Com as exceções de sempre, o Atlético de hoje é majoritariamente formado por jogadores sem nenhum compromisso com a camisa que vestem e nenhum respeito ao torcedor que lhes paga o salário. A cada nova derrota, suas entrevistas são mais desavergonhadas. Não há indignação, nem se dão ao trabalho de pelo menos fingi-la. Chegamos a um ponto em que, apesar do flagrante das câmeras de TV, reservas riam com os adversários no final do jogo contra a Chapecoense. Derrotados ridiculamente, apertaram o botão do foda-se.
Em 2005, o Atlético se safou do rebaixamento moral, que via de regra antecede o rebaixamento propriamente dito. Medalhões foram barrados, e os meninos da base transformaram a queda iminente numa batalha épica, disputada com o coração e o bico da chuteira – infelizmente interrompida naquele empate desgraçado, em casa, contra o Vasco de Romário. No final do jogo, 60 mil cantaram o hino do Galo, numa das cenas mais bonitas da nossa história. A gente tinha caído, mas tinha caído de pé – e tudo o que veio depois, dos sucessivos recordes de público na temporada seguinte até a conquista da Libertadores sete anos depois, tudo tem a ver com o fato de que, moralmente, jamais caímos.
Em 2017, o rebaixamento moral já aconteceu. Começa com a soberba de dirigentes e jogadores, que, mais do que se achar, têm-se certeza. Passa pelo desrespeito com uma fila de técnicos demitidos – alguns deles em ocasiões bizarras, como no intervalo entre os dois jogos de uma decisão, caso de Marcelo Oliveira, ou depois de classificar o time em primeiro lugar geral na fase de grupos da Libertadores, como fez Roger Machado.
Nosso rebaixamento moral passa também pela não aceitação da crítica e pela represália àqueles que têm por dever de ofício justamente a crítica. Termina com a pergunta escrota de Robinho (foto) – “Jogou onde? Jogou onde?” – direcionada a um jogador humilde de um time pequeno. Impressionante como aprendemos tão rápido a chafurdar a lama, a exemplo do Inter de 2016. Ainda bem que a mediocridade alheia tá aí pra nos salvar do pior.
Amanhã tem Atlético e Crüzëirö, o clássico mundialmente conhecido como João e Maria, mas que deve ser renomeado para João e Crüzëirö em razão da justa reivindicação das feministas, que veem no termo “Maria” uma representação pejorativa da mulher, o que de fato é. Fora as muitas Marias atleticanas, como minha tia Maria Luzia, que se sente excluída.
Um clássico João e Crüzëirö (esses tremas são coisa do meu corretor ortográfico, não adianta desativá-las, eles sempre voltam) é em geral uma incrível oportunidade pra virar o jogo. Mas é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre, já ensinou o querido Milton Nascimento, um crüzëirënsë daqueles – daqueles que não sabem citar dois jogadores do time, valendo qualquer um em qualquer época. Temos o reforço da ausência de Elias. Mas se não for com raça, se não for com gana, pode preparar o lombo. Se ganhar, o Galo se safa e, nessa terra de cego, pode até beliscar uma Libertadores (não é milagre, é Atlético Mineiro). Se perder, será um deus nos acuda.