado.

O Galo tem patrimônio para recomprar o Bernard cerca de quinze vezes a um custo de R$ 100 milhões por cada transação. No entanto, o dinheiro de sua venda está bloqueado pela Justiça, impedindo que, às portas do Mundial, o Atlético consiga pagar aos seus jogadores os direitos de imagem que já estão atrasados. “É isso mesmo”, dirão os justiceiros. “Futebol é uma bandalheira”. O país que condena mensaleiros a penas superiores às de Suzane Richthofen está se tornando realmente um país sério.

Sorte, muita sorte ao time que embarca nesta segunda levando o sonho de tantos milhões de devotos! Sorte a esse grupo que, diante de pagamentos atrasados, só pensa em ser campeão. É por isso, também, que vocês são o melhor Atlético de todos os tempos. A Igreja Universal do Reino do Galo estará em vigília por vocês. Jogai por nós! Vocês orgulham demais esta Massa.

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