Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

O gol do Cazares

É um retrato daquilo que poderíamos ter sido e não fomos. Mas é também uma projeção do que podemos ser - e seremos

postado em 10/12/2016 12:00

O gol de Cazares no final da decisão da Copa do Brasil (foto), quarta-feira, é um símbolo daquilo que poderíamos ter sido, mas lamentavelmente não fomos capazes de ser. Àquela altura do jogo, com o Grêmio campeão, aquela foi uma pintura inútil – um Picasso esquecido para sempre no fundo de algum quarto de despejos em Montparnasse. “Para efeito de cinema”, me escreveu o meu pai ao cabo da peleja, “é a Jane Fonda fazendo reviver um inutilizado Jon Voight em Coming Home”. Entendedores entenderão, para nosotros tem no YouTube. Jane Fonda ganhou o Oscar, Cazares pode levar o Puskas. O Galo que é bom, nada.

Com o digníssimo W.O. diante da Chapecoense neste fim de semana, finda-se uma frustrante temporada em que poderíamos ter chegado lá em três oportunidades – mas, na hora H, ou demos mole ou foi aquele coito interrompido. No Mineiro, no Brasileiro e na Copa do Brasil. Broxante. Agora é aquele momento fotografado para os maços de cigarro e acompanhado da legenda “FUMAR CAUSA IMPOTÊNCIA”: estamos sentados à beira da cama, inutilizados, uma bela mulher ao fundo. Procuramos o botão do eject, mas não há saída – o jeito é discutir a relação.

Nenhum dos “professores” que passaram pelo Atlético neste ano foram capazes de ensinar o Galo a jogar. Pelo troca-troca de técnicos, e pelas escolhas que foram feitas, Daniel Nepomuceno tem sido apontado como um dos principais “culpados”. Sejamos justos, caramba: a torcida aprovou toda contratação que foi feita, exigiu as saídas de Levir e Aguirre, e aplaudiu a chegada de Marcelo. Tamo junto nessa barca furada, e até pra tocar a corneta há de se ter alguma responsabilidade.

O fato, me parece, é que o futebol brasileiro vive uma difícil transição de técnicos. Por um lado, a velha guarda não funciona, os animadores de vestiário se tornaram totalmente obsoletos. Por outro, a nova geração, carente obviamente de experiência, ainda não inspira confiança. E sofre demasiadamente com a paciência curta dos corneteiros reunidos nas redes sociais (onde há corneteiro pra qualquer assunto, da separação do Brad Pitt às células-tronco) e com o sócio-consumidor que pagou o ingresso e exige espetáculo porque “eu paguei, eu tenho o direito”.

Nesse limbo entre o velho e o novo, até Renato Gaúcho vira gênio. E clubes como Palmeiras e Corinthians fazem apostas que, se fossem no Galo, provocariam uma orquestra sinfônica de cornetas. O jeito é ter paciência. Corinthians, Palmeiras, Fluminense – todos queriam Roger Machado, o mais promissor da nova geração. Ele escolheu o Atlético, a despeito de ofertas financeiras melhores. Torcida e diretoria deveriam firmar um pacto: Roger começa e termina a próxima temporada, aconteça o que acontecer. Um problema a menos.

O gol de Cazares, como disse antes, é um retrato daquilo que poderíamos ter sido e não fomos. Mas é também uma projeção do que podemos ser – e seremos. A vaga direta na Libertadores confere a Roger Machado um tempo de preparação capaz de influenciar toda a temporada. Se não ganhamos nenhum título em 2016, também é fato que disputamos todos eles nas cabeças, mesmo com um time por vezes mal treinado, por outras pessimamente escalado. Isto não é um exercício de fé, mas um prognóstico baseado na razão: o Galo não passa em branco de novo em 2017.

Ps. Obrigado, Edcarlos! Aquele gol contra o Corinthians, aquela dancinha do Mano – aquilo não tem preço.

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