Fred Melo Paiva
None

DA ARQUIBANCADA

O Galo parte pra cima - esse é o nosso DNA

Se eu fosse o Daniel, ia com Roger até o fim. Está mais do que provado que times campeões se fazem com trabalhos duradouros

postado em 22/04/2017 12:00 / atualizado em 22/04/2017 16:04

BRUNO CANTINI / ATLÉTICO
Se houver uma camisa branca e preta pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento. Deve ser por causa da frase do Roberto Drummond que a tempestade se tornou nosso arquirrival. São Pedro não gosta da gente e a gente não gosta de São Pedro, esse Judas. Contra o São Caetano (outro santo do pau oco), em 2001, foi aquilo que já sabemos. Na quarta-feira passada, atuando naquele pântano sob chuva intensa, fomos novamente vencidos. Este ano tá duro, pessoal. Pra citar a bebida típica do Paraguai, tá Drury’s. Ou calibra no gelo ou esse metanol não vai descer.

A tempestade, embora culpada, não é culpada sozinha pelo nosso fracasso. Sem querer chover no molhado, mas chuva que chove pra um chove pro outro também. Apenas o Galo, no entanto, parece ter se apropriado da máxima de Vicente Matheus, o lendário presidente do Corinthians, segundo o qual “quem tá na chuva é pra se queimar”. Não bastasse aquele empatezim safado contra a URT, voltamos a queimar o filme no Paraguai.

Libertadores não é Champions League, os cara de gel no cabelo, replay com aquelas câmeras lentas da Copa, toquinho pra lá, toquinho pra cá. Libertadores é Tropa de Choque com escudo, cachorro invadindo o campo, imagens que parecem gravadas em VHS e transmitidas por algum satélite da União Soviética, algum Lada colocado em órbita durante a Guerra Fria. Aqui é América Latina, porra! Onde os fracos não têm vez.

Não se pode dizer que não houve luta. Mas se pode dizer que deu uma saudade danada do Leandro Donizete. Donizete tinha dupla função – subia e descia o sarrafo. Por um lado, elevava o nível de raça e entrega: qualquer um que estivesse do seu lado se sentia na obrigação de dar um sanguinho ou a chinelagem poderia ficar evidente demais. Por outro, descia a lenha sem dó, fazendo jus à patente de General. A América Latina gosta de um general, né não?

Eu me lembro agora da letra de Podres Poderes: “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos?”. É, Caetano, você eu não sei, mas eu queria o General de volta. No nosso caso, eram ele e o Pierre que garantiam o Galo Doido de Cuca, herdado depois por Levir Culpi. “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, índios e padres e bichas, negros e mulheres e adolescentes fazem o carnaval”. Ou seja, enquanto Pierre e Donizete faziam o jogo sujo, nós éramos felizes e sabíamos disso.

Os tempos são outros, eu sei. Os homens passam, o Galo fica. Um elenco qualificado foi escolhido pra manter o Atlético na prateleira de onde jamais deveria ter saído, a prateleira de cima. Entre técnicos ultrapassados e novos professores (e naturalmente inexperientes), fizemos a opção pelo mais promissor deles, o Roger que montara o Grêmio campeão. Estava e está certo. Sua missão é a mais difícil: reinventar nosso estilo de jogo, que havia deixado de ser eficiente como nas gloriosas temporadas de 2012, 13 e 14.

Se eu fosse o Daniel, ia com Roger até o fim. Está mais do que provado que times campeões se fazem com trabalhos duradouros. Além disso, se o elenco não respondeu a Levir, Aguirre e Marcelo, talvez seja o caso de pensar que o problema não está no técnico de ocasião. Hoje, falta zagueiro, goleiro e camisa 10. Quem estará sobrando?

Roger tem lá suas convicções, mas faço coro à análise do amigo Eduardo Madeira, o Willy Cover: o professor deveria aliar suas verdades à história de um clube que teve, na frente, o Trio Maldito, teve Éder e Reinaldo, Sérgio Araújo e Marques, Ronaldinho, Tardelli, Bernard e Jô. O Galo parte pra cima – esse é o nosso DNA.

Amanhã contra a URT e quarta contra o Libertad, ambos os jogos no Horto, o Galo tem a chance de evoluir, ganhar confiança, sacramentar a ida à 11ª final consecutiva do Campeonato Mineiro (naming right “Libertadores do Cruzeiro”) e encaminhar a classificação na Liberta. Mais do que goleiro, zagueiro e camisa 10, essa é a hora do camisa 12. Para vaias e reclamações, o SAC só funciona depois do apito final

Tags: atleticomg