Fred Melo Paiva
None

DA ARQUIBANCADA

Sobre a inveja, o Galo e o Botafogo

Com raça e amor, sabedoria e paciência, o Atlético ainda pode fazer inveja em muita gente neste estranho 2017

postado em 08/07/2017 12:00 / atualizado em 08/07/2017 15:29

Bruno Cantini/Atlético
Que ninguém nos ouça: tá dando uma inveja desse Botafogo, tá não? O time da estrela solitária não tem sequer uma estrela solitária – mas com os Pimpões da vida, notáveis anônimos, vai deixando pelo caminho os maiores campeões da América. Com sofrimento, que é como a gente gosta. Com seu torcedor fingindo que trabalha enquanto pensa no Botafogo, assim como o atleticano já fez até sexo pensando em Atlético.


Como aconteceu com o Galo em 2013, a Libertadores parece desenhada para o triunfo desse improvável Botafogo. Falta alguma coisa: um pênalti aos 48, uma canhota de Deus. Ou Ele, Deus, desligando o disjuntor até que as forças transcendentais se reorganizassem – e o universo pudesse enfim conspirar a todo vapor, como se fosse o Temer com a Dilma. Se acontecer algo desse tipo, pode entregar a taça.

O azar, a ver, é que aconteceu justamente o contrário: aquele bloqueio de vôlei dentro na área, cometido por um meio de rede botafoguense, foi de uma obscenidade poucas vezes vista. Não era o Simon no apito, era? O juiz não deu o pênalti. Mas, ainda que ateu, alerto meu sobrinho de Araxá, botafoguense de costado único: torça pra Deus não ter visto o jogo, ou haverá punição no STJD, o Superior Tribunal da Justiça Divina. Mesmo “roubado”, foi com muita raça e amor. Como diz o nosso hino. E aí, me parece, reside toda a fonte da nossa inveja: raça e amor é tudo que parece nos faltar nos últimos tempos. E é tudo de que sempre precisamos pra nutrir esse nosso espírito de Galo doido. Nunca foram as taças, que cansamos de ganhar. Nunca foram os craques, que possuímos em abundância, ontem e hoje. O que nos move é o compromisso com a raça, e o amor a essa camisa que é a nossa segunda pele, nosso jeito de ser no mundo, muito além do futebol.

Contra o Crüzëirö, domingo passado, foi com muita raça e amor. Houve até o momento em que Deus, de novo Ele, desligou o disjuntor. Como se nos lembrasse, mais uma vez, de tudo o que somos capazes. Máfia Azul parou pra ver: as luzes no crepúsculo do Horto, mas sobretudo a energia que emana do atleticano quando ele abraça o time – coitado do carnaval na Sapucaí perto da gente. O atleticano em conluio com o seu Galo é o maior espetáculo da Terra.

Você, raro leitor, sabe que eu sou mais afeito a essas magias da atleticanidade do que aos esquemas táticos e tal. Às vezes, pareço o Roberto Carlos (o cantor, não o lateral), de quem sou inclusive acusado de ser sósia, a despeito daqueles mullets tenebrosos. Por falar tanto de amor, RC foi certa vez questionado se não conhecia outras vísceras além do coração. É mais ou menos o meu caso quando trato de Atlético: só me importa átrios e ventrículos, nada mais.

Mesmo tendo eu essa face e essa faceta do Roberto Carlos (Rei é só o Reinaldo), permito-me a reflexão desapaixonada, óbvia e ululante: se há raça e amor quando o time está descansado, como foi contra Cruzeiro e Botafogo, então talvez não seja questão de raça nem de amor, mas apenas de descanso. Que o Roger tenha a sapiência de poupar na hora certa, senão, meu querido Caixa, os veinho num vão guentá.

Amanhã temos pela frente o Botafogo, adversário também na Copa do Brasil. Como informado nos para-choques de caminhão, a inveja é uma merda (um Cruzeiro, bem disse Riascos). De modo que o negócio é parar de olhar a grama do vizinho e nos concentrarmos em desbastar o mato que cresceu no nosso lote. Com raça e amor, sabedoria e paciência, o Atlético ainda pode fazer inveja em muita gente neste estranho 2017.

PS.: O Botafogo está tão por cima da carne seca, que até Rodrigo Maia vai acabar presidente. O codinome de Rodrigo Maia nas planilhas da Odebrecht é Botafogo.

Tags: atleticomg