Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Socorro! Me tirem essa camisa do Flamengo

Rachei o bico quando minha mãe me enviou a imagem

postado em 09/09/2017 12:00

Reprodução
Circula na internet uma montagem feita por crüzëirënsës em que este escriba aparece ladeado por Alexandre Kalil, Daniel Nepomuceno, Luan e Robinho, entre outros – todos trajando camisas do Flamengo e aparentemente concentrados para assistir à decisão da Copa do Brasil. Acima, a frase explicativa: “Galinheiro preparado para secar o maior de MG”.

Rachei o bico quando minha mãe me enviou a imagem: homenagens involuntárias são as melhores que se recebem em vida, e esta é um recibo de que eu sou de fato um especialista em encher o saco de crüzëirënsë. Ave, Maria, obrigado! Talvez coloque num quadrinho e pendure na parede ao lado da medalha da Copa do Brasil de 2014 – assim como fez o Kalil com a foto de uma faixa em sua homenagem na torcida do Crüzëirö: “Kalil, vai tomar no c.”. Ficava pendurada na sala da diretoria de sua empresa, eu vi. 

O “maior de MG” rodou a roleta do Mineirão cerca de dois milhões de vezes menos que o Atlético desde a inauguração do estádio. O “maior de MG” sempre foi coadjuvante em termos de torcida, enquanto os atleticanos foram os mais presentes em nove edições do Brasileirão. O “maior de MG” era o terceiro time de Minas até os anos 60, e seu torcedor nem sequer sabe a data de sua fundação – o “maior de MG”, a bem da verdade, é um São Caetano que deu certo. 

O “maior de MG” tem cerca de um milhão de torcedores a menos, segundo todas as pesquisas recentes. O “maior de MG” tem sede em Belo Horizonte, onde o presidente do Atlético foi escolhido prefeito depois de superar o goleiro do Atlético no segundo turno. O “maior de MG” recebe menos dinheiro do patrocinador e do fornecedor de uniformes do que recebe o Atlético, um mistério do marketing e do capitalismo. O “maior de MG” é obviamente uma fraude, assim como o “time do povo”. Mas não é este o equívoco maior no meme mencionado acima. O problema é o crüzëirënsë achar que eu prefiro ver o Flamengo campeão. Sem querer diminuir a autoestima de ninguém, mas já diminuindo, afirmo com todas as letras: meu arquirrival é o Flamengo, e não o Crüzëirö.

Por motivo muito simples: o primeiro, em parceria com a Globo e a Ditadura, roubou o Atlético descaradamente e merece minha eterna ojeriza; o segundo é freguês histórico, cliente Prime, VIP e Personnalité, o que acaba por ensejar sentimentos mais nobres do que a repulsa e a antipatia. Ademais, vivo fora de BH há 21 anos, e simplesmente não existe crüzëirënsë nesse Brasilzão. Por outro lado, onde quer que você vá, do Rio Grande do Sul ao Maranhão, da Sibéria à Patagônia, haverá sempre um atleticano e um flamenguista, prontos pra chegar às vias de fato.

De modo que eu gostei da homenagem, mas, socorro!, me tirem essa camisa do Flamengo. Cubram com um pano de chão, ou me deixem pelado e com peitos de silicone, vocês que sabem. Mas vestido de Flamengo não será possível fazer o quadrinho e botar na parede.

Considerem este meu pleito, amigos crüzëirënsës. Afinal, ao encher o saco de vocês, tenho feito importante papel no sentido de elevá-los à condição de verdadeiros rivais. E se grafo Crüzëirö e crüzëirënsë com os tremas advindos da tremedeira, saibam que isso não é obra minha – é culpa do desgraçado do corretor automático, que só diz verdades.

Apenas um toque: o Flamengo sempre joga com 12, só ganha roubado. Então, cuidado pra não ficar nessa beijação de mascote, e a raposona terminar levando chifre de urubu. Quem avisa amigo é: e assim será, uma pena.

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