DA ARQUIBANCADA
E se a gente se preocupasse com futebol?
Por que o time não joga? Por que a falta de vontade? O Galo 2017 vai dar liga?
Fred Melo Paiva /Estado de Minas
postado em 08/04/2017 12:00
O futebol nunca é apenas o futebol. O Atlético, então, é muito mais do que isso: é um estado de espírito, fé na vida e faca amolada. Um jeito de estar junto e misturado contra as injustiças do mundo, uma forma ludopédica de citar o Millôr: “Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos”.
Isso tudo é verdade, e eu acredito piamente. Acontece, porém, que o Galo também é futebol e nesses últimos dias, essa parte parece negligenciada e esquecida. Tudo se discute e se celebra, menos o jogo jogado. Como ele não evoluiu a contento, tergiversamos em conversas paralelas. O Galo das últimas semanas parece o jornalista Ricardo Noblat, de O Globo, entrevistando o Temer naquele já antológico Roda viva gravado no Palácio do Planalto com jornalistas amigos do presidente. Com tanta coisa a questionar, Noblat saiu-se com esta: “Como o senhor conheceu Marcela?”. Ah, vá...
O Atlético fez três jogos importantes na temporada: contra o Godoy Cruz, na estreia da Libertadores, e os dois clássicos contra o Cruzeiro. Empatou um e perdeu dois. Foi péssimo em todos. Na Argentina e no Mineirão tomou gol antes do terceiro minuto. Faltou atenção e faltou vontade: parecia jogo de casado contra profissional – e a gente era os casados, barrigudos de chope e prontos pro infarto fulminante, caso acontecesse um trote de uma dúzia de metros.
Por que o time não joga? Por que a falta de vontade? O Galo 2017 vai dar liga? Os jogadores entendem o que pede Roger Machado? Falta um Pierre, um Leandro Donizete? O que houve com Fábio Santos? Quando o Marcos Rocha voltará a ser o Marcos Rocha? Felipe Santana merece uma sequência de jogos como titular? É possível, no futebol de hoje, montar um time com Robinho, Cazares e Fred, sendo que nenhum dos três marca ninguém? Embora há questões fundamentais, estamos no modo Noblat: “Como o senhor conheceu Marcela?”.
É importante que se comemore o aniversário do Galo do jeito que se comemorou este ano. É motivo de enorme orgulho ver que essa celebração independe de títulos – a gente comemora o simples fato de o Galo existir, e isso é de uma simbologia única para quem teve tanto campeonato roubado na mão grande e mesmo assim nunca deixou a peteca cair. Mas, findo o dia 25, o foco que deveria ser no futebol foi desviado para os desencontros entre as diretorias de Atlético e Cruzeiro nos preparativos pro clássico. Brigou-se por bandeiras, tambores e mascotes, no que o Atlético tinha toda razão. Mas dentro de campo esqueceu-se de brigar pela vitória.
Veio então a notícia de que ampliaremos o Independência com arquibancadas móveis. O América, que não gosta de arquibancada porque seu torcedor não enche uma Kombi, tenta barrar o imbarrável. Deveriam brigar pelo contrário: exigir que o Atlético não apenas ocupasse o estádio, mas que também anexasse o próprio América, oferecendo um futuro melhor àquele jovem americano (raro como uma arara-azul) que passaria a atleticano do dia pra noite. Enquanto esse assunto se desenrolava, surgiu o ranking da IFFHS, que eu sempre achei tratar-se da sigla do Instituto Fernando Henrique Cardoso. Estamos em 13º no mundo! Mas ganhar do Cruzeiro e do Godoy Cruz que é bom, nada.
Esta coluna é entregue ao jornal na tarde de sexta-feira. Não vi, portanto, o desfile de lançamento da nova camisa do Galo, hoje com mais repercussão do que a São Paulo Fashion Week. Faço votos de que tenha sido um sucesso, que as mulheres tenham sido respeitadas, que a camisa tenha os números vermelhos e que o patrocinador aceite não aparecer nela. Sobretudo, faço votos de que a gente volte a se preocupar com futebol, porque tem Libertadores na próxima quinta e campeão de desfile só acontece no carnaval.
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