Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Em 90 minutos tudo pode mudar

O atleticano é galo escaldado e tá preparado pra tudo nessa vida. Menos cair de novo pra Segunda Divisão

postado em 17/06/2017 12:00 / atualizado em 19/06/2017 15:28

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
O Atlético está uma draga, e nessas circunstâncias o melhor é fazer como o Reginaldo Rossi quando chamou o garçom e, de antemão, avisou: “Pra matar a tristeza, só mesa de bar. Quero tomar todas, vou me embriagar. Se eu pegar no sono, me deite no chão”. A hora é grave e exige um Nelson Gonçalves bem triste, uma Bethânia no fundo do poço, um blues. Pra ouvir sozinho, entornando o Black Label que você trouxe do jogo de ida contra o Olimpia, fumando o cigarro daquele maço abandonado em 2012, quando o Galo começou a dar certo e, então, você parou de fumar.

O Atlético está uma draga, e isso é um problema de graves consequências sociais. Um atleticano triste é mais um desempregado em potencial, já que sua cabeça não funciona a contento e sua única preocupação real é se Felipe Santana jogará a próxima. Instado pelo chefe a apresentar a nova tabela de Excel que ele tá devendo há uma semana, é capaz de levar sob as axilas a tabela do Brasileirão, a única com a qual se importa de fato.

Um atleticano triste é um novo casamento que se desfaz, uma nova família que se desestrutura – porque ninguém aguenta a companhia do atleticano triste, esse ser absorto em si mesmo, que ouve Nelson, fuma e bebe sozinho, e acorda no meio da noite achando ter visto o fantasma de Felipe Santana (foto). O Galo na zona de rebaixamento, meu raro leitor, somos nós mesmos flertando com a Série B da vida. Toc-toc-toc. Deus nos livre e guarde daquele corvo lá do Sul vindo bater de novo na porta do Valdívia. Never more, meu caro Edgar, never more.

O atleticano é galo escaldado e tá preparado pra tudo nessa vida – Temer, coentro, sertanejo universitário. Menos cair de novo pra Segunda Divisão. Deus não vai nos livrar de nada, envolvido que está em pelejas contra outros diabos. Vai ter de ser nóis com a gente mesmo. No máximo, podemos contar com São Victor, o preposto aqui embaixo do homem lá em cima.

Se é nóis com a gente mesmo, vamos começar por aceitar que todo atleticano aplaudiu cada uma das contratações feitas na montagem do atual elenco, incluindo Roger Machado. Sacanagem, agora, esse coro contra as escolhas do presidente. Engenheiro de obra pronta é a profissão mais fácil do mundo. Quero ver é erguer a viga e botar a coisa de pé. Daniel entende do riscado, já provou isso mais de uma vez em sua gestão (vide as saídas de Guilherme e Giovani Augusto, as chegadas de Cazares e Otero, entre tantos outros acertos). Se cometeu erros, quem nunca?

Felipe Santana deveria sair. Não há mais clima e, a despeito de algumas boas partidas que tenha feito, acontece com ele um fenômeno que acaba com a pretensão de qualquer defensor: ele chama o gol – o gol é amigo dele, quando deveria ser seu maior inimigo. Um zagueiro titular deveria chegar, pra ontem. E toda vez que o Carioca recuasse uma bola, a gente descontaria 1% de seu salário. Problema é que ele ia acabar em dívida com o clube, o que configuraria trabalho escravo.

O Atlético está uma draga mas não é uma draga, importante lembrar. Classificou-se em primeiro na Libertadores, com plenas condições de chegar às quartas de final. Vai vingar o Botafogo do Simon na Copa do Brasil, vai sair dessa no Brasileirão. Não há terra arrasada, e o atleticano triste não deveria contribuir pra ela. Até porque, em nossa bipolaridade, somos como o slogan daquela rádio, mais os acréscimos: em 90 minutos tudo pode mudar.

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