Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Provocação e respeito, despudor e humildade

'Nós com 10 e eles com 12, o Galo lutou bravamente. Parecia inspirado pela conquista recente do nosso Galinho, ou pela vitória dessa mesma meninada em Chapecó, no Brasileirão'

postado em 01/07/2017 12:00 / atualizado em 01/07/2017 12:03

Bruno Cantini/Atlético

O que se espera do Galo, sempre, é que jogue com a alma. O que nos orgulha, mais do que tudo, é a luta. Que assim seja até o fim dos tempos, porque a vida é assim: “Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. E dá-lhe Guimarães Rosa, ele próprio atleticano, assim como Adélia Prado! Porque a vida, se fosse fácil de viver, não tinha nada de “rasgar-se e remendar-se” – tediosa e previsível, seria tão somente uma eterna final contra o Crüzëirö.

A vitória sobre o Botafogo, na quinta-feira, teve as duas coisas: teve alma e teve luta. Jogamos como se houvesse em campo 11 Luans. E nas arquibancadas do Horto, que do alto do Aglomerado da Serra se ouve e se vê como uma silhueta de amor à luz da lua (êh, Fagner, seu golpista!), fomos mais 20 mil. 20 mil Luans! Dispostos a disputar a bola no alto com o maior homem do mundo e fazendo daquela peleja a última da vida.

Em boa parte do jogo, a bem da verdade, fomos 10. Porque o xará, juvenil, foi expulso outra vez. Diz-se que a oportunidade faz o ladrão. Ou seja: o ladrão tá ali de passagem. Se você oferece por demais a carteira, é sabido que a mão grande não vai se aguentar. É o caso de Fred e desse Dewson “assoprador de apito” (a expressão é de Juca Kfouri, que se nega a chamar de “juiz” os Gilmar Mendes da nossa arbitragem).

Dewson inverteu faltas, usou critérios diferentes para um time e para outro, sendo mais severo com o Atlético na distribuição dos cartões, inclusive os dois de Fred. Expulsou também Roger Machado, que jamais havia levado um vermelho na carreira como treinador. É tão horroroso que terminou o jogo acossado por jogadores de ambos os times, se bem que os batafoguenses, seja lá por que reclamavam, reclamavam de barriga cheia.

Não é a primeira vez que o “árbitro Fifa” prejudica o Atlético. Em sua capivara consta um lance capital para a perda do Brasileiro de 2015. Jogando no Mineirão, o Galo teve um pênalti a seu favor cometido por Erazo, então zagueiro do Grêmio. Ele tirou com a mão uma cabeçada de Leonardo Silva – lance idêntico havia gerado um pênalti para o Corinthians, adversário na briga pelo título, exatamente na rodada anterior. Dewson nada marcou, e perdemos aquele jogo por 2 a 0.

A propósito, a imprensa esportiva devia parar de falar em “árbitro Fifa” como garantia de qualidade ou isenção. Fica parecendo que a Fifa não é o que de fato é, antes uma quadrilha internacional do que qualquer outra coisa. Pensando bem, Dewson merece mesmo ser um árbitro Fifa.

Nós com 10 e eles com 12, o Galo lutou bravamente. Parecia inspirado pela conquista recente do nosso Galinho, ou pela vitória dessa mesma meninada em Chapecó, no Brasileirão. A Massa foi a velha Massa, insana camisa 12, dessa vez vestindo a 11 de Éder Aleixo. Deus queira que a atitude seja a mesma na semana decisiva que se avizinha: amanhã tem o clássico João e Crüzëirö, quarta-feira tem o primeiro jogo das quartas de final da Libertadores, contra o Jorge Wilstermann, no Bolívia.

Na quarta passada, a atleticana Adélia Prado, de 81 anos, recebeu o Galo de Prata na sede de Lourdes. Fui convidado a fazer a saudação à grande poeta, uma honra. Nas palavras do também poeta e editor Augusto Massi, a poesia de Adélia junta “provocação e respeito, despudor e humildade”. Que assim seja o nosso Galo, amanhã e quarta-feira: com respeito e humildade, mas provocativo e despudorado. O resto é luta. E alma.

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