Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

"Tinha de ser contra o melhor da América"

"Atleticano merece tudo nesse mundo, depois de seus anos de litígio com a sorte e a justiça"

postado em 08/12/2016 12:00

HEULER ANDREY/DIA ESPORTIVO/ESTADAO CONTEUDO RS
Foi com medo de avião que o Belchior pegou pela primeira vez na sua mão. Eu sou ainda mais medroso do que o Belchior: minha mão sua, não haveria como pegar na mão de ninguém. Por isso, havia me decidido a fazer como Niemeyer: não pegar avião sob nenhuma hipótese. Meu mundo se reduz a Buenos Aires ao sul, Fortaleza ao norte. Onde o automóvel alcança, afinal bípedes e quadrúpedes (talvez me encaixe na última categoria) não foram feitos para voar.

Acontece que a tragédia da Chapecoense, com todo o respeito do mundo, me abriu os olhos para o seguinte: se for pro avião do Galo cair, prefiro estar dentro dele. Então lá fui eu, a convite do Atlético, ajudar no carreto da taça de Porto Alegre para Belo Horizonte.

Foi uma decisão diferente desde o entorno do estádio, onde uma irmandade de gaúchos e mineiros se estabeleceu, numa bonita confraternização. Mas não havia o que celebrar: a tragédia da Chape acabou com a gente.

“Só o Galo salva”, diz a encíclica primeira da Igreja Universal do Reino do Galo. Pra encarar a dura realidade das últimas semanas, só com uma boa dose do ópio do povo. À exceção do torcedor do Fluminense, não há outro que não mereça sair da longa fila – o compasso da espera é a estrada da morte. O Grêmio merecia sair dessa. Ademais, chegara à final jogando um futebol solidário e vistoso, arquitetado na prancheta de Roger Machado.

Da nossa parte, também merecíamos. Simplesmente porque o atleticano merece tudo nesse mundo, depois de seus anos de litígio com a sorte e a justiça, dos homens e de Deus. Aqui se faz, aqui se paga: pelos próximos 100 anos, não há par ou ímpar ou torneio de bocha que o atleticano não mereça levar.

Não deu. O Grêmio levou bonito (foto). Todos os gremistas que fora do estádio abraçaram os atleticanos mereceram o título, parabéns. A nós nos resta lamber a ferida, aberta meses atrás quando apostamos – todos, diretoria e torcida – em Marcelo Oliveira.

Ao fim e ao cabo, fiquemos nós com nossas esperanças: o gol de Pelezares, a quinta Libertadores consecutiva, um elenco de aguerridos e competentes torcedores, a rotina de brigar sempre nas cabeças. Um gremista com os olhos marejados me diz: “Tinha que ser contra o Atlético. Tinha que ser contra o melhor da América”.

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