Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

O amor contra La Bestia Quadrada

"Nós acreditamos, Yes We CAM, axé, domingo é 13, que Deus nos ajude, jogai por nós, amém"

postado em 12/04/2014 08:17 / atualizado em 12/04/2014 08:25

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

O Atlético se classificou antecipadamente para as oitavas de final da Libertadores. Fez quatro pontos a mais que o segundo colocado. Como ensinou o Tim Maia, numa relax, numa tranquila, numa boa. É um dos dois invictos na competição. Se bota o Mineiro no meio, não perde há 16 jogos. E isso sem Ronaldinho e Tardelli – porque em péssimas fases – e desfalcado de Réver, Dátolo, Lucas Cândido, Richarlyson, Josué e Luan. Até outro dia, sem Fernandinho e Donizete. Nem Victor, apesar da qualidade de santo, escapou ileso desse vodu.

La Bestia Quadrada, por sua vez, classificou-se na bacia do saldo de gols, comemorando a vitória sobre o Real Garcilaso como se fosse o Selecionado Jamaicano levando o ouro no bobsled. No dia anterior, os peruanos tinham treinado num campo em que dividiram espaço com casados e solteiros da pelada local.

O Tibete Azul, emancipado do sofá pelos programas de sócio-torcedor, mandou ver no óleo de peroba, “criando” a hashtag e o grito “Eu tenho certeza”, inspirado no “Eu acredito” e copiado de coluna publicada neste espaço em 20 de julho de 2013, sob o título... “Eu tenho certeza”. A vergonha alheia é um sentimento intrigante: ao mesmo tempo que o ridículo nos atrai, temos o ímpeto, humano demais, de dizer “você para com isso, que eu finjo que não vi”.

Não vou me alongar a respeito dos “loucos”, que além de dever royalties a mim e à Massa, devem também aos corintianos, os primeiros a requerer para si a camisa de força. Desejo apenas chamar à reflexão o atleticano corneteiro. Tanto quanto a vergonha alheia, me intriga ver parte da torcida do Galo insatisfeita, queixando-se do mau futebol, da preguiça, de R10 e de Tardelli. Que coisa... Se fosse cruzeirense, então, o cara ia ali dar uma suicidada e voltava. Até parece que não tivemos de engolir, há bem pouco tempo, os Mexericas que o diabo amassou.

O torcedor insatisfeito é uma das muitas consequências da “arenização” do nosso futebol. O sujeito paga um ingresso ou uma transmissão de TV que é o olho da cara e, diante desse fato, exige o espetáculo. Comporta-se como se tivesse ido ao teatro e a Marília Pêra tivesse dado o cano. Aí ele grita e esperneia e vai às redes sociais como quem liga para o 0800 da operadora de celular. O torcedor está morrendo – e em seu lugar emerge o consumidor. A este eu peço que vá ao shopping aplacar suas angústias, mas que não transforme o nosso Galo num produto qualquer. O Galo é amor, não é uma empresa. E que nunca venha a ser.

Amanhã, Atlético e Cruzeiro decidem o Mineiro. Que ninguém se mate, a não ser de infarto. Que os 6 mil atleticanos presentes ao Mineirão honrem a camisa mais bonita do mundo. Que o Mineirão continue a ser nosso salão de festas, onde a gente só pisa pra celebrar a magia e a sorte de ver o Galo campeão.

Que Tardelli e Ronaldinho enfim desencantem, mas se não for o caso, que a gente grite o nome dos dois, ídolos para sempre, como Éder e Reinaldo. Que o Victor opere novos milagres. Que o Guilherme faça o gol do título. Que a administração do estádio toque o hino mais bonito do mundo. Que ao final o cruzeirense pegue sua bandeira, enfie no baú e vá embora. E que a gente acredite, acredite sempre. Porque reside aí toda a beleza de ser Galo.

Aos jogadores, ao Autuori, à diretoria, toda a sorte do mundo. Nós acreditamos, Yes We CAM, axé, domingo é 13, que Deus nos ajude, jogai por nós, amém.

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