Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Sobre o Galo, as surubas e as armas químicas

Em deferência ao clube que o revelou, Fred fez um gol pra cada americano presente no estádio

postado em 25/02/2017 12:00

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
São tantos os acontecimentos que se sucedem na suruba de Brasília, que numa mera semaninha parece ter transcorrido o mês inteiro – sensação ainda mais real quando a gente confere o extrato do banco. Pra encarar a volúpia do noticiário, com seus estancadores de sangria, com o Supremo, com tudo, só utilizando doses cavalares de ópio do povo. Por isso, atleticanos de todo o mundo, uni-vos por um calendário em que tenha jogo do Galo de domingo a domingo, sem interrupção. Só o Galo nos salva das trevas!

Com a abstinência de uma semana sem Atlético, vagamos pela cracolândia existencial, obrigados a assistir, de cara, ao chamamento de Jucá para o swing, à escolha do plagiador de Yul Brynner para o STF, ao Cunha indicando o ministro da Justiça, ao Serra sofrendo as sequelas do atentado com a bolinha de papel, ao Padilha com problemas na próstata e o c. na mão. Esqueci alguma? Ah, teve o habeas corpus do goleiro Bruno, o único corpus até agora localizado. Chega! Exigimos nossa dose diária de Atlético, ou vamos partir pra ignorância!

Domingo passado é que foi bom: uma overdose pra começar a semana! 4 a 1 na corcova dos outros é um belo refresco. Em deferência ao clube que o revelou, Fred (foto) fez um gol pra cada americano presente no estádio – e ainda deu uma assistência, homenagem ao motorista da Kombi. Depois, pediu música gospel no Fantástico, porque antes do carnaval é sempre bom deixar com Deus esse cheque caução. O atleticano saudoso do Pratto ficou igual ao Brad Pitt no bloquinho: “Angelina??? Num tô lembrado não...”.

Nas cadeiras do estádio, havia um grande espaço vazio em volta dos torcedores do América, quem sabe para evitar algum confronto com a Massa que lotava o Mineirão. Tamanha prudência me fez supor que devia se tratar de uma facção de americanos do Estado Islâmico, uma Avacoelhada facção ISIS. Durante a semana, uma nova hipótese surgiu: talvez estivessem munidos de desodorantes letais, verdadeiras armas químicas capazes de um extermínio em Massa.

Sim, o leitor mais atento certamente acompanhou a polêmica envolvendo um “torcedor” do Cruzeiro apanhado em flagrante, no Mineirão, com este terrível armamento bélico, também conhecido como Rexona. O suposto terrorista foi para as redes sociais reclamar a subtração do desodorante, que deveria ser de uso exclusivo das Forças Armadas. A partir daí, instalou-se uma extensa troca de acusações entre as partes. De um lado, o perigoso “torcedor”; de outro, as autoridades do estádio, empenhadas na guerra ao terror.

O perfil do Mineirão no Twitter já havia explicado sobre o poder incendiário daquele tipo de artefato. O Nero do Tibete Azul contrapôs: “Que inflamável o quê! É apenas um rolón”. “Rolón”, em portunhol selvagem, é isso mesmo que você está pensando. Nero postou a foto do Rexona apreendido e exigiu sua devolução. Só que a foto era de um “Rexona Women”. “Women”, em inglês, significa “mulheres”. “OK. Mas é WOMAN mesmo?”, perguntou o perfil do Mineirão. “WOMEN”, corrigiu o outro.

Agora você veja a que ponto chegou o Brasil: na sexta-feira, os administradores do Mineirão não apenas depuseram o “rolón” aos pés do suposto terrorista, como deram a ele uma caixa completa dessa poderosa arma química, praticamente um carregamento de Napalm. Daqui pra frente, ninguém mais está a salvo. É por isso que precisamos mesmo de um Alexandre de Moraes, que além de eliminar com as próprias mãos toda a maconha do continente, pode se dedicar também a exterminar frascos de Rexona.

O Brasil está tão surreal, que poderíamos continuar com as nossas fantasias depois que o Carnaval acabasse. O motorista de ônibus seguiria vestido de palhaço, a advogada apareceria no tribunal com o bumbum de fora. Eu faria entrevistas usando minha crista de Galo. Normal.

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