Fred Melo Paiva
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DA ARQUIBANCADA

Uma história de amor e de dor, de sonho e resistência

O momento é grave. Ou abraçamos o nosso Galo, com toda nossa raça pra vencer, fazendo ressurgir a fortaleza da nossa arquibancada, ou tamo é lascado

postado em 30/09/2017 12:15

Bruno Cantini/Atlético


Em duas semanas de férias deste escriba, o Galo perdeu mais uma em casa em atuação tenebrosa. Assim como se troca de roupa, tratamos de nos despir de Rogério Micale, aquele que tinha acabado de subir à passarela, verdade que tropeçando como uma Gisele Bündchen que tivesse enchido os cornos de cachaça. Não posso garantir que o novo style tenha sobrevivido ao rala e rola desta última madrugada, mas, até o fechamento desta edição, estávamos vestidos com a coleção primavera-verão de Oswaldo de Oliveira.

A três pontos da zona de rebaixamento, sugiro ao atleticano agarrar-se àquilo que estiver à mão: macumba, vodu, pacto com o demônio, sacrifício de animais, a quitação integral e antecipada do dízimo referente ao exercício de 2018. Ateus podem fazer como eu, que terceirizei os serviços recorrendo à minha mãe, devota de Santa Rita, assim como Alexandre Kalil.

Quando aqui neste espaço comparei Daniel Nepomuceno a Dilma Rousseff, sugerindo que tanto Kalil como Lula não tinham feito a melhor escolha de suas vidas ao indicar seus sucessores, fui acusado pela direção do clube de ser “covarde” e “aproveitador”, entre outros predicados impublicáveis remetidos a mim em mensagens privadas. Devo humildemente pedir sinceras desculpas – no caso, à presidente Dilma.

Vendo o general Mourão sugerir uma intervenção militar (vulgo ditadura) capaz de botar ordem no puteiro, eu mesmo comecei a me assanhar: e se tomássemos a sede de Lourdes e a Prefeitura de Belo Horizonte, obrigando o Kalil a voltar?. Mandaríamos o Yago pro exílio. Levaríamos os jogos para o Mineirão e abriríamos os portões para o povo, que botaria fogo no time assim como os franceses fizeram com a Bastilha. O primeiro a vaiar vai pro pau de arara. O segundo leva choque.

Agora falando sério, já dizia o Chico Buarque: desgraça de atleticano nunca é pouca, isso já sabemos desde 1977, quando a Ditadura impediu Reinaldo de jogar a final porque ele insistia em erguer o punho cerrado contra a tirania dos generais. Ainda assim, quem, na sua perfeita faculdade mental, poderia imaginar o Atlético na situação em que se encontra e o Crüzëirö campeão do Brasil?

Separemos as coisas: deixemos o Crüzëirö pra lá, até porque nosso rival é mesmo o Flamengo e o freguês tem sempre razão. Ademais, segundo o que foi revelado pelo goleiro do Crüzëirö, Deus não faz outra coisa a não ser trabalhar no projeto Fábio de Costas. Desde antes de seu nascimento! Vamos ficar brigando com Deus? Eu apenas esperava que Ele tivesse propósitos maiores, como a Guerra na Síria, a fome, a doença. Mas, se escolheu preocupar-se exclusivamente com a carreira de Fábio de Costas, fazer o quê a não ser largar pra lá?

A história do Atlético sempre foi uma história de amor e de dor, de sonho e resistência. Disso advém esse sentimento que a gente não consegue explicar, e que nos acostumamos a chamar de “atleticanidade”. Não é verdade que o Crüzëirö tenha mais títulos que o Atlético. E ainda que tivesse, suas cinco Copas do Brasil somadas não valem metade da nossa. Aquilo foi muito mais do que um título, muito mais do que futebol.

“O Atlético é time de honra”, diz o Kalil em filme sobre a história do Galo a ser lançado em breve. É em nome dessa honra que o atleticano precisa, agora, resistir. Lutar, lutar, lutar. O momento é grave. Ou abraçamos o nosso Galo, com toda nossa raça pra vencer, fazendo ressurgir a fortaleza da nossa arquibancada, ou tamo é lascado.

PS: parabéns a todos os atleticanos que trabalharam pela aprovação da Arena MRV, que deveria se chamar Terreiro MRV. Arena é partido da Ditadura, como bem lembrou o Chico Pinheiro. É termo que, desde a Copa, se consagrou como o estádio com banheiro de mármore, onde o pobre não tem vez. O Galo é a seleção do povo, e canta mesmo é no terreiro.

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