Fred Melo Paiva
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COLUNA DE FRED MELO PAIVA

Obrigado, mil vezes obrigado por tudo

'Ronaldinho, você está perdoado de tudo - dos cigarros que fumou, do jogo que não jogou e de tudo o mais que nós, os adeptos da Igreja Universal do Reino do Galo, jamais saberemos'

postado em 29/07/2014 14:00 / atualizado em 29/07/2014 09:04

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

Ronaldinho bebe e fuma – pena que o futebol, hoje, exija mais do atleta do que exigia de boêmios mais ou menos resistentes, como o Doutor Sócrates. Nos últimos meses, R10 treinava em não mais do que 2 metros quadrados de campo, naquela disposição de atendente do Detran em sexta-feira depois do almoço. Da diretoria aos jogadores, esgotara-se fazia tempo a paciência com ele.

Sobre Assis, o irmão que vem junto no pacote, não precisamos nos estender – chamá-lo de mala sem alça é uma afronta à minha estropiada Samsonite do colégio. Assis é um contêiner sem guindaste – com todo respeito aos contêineres. Para lidar com o tipo, ou você é a dona Miguelina ou a Madre Teresa de Calcutá.

A despeito disso tudo, a informação de que Ronaldinho saiu do Galo é tão triste quanto aquela que nos chega inesperada, dando conta de que perdemos um parente. Com a mesma tristeza, eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios: “Meu bem, enfie o disco do Pixinguinha naquele lugar, porque eu tô indo embora com outro e até nunca mais”.

Com Ronaldinho vai embora o seu choro depois daquele gol contra o Figueirense. Vai embora o R49. Vai embora a bandeira da dona Miguelina subindo como o padre do balão. Vai embora a imagem do cara correndo, mostrando o sangue alvinegro nas suas veias, e inventando sua frase mais famosa: “Aqui é Galo, porra!”.

Com R10, vai embora o Rogério Ceni servindo água com aquele paninho, como o garçom que carrega o champanhe ao lado da mesa. Sem R10, a Libertadores de 2013 parece um sonho distante, acontecido em décadas passadas – e o Dia mais feliz de nossas vidas, o 25 de julho que acaba de aniversariar, uma miragem no deserto do Marrocos.

Ronaldinho, você está perdoado de tudo – dos cigarros que fumou, do jogo que não jogou e de tudo o mais que nós, os adeptos da Igreja Universal do Reino do Galo, jamais saberemos. Por dona Miguelina, por seu pai e seu padrasto, ambos falecidos, até o Assis está perdoado.

Obrigado, R49, por mudar a nossa história, por fazer a gente acreditar que Yes, we CAM. Obrigado, R10, por levar o nosso Galo para o mundo inteiro ver. Obrigado pelo título que a gente achava impossível, vendo morrer nossos parentes sem que tivessem visto o Galo campeão. Obrigado por fazer com que o melhor jogador do mundo pudesse vestir a nossa camisa. Embora menor do que Reinaldo, você é maior do que Pelé. Obrigado, mil vezes obrigado por tudo.

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