Fred Melo Paiva
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Saiu a inhaca

O Galo não trocou Autuori por Levir Culpi -2013 trocou foi o medo pela esperança, o pequeno pelo grande. O Kalil não pôs um técnico no lugar do outro. Ele trouxe a Massa de volta pro jogo

postado em 26/04/2014 12:00

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Esta semana tive a comprovação de que o meu atleticanismo se encontra na fase que, se eu fosse alcóolatra, seria a do gim. Ou a do crack, se o meu vício fossem as drogas. É, Galo, mas, como disse o Nelson Gonçalves, o meu vício é você. E só mesmo recorrendo ao AA – os Atleticanos Anônimos – para, quem sabe, livrar-me desse flagelo.

Digo isso porque eu chorei. E não foi por causa da derrota em Medellín, bebendo o veneno que sempre foi o nosso remédio – o gol aos 48 do segundo tempo, a prova do equívoco de todo ateu. Se eu tivesse fé, a cada vez que alguém viesse com a conversa de que tudo surgiu do big-bang, eu diria: e aquele gol do Luan, no finalzinho, empatando o jogo contra o Tijuana? E o Leonardo Silva, o testa de ferro, no último jogo da final?

Pois é, mas não foi a derrota aos 48. Se estivesse no AA, falaria aos meus pares: “Tive uma recaída”. Chorei porque o Autuori caiu. Chorei de emoção, como o sujeito informado de que seu câncer desapareceu. Chego a ter pena, porque Autuori, além de se parecer com o Reginaldo Faria, lembra também o meu pai. Os três têm alguma coisa de Gepeto e, se tivessem a barba do Fidel, dariam bons Papais Noéis. Mas ainda assim eu chorei – cerrando os punhos e celebrando igual o Richarlyson quando dá um bico pra lateral. Fiz três vezes o sinal da cruz e fui à janela exercer o sonho do cruzeirense – gritar aquele Galo bem gritado, Gaaaaaaaloooo!!!, que desopila o coração e o sistema respiratório.
Acordei no dia seguinte ao massacre de Medellín me sentindo o Pablo Escobar: arrasado pelas forças colombianas, abatido, morto pela noite insone. Parecia que eu tinha perdido um parente. O atleticano é traumatizado pelos percalços da vida, e o trauma se manifesta em sua bipolaridade. Ou ele vai ao paraíso, ou desce ao poço sem fundo. Era nesse buraco que eu me encontrava, caindo como Alice, nas primeiras horas da manhã de quinta-feira.

A derrota aos 48 do segundo tempo, a postura covarde, o Ronaldinho da Copa de 2006, o Reginaldo Faria em seu papel de múmia, o Carlos Eugênio Simon comentando um jogo nosso na TV – o que o atleticano assistiu na quarta à noite não foi a peleja de 11 homens e uma bola. Foi outro filme: a sombra de um passado em que nada dava certo, em que a gente só triscava, quase lá, tanto na vida como no velho Mineirão, perguntando-se a cada lance da nossa existência quando é que ia chegar a nossa hora.

O Galo não trocou Autuori por Levir Culpi – trocou foi o medo pela esperança, o pequeno pelo grande. O Kalil não pôs um técnico no lugar do outro. Ele trouxe a Massa de volta pro jogo, porque pra gente, como disse minha amiga Elen Campos, basta uma centelha.

Agora, com o atleticano esperançoso outra vez, eu quero ver como esses colombianos vão fazer pra aguentar. Verdade que eles ganharam do NOB fora de casa – mas é no Horto que reside a torcida mais argentina do mundo. É ali que R10 chorou e prometeu ir com aquela gente até o final. Ali cada um de nós aprendeu que nas horas mais duras da vida sempre haverá um juiz autorizando e um Riascos partindo pra bola.

Se proíbem faixas e sinalizadores, o inferno alvinegro bota fogo na rua. Se você vier com a sua macumba, eu venho com São Victor. Ali é nossa igreja evangélica, meu amigo. E até Deus duvida da nossa capacidade de botar 8 milhões onde só cabem 20 mil.

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