Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Um Galo sozinho não tece a manhã

Otero voltou a ser Éder Aleixo, o último a fazer um gol olímpico pelo Atlético

postado em 03/06/2017 12:00

Bruno Cantini / Atlético

Como Julian Assange, o principal porta-voz do Wikileaks, o destino me reservou o refúgio em um consulado, embora nunca tenha havido suecas na minha vida, feliz ou infelizmente. No meu caso, um consulado informal do Galo no sul da Bahia, onde a cada dez moradores 11 são atleticanos. Turistas, forasteiros, funcionários públicos lotados temporariamente no postinho de saúde: não há viv’alma que não seja Atlético.

Aqui se acorda com a sinfonia dos galos, evidentemente. “Um galo sozinho não tece uma manhã”, ensinou o poeta. “Ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito e o lance a outro; de um outro galo que apanhe esse grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.”

Alguma dúvida de que João Cabral era Galo? Todo mundo é Galo. Acordado pelo galo antes, passo os olhos nos jornais. Temer, o prevaricador, criou ministério para garantir foro privilegiado a Moreira Franco, o Angorá. Uma pesquisa mostra que, entre os mais ricos (os cidadãos de bens), 30% querem que Temer fique. Joesley, o mega-corruptor, está na capa da Exame com o título “A verdadeira história de um campeão nacional”. Meus amigos, ainda dá tempo de fugir pras montanhas.

O noticiário mostra também Mano Menezes prejudicando a Chapecoense numa cobrança de lateral. Questionado, dá de ombros na entrevista, arrogante e sem noção. Minha verdadeira solidariedade aos bons cruzeirenses que, além de aturar este ser, o Mano, são obrigados a ver no Fantástico o time do coração misturar-se aos seis da Lava Jato.

Mano, assim como Joesley, não vê nenhuma imoralidade em suas atitudes, não se vergonha, pra ele tá tranquilo. Como muitos dos brasileiros comuns pagadores de bola a guardas de trânsito, atropeladores potenciais em faixa de pedestre, moralistas sem moral. Você olha o Mano e tem uma certeza sobre a democracia: é impressionante como ela, com todas as suas imperfeições, consegue eleger políticos que, gostemos ou não, acabam por nos representar com tanta fidelidade.

Pois é, meus amigos, ainda bem que aqui é Galo. Aqui Mano não se cria, e de sua lavra apenas a Dancinha do Mano fazemos questão de copiar. Na quarta, demos um importante passo rumo à terceira versão deste hit inaugurado contra o Corinthians em 2014 e cuja segunda temporada o público pôde assistir na final do Campeonato Mineiro. Sempre tendo como maestro e primeiro bailarino nossa Santidade o São Víctor.

O Galo voltou a jogar direito contra a boa equipe do Paraná. Otero voltou a ser Éder Aleixo, o último a fazer um gol olímpico pelo Atlético, ainda nos anos 80. Cazares é Pelezares mas toda vez que a gente fala isso ele cai de produção, tomara que dessa vez ele não nos ouça.

Felipe Santana que siga queimando a nossa língua no fogo do inferno. O Fred é chefe, né, Eduardo Madeira? Porque se fosse o Mano saía comemorando. Com a Dancinha do Mano. No Brasileiro, bem... no Brasileiro tá osso. Integro orgulhosamente o Comando de Caça aos Corneteiros, mas agora resolvi dar uma queixadinha porque eu sou rapaz latino-americano que também sabe se lamentar (toca Raul!). Não tá na hora de a gente aprender que quando tá valendo, tá valendo, mas que no Brasileirão as primeiras rodadas valem os mesmos três pontos das últimas?

Amanhã tem. O Cuca não ganha da gente, o Cuca é Galo, assim como todo mundo. Foi contra o Palmeiras em São Paulo, ano passado, que a gente começou a virar o jogo, com um bonito gol do Donizete, o único General cujos golpes nos dão nostalgia. O Galo é uma pedra na chuteira do Palmeiras. Que assim seja, apesar de Marcelo de Lima Henrique, que deveria ser proibido de apitar qualquer jogo do Atlético pelo resto de sua carreira. Em todo caso, tamo junto sempre: um Galo sozinho não tece a manhã.

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