Fred Melo Paiva
None

O campeão voltou

"Depois do Raja, foram duas as rajadas contra as quais nos debatemos: o Besiktas, que queria levar R10, e os burocratas de Brasília, que não liberam a grana do Bernard"

postado em 01/02/2014 12:00

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Um mês sem Atlético e eu já estava me sentindo como o cracudo que aceitou emprego da Prefeitura de São Paulo pra largar a droga e a Cracolândia – abstinência de 10 graus na escala Richter, insônia quarta à noite, depressão domingo à tarde. É nessas horas que falta um AA, os Atleticanos Anônimos, onde poderíamos quem sabe nos curar.

Graças a Deus, na figura sacrossanta de São Victor, veio esse jogo contra o Minas Boca. Se liberam a maconha no Brasil, como fez o Mujica no Uruguai, esse pessoal já tem um CNPJ e uma excelente razão social pra investir no novo mercado.

Da nossa parte, além do santo, foi legal ver o Marion. Em campo e na entrevista coletiva. Viva a base operária! Fiquei até emocionado com a sua humildade, de deixar o papa Francisco no chinelo. E melhor: não entrega a rapadura como o pontífice, que esta semana jogou umas pombas pela janela lá em Roma diretamente nas garras de umas aves de rapina.

Aí o Marion disse que o pai colocou esse nome nele porque é “meio tirado a africano”. Fui pesquisar e infelizmente não tem nada disso – Marion descende mesmo de Maria, sendo muito aplicado na França. Antes que comece o bullying, saiba que outro Marion, o Marion Morrison, era ninguém menos que John Wayne – ator, entre outros, de O homem que matou o facínora, O homem de peso e O ídolo da torcida.

Nesses longos dias de abstinência, o atleticano foi salvo pela campanha do Galinho na Copa São Paulo. Que, além de fazer bonito, reforçou nossa condição de carrasco do São Paulo. A gente virou o Botafogo dos caras! A pedra na chuteira! Cruzou o Galo no caminho, a sapatada é certa, desde que o garçom Rogério Ceni serviu aquela Perrier ao Ronaldinho.

Em tempos de abstinência, o atleticano torce contra o vento. Depois do Raja, foram duas as rajadas contra as quais nos debatemos: o Besiktas, que queria levar R10, e os burocratas de Brasília, que não liberam a grana do Bernard. Ao contrário dos Perrellas, Kalil só mexe com craque – e quando ele anunciou a renovação de Ronaldinho, só não soltei foguetes em respeito à população canina, que já sofrera o suficiente nos ataques do réveillon.

De repente vem a informação de que ele ainda não tinha renovado, de fato. Faltava rubricar umas vias, reconhecer umas firmas. Roguei-lhe de imediato uma praga: Ronaldo, assina logo essa bagaça, ou nunca mais terá aos seus pés uma única orca dessas que nadam em sua piscina! Bastou para que ontem mesmo seu nome já figurasse no BID da CBF. Agradeço a cada cruzeirense que se regozijou no meu Twitter, retuitando os 140 caracteres com os quais eu agradecia R10, há cerca de um mês, por ser Galo até morrer.

A abstinência é também período de reflexão. Passados mais de 40 dias da derrota para o Raja, retiro meus aplausos ao Cuca na disputa do terceiro lugar. Ao revelar sua saída em hora imprópria, posar com a flâmula do novo time antes do Mundial e revelar o desejo de levar dois dos nossos, o senhor Alex – que desejei fosse o nosso Ferguson – obrou na saída.

Afora essa reflexão, uma outra. Com o post desta coluna, encerro minha participação no blog Atleticano, do qual fui síndico nos últimos meses. A coluna permanece. O blog se curva à frequência incompatível com minhas atividades de jornalista – e, confesso, à imbecilidade e violência de cerca de 40% dos comentários que eu estava obrigado a mediar. Se não tenho fé em Deus, quero mantê-la pelo menos em relação aos seres humanos.