Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

A vida, João, ela sempre vence a morte

Maluf não revelava o time do coração. Mas o João é Galo, e isso deve significar alguma coisa

postado em 10/06/2017 12:00 / atualizado em 10/06/2017 08:43

Bruno Cantini/Atlético
Morreu Eduardo Maluf. Que triste notícia. Tinha apenas 61 anos. Seu filho mais novo, João, somente 9. Morre com ele uma parte dos anos de ouro do nosso Galo. Morre com ele o seu sorriso generoso. Durante o tempo em que lutou contra o câncer, o Atlético jamais cogitou substituí-lo, ainda que fosse notável o prejuízo de sua ausência – uma lição básica de humanidade, tantas vezes desprezada pelo cálculo frio dos cifrões. Fundamental em conquistas de Atlético e Cruzeiro, Maluf não revelava o time do coração. Mas o João é Galo, e isso deve significar alguma coisa.


Quando se perde um parente, um amigo – ou mesmo alguém que admiramos à distância, como era o meu caso com Maluf –, o futebol parece ainda mais desimportante do que é. Há pouco mais de uma semana, Victor falhou em duas bolas defensáveis. Fiquei me perguntando que tipo de gente é tão insensível a ponto de cobrar qualquer coisa que fosse daquele ser humano que acabara de perder o pai. O senhor José Bagy, de 75 anos, estava na UTI fazia 2 semanas.

Mas a importância do futebol, se há alguma, está justamente na sua capacidade de ser uma representação tão fiel da vida. E a vida – me disse o Chico Pinheiro numa ocasião em que eu me encontrava irremediavelmente triste por causa de política –, ela sempre vence a morte. Então, no jogo seguinte, o Victor salvou a gente. Aquele pênalti maroto era a pedra no caminho, o infortúnio da vida, a doença, a morte, os corneteiros. Willian podia repetir a cobrança até seu bigode virar a barba do Matusalém: não ia entrar nunca. Domingo passado São Victor salvou de novo. Pqp, é o melhor goleiro do Brasil! E o Galo ganhou, sofrido como convinha.

Eu também tenho um filho de 9 anos. A primeira vez que ele chorou pelo Atlético foi quando perdemos o Mineiro de 2016. Subíamos juntos por uma rua no entorno do Mineirão, ao final da decisão, e achei que deveria explicar a ele que a vida é assim: a gente perde, a gente ganha, mas só é mesmo derrotado quando desiste. Em qualquer situação, aquelas seriam palavras ao vento para uma criança. Mas ele entendeu tudo e chorou ainda mais. Choramos juntos. Ele chorava pelo Atlético – mas, mesmo que não soubesse, chorava pela vida, bela e cruel ao mesmo tempo, finita e infinita. Eu nunca vou esquecer das nossas lágrimas.

Eu não sei se o João viu o Galinho virar o jogo contra o Vasco depois de estar perdendo por 2 a 1 em São Januário numa semifinal de campeonato. Se o João viu, ele já aprendeu que é preciso seguir em frente, que é proibido desistir, e que a vida sempre vence a morte, embora pareça o contrário. O Victor, nem precisa falar: nessa matéria foi aluno e professor quando Riascos partiu pra bola. De novo, me vem à cabeça uma fotografia da arquibancada feita no momento seguinte pelo craque Gabriel Castro: um pai segura seu filho, que está em prantos. A legenda do Gabriel quando publicou a foto em seu Facebook: “Um pai ensinando seu filho a acreditar sempre”. O futebol é muito mais do que futebol, e o Galo é uma coisa do outro mundo.

Maluf deixa a mãe, a mulher e quatro filhos. O sentimento de cada atleticano a todos eles.

Ps. Obrigado, Maicosuel. Agora você é mais um entre 8 milhões de torcedores. Muita sorte na sequência de sua carreira.

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