Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

É Deus no comando

E se a gente cai pra série B e ganha a Libertadores, você sabe que não seria nenhum absurdo, nenhum milagre. Seria o mais puro Atlético Mineiro

postado em 05/08/2017 12:00

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
São Victor que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso treino – pra que a gente possa ter a certeza de que não é por falta dele que a bola tem insistido sempre em morrer lá dentro. Perdoai as ofensas dos Cornetas na Veia, mas não nos deixe cair em tentação. Livrai-nos do mal, São Victor, porque o Galo de 2017 tem a cara do Internacional de 2016, tem o rabo do Internacional de 2016, tem as patas do Internacional de 2016. Mas não é e nunca será o Internacional de 2016. Porque foi Deus, ou quase Ele, quem falou: “Aqui é Galo, porra”. E se São Victor é por nós, quem será contra nós?

Ave, Leonardo Silva (foto), você que fez o pênalti no Riascos, ajoelhou-se diante do juiz e clamou pelo perdão que não veio. Naqueles longos dois minutos entre a sua botinada e a botinada de São Victor, travou-se a peleja entre o céu e o inferno. Você viu cair as máscaras. Você estava morto, Leo. Mas ressuscitou naquela perna de esquerda, ergueu de novo os joelhos, levantou-se, virou um gigante, o maior da história – maior que Luizinho, maior que Osmar Guarnelli. Como Jesus, você aprendeu que a vida sempre vence a morte. Agora, Leo, salve pelo amor de Deus o Clube Atlético Mineiro.

Salve, Marcos Rocha! Você não é Rocha por acaso, como há tantos Silvas, tantos Melos e tantos Paivas. Você é Rocha porque seu avô era Rocha, e ele te ensinou a torcer pro Galo no radinho de pilha. Ele morreu e você decidiu homenageá-lo – botar o Rocha nas costas da camisa. A camisa do Galo! Marcos Rocha, você que é a gente da arquibancada dentro do campo, você que é rocha: jogai por nós.

Fred, xará, jogai por nós e pelo seu Juá, lá de Teófilo Otoni – seu pai, assim como nosotros, não aguenta mais sofrer tudo de novo. Livrai o seu Juá, Fred, do infarto e do desgosto. Rafael Moura, jogai por nós e por você mesmo, atleticano até a morte e depois de morto. Fala com o Carioca. Explica pro Elias que o Galo não é só um time de futebol. Fred, fala pro Robinho: “Não fode o seu Juá, pelo amor de Deus”.

Benditos sejam os teólogos da libertação, o Leonardo Boff, o Frei Betto, que é amigo do Reinaldo e cujos livros de seu pai ensinaram o Rei a levantar o punho cerrado. Benditos sejam os que fizeram a opção pelos pobres no jogo contra o Corinthians. 45 mil devotos! A festa é a vingança do pobre: só o pobre sabe fazer festa de verdade. Pode contratar o melhor bufê do mundo pra recepção do seu casamento no Copacabana Palace – ela nunca chegará à sandália de dedo de uma roda de samba em Madureira, esquece.

Time de preto, de favelado, mas quando joga o Mineirão fica lotado! Bendita seja a Massa atleticana, lição de democracia nesse mundão dos coronéis. Bendita seja a Galoucura! Bendito seja o lema da Dragões da FAO: “Galo, Filosofia Máxima de um Povo”. Bendito seja o povão que fez dessa arena brega o velho estádio dos anos 70, 80, 90 – quando o amor ainda não rimava com o sócio-torcedor. E amava-se mesmo era na vascaína.

Levante suas mãos para o céu, e agradeça se acaso o Galo não cair. Mas saiba você que já estaremos caídos se a gente ficar fora da Libertadores do ano que vem. As contas não fecharão. Contaram com esse ovo na bunda da galinha, e agora não há ovo nem há galinha. E o Galo, o que fizeram com ele? Malditos sejam os jornalistas que criticam, Leonardo Bertozzi, Mário Marra, os Munaier, este que vos escreve. Hereges! Falsos atleticanos! Queimemos na fogueira seus livros da Libertadores!

Pela estabilidade econômica, por Deus e pela família. Siiiiiiiiimmm!!! A hora é de apoiar, ou a vaca que já foi pro brejo acaba de afundar-se nele. A vaca preta e branca, a vaca do Pink Floyd.

Ave, Maria cheia de graça – fica na sua, porque não tamo lá muito diferente. E se a gente cai pra série B e ganha a Libertadores, você sabe que não seria nenhum absurdo, nenhum milagre. Seria o mais puro Atlético Mineiro. Que assim não seja. Que assim seja.

Amém.

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