Fred Melo Paiva
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ATLÉTICO

Quando tá valendo, tá valendo

Faz dois anos que Ronaldinho Gaúcho subiu a montanha e, como um Moisés, proferiu seu mais importante sermão

postado em 04/04/2015 12:00 / atualizado em 03/04/2015 19:59

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press.
A partir deste domingo, o atleticano entra em seu modo de autista. Não adianta tratar com ele sobre trabalho, casamento, política, religião, essas coisas menores. O que não for Atlético, não entra por um ouvido nem sai pelo outro. Em 35 dias, caso se classifique às finais do Mineiro e às oitavas da Libertadores, o Galo fará 11 jogos – 10 deles, decisivos. Raul Seixas calculou que o ser humano só usa 10% de sua cabeça animal. A partir de amanhã, o atleticano dedica todo esse dízimo à Igreja Universal do Reino do Galo.

Faz dois anos que Ronaldinho Gaúcho subiu a montanha e, como um Moisés, proferiu seu mais importante sermão: “Quando tá valendo, tá valendo”. Desde então, essa cláusula pétrea faz parte da Carta Magna do atleticano. São Victor só pegou aquele pênalti porque ele valia para sempre o nosso futuro. O Newell’s, o Olimpia, o Lanús, o Corinthians, o Flamengaço Classificadaço, o Pirangi do Sul, o Santa Fe lá fora – quando tá valendo, é com a gente mesmo.

A partir de amanhã, tá valendo esse Mineiro chinfrim que a gente gosta de ganhar, pra manter a tradição e a freguesia. Se, com alguma sorte, cruzarmos com o Pirangi numa final ou semifinal, tá valendo a marca dos 10 jogos sem derrota – o que eleva a freguesia à condição de clientela, com direito a pontos em cartão de fidelidade e desconto no camarote open do Independência.

Tá valendo também o recorde pessoal de São Victor, embora este seja santo, e não uma pessoa. Se o sacro-goleiro não for vazado contra Boa e Santa Fe, supera os 516 minutos que ficou sem levar um gol entre agosto e setembro do ano passado, a melhor marca de sua carreira.

Se o péssimo Boa não marcar, terminaremos a primeira fase do Mineiro com cinco gols sofridos, um outro recorde que está em jogo. E quem diria que vendo Leonardo Silva voltar – o Testa de Ferro, o melhor zagueiro da nossa história! – meu coração fosse apertar por Edcarlos? Cada escolha uma renúncia, meu caro, já diria Clarice Lispector no Facebook...

Agora, valendo, valendo mesmo, é na quinta-feira, se o coração apertado já não tiver sofrido um infarto nesse compasso de espera. Ave Maria, Nossa Senhora! Quer dizer, sem Maria, só a Nossa Senhora. Lá vamo nóis, com a nossa fé, católicos, umbandistas, crentes, ateus, testemunhas de Jeová, o pessoal do terreiro – todo mundo contra essa Santa Fe dos inferno!

Que pena que essa Cruzada não se dê em nosso sagrado salão de festas, com ingresso a 30 dinheiros. Mas eu é que não vou cornetar numa hora dessa – bora fazer o nosso já tradicional réveillon, bora incendiar o Horto com o Inferno Alvinegro, que a PM desistiu de proibir porque aquilo é o nosso Círio de Nazaré e a Constituição garante a liberdade religiosa. O América pode até possuir as escrituras do Independência – mas as escrituras divinas garantem a nossa posse daquele lugar desde que Ubaldo saiu de lá na corcova dos atleticanos.

Bora, meu Galo querido! Que ao fim deste próximo mês, mesmo tendo perdido esposas (maridos) e empregos, o atleticano (a atleticana) possa cantar O Rappa que a Galoucura cunhou a versão definitiva: Valeu a pena, Galo! Valeu a pena, Galo! Vamos ser campeões... Vamos ser campeões...

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