Fred Melo Paiva
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FRED MELO PAIVA

Agora é 'nóis' lá em casa

"O Galo que jogou em Bogotá na quinta-feira tem muito a melhorar. Mas se falta R10 e Tardelli entrarem no jogo, sobram Victor e Guilherme"

postado em 05/04/2014 08:28

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

E lá vamo “nóis” pra mais uma decisão do Mineiro contra a freguesia. Tem de ficar esperto, porque são 42 títulos do Galo contra 36 do time que sempre me vem à mente quando exagero no tamanho da tigela de açaí – o time do Barro Preto. Apenas seis conquistas separam Atlético e Cruzeiro. Tem de abrir o olho – ou corremos o risco de a coisa se inverter a partir do século 22.

Final de Campeonato Mineiro é uma beleza. Primeiro porque remete à infância, quando a cidade terminava na Rua do Ouro e cruzeirense na Serra era mais raro do que duende no Clube dos Caçadores. Nessa época, anos 1980, eu era uma criança – e o Cruzeiro pra mim era espécie de Guarani de Divinópolis lotado na capital. Sua camisa era patrocinada pelas lojas Medradão. A China Azul era um Tibete que a cada jogo precisava ser empurrado pela PM para que se pudesse acomodar a Massa.

Passei a primeira década da minha vida achando que o Cruzeiro fazia apenas figuração num grandioso espetáculo – e que o Atlético, dono do estabelecimento, era tipo os Globetrotters. Não se tratava de um jogo. Era uma apresentação teatral cujo script não mudava nunca: no final, pessoas de preto e branco cantavam “chora, não vou ligar, chegou a hora”, enquanto aquelas vestidas de azul se retiravam aos 40 do segundo tempo. Era até tedioso.

Não é apenas em razão da nostalgia, porém, que uma decisão de Campeonato Mineiro fala fundo ao coração atleticano. Tem outro motivo: é agora, neste domingo e no próximo, que as coisas se resolverão dentro de casa, no próprio quintal, cá entre nós. Desde que me tornei adulto, o Cruzeiro conquistou títulos nacionais e internacionais. Tornou-se uma espécie de São Caetano que deu certo, surgindo do nada e ganhando tudo. Mas em seu próprio cafofo, onde a verdade do fatos está posta à mesa, assemelha-se ao chefão da firma, cheio de regras e vaidades, que ao chegar em casa apanha com o rolo de macarrão.

Nos anos 2010, a violência doméstica da qual é vítima já garantiria ao Cruzeiro o direito de invocar a Lei Maria da Penha. Ganhamos o Mineiro de 2010, 2012 e 2013. O Tibete azul – hoje mais populoso, visto que seu pessoal só vai na boa – comemorou apenas 2011. E vai preparando o lombo, porque esse Galo pode faltar com o baile dos últimos dois anos, mas não esqueceu o passinho. Estou convicto (convictor!) de que ainda vale a frase do filósofo Ronaldinho Gaúcho: “Quando tá valendo, tá valendo”. Ou aquela outra: “Aqui é Galo, é Galo, é Galo”. Ou ainda: “Aqui é Galo, p....”. É um poeta.

O Galo que jogou em Bogotá na quinta-feira tem muito a melhorar. Mas se falta R10 e Tardelli entrarem no jogo, sobram Victor e Guilherme. O que o Victor fez contra o Santa Fe foi algo de monumental, uma daquelas atuações de Yashin, de Dasaiev. E foi bom que não gastamos seus milagres de santo, porque aquilo nada teve de milagre nem de sorte – foi competência mesmo. Victor é hoje, de longe, o melhor goleiro do Brasil e um dos melhores do mundo.

Enquanto Tardelli e Ronaldinho não completam a volta por cima, temos mais um aliado além de Victor e Guilherme – o novo Mineirão, cuja reforma desenterrou a cabeça de burro. A gente só pisa lá pra dar a volta olímpica. Da minha parte, fui três vezes: na final do Mineiro de 2013, na final da Libertadores e no show do Black Sabbath. 100% de aproveitamento. Sem mais.

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