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BOLA MUNDI

O futebol perdeu a noção do mundo real

É do conhecimento de todos que o futebol é um esporte que movimenta bilhões de euros anualmente, mas a coisa está tomando proporções perigosas

postado em 17/08/2017 12:00

AFP

Aberta até 31 de agosto, a janela de transferências segue a todo vapor na Europa. Após os inimagináveis 220 milhões de euros (cerca de R$ 820 milhões) pagos pelo PSG por Neymar, o mercado segue tendência preocupante. Mesmo distantes do valor pago pelos franceses pelo atacante brasuca, as últimas especulações também impressionam. E, em especial, vinda de dois clubes: Barcelona e Manchester City. Ainda em busca do substituto de Neymar, o Barça estaria disposto a torrar de uma só vez toda a grana que recebeu, investindo 130 milhões de euros na joia francesa Dembélé, do Borussia Dortmund, e 110 milhões no brasileiro Philippe Coutinho, do Liverpool.  Caso sejam concretizadas, entrariam para o Top 3 das transações mais caras da história, ultrapassando os 105 milhões que o Manchester United desembolsou pelo francês Pogba em 2016 e os 100 milhões que o Real pagou pelo galês Gareth Bale em 2013. Já o City tem na mesa uma proposta de 66 milhões de euros pelo chileno Alexis Sánchez, do Arsenal. Nada contra o atacante chileno, mas chega a ser um absurdo.

E o pior é que, em relação ao City, não se trata apenas de um caso isolado. Só neste ano, o clube gastou quase 300 milhões de euros para contratar sete reforços: o goleiro Éderson (40 milhões), os laterais Walker (52), Mendy (58) e Danilo (30), o zagueiro Stones (56), o meia Douglas (12) e o atacante Bernardo Silva (50). Somado com os investimentos feitos na temporada anterior – Bravo (18), Mangala (31), Sane (50), Sterling (62), Touré (30), Gundogan (27), Gabriel Jesus (32) e Otamendi (45) –, a conta ultrapassa a casa dos 530 milhões de euros. Para se ter uma ideia do que isso representa, basta dizer que na última lista publicada pelas Nações Unidas, nada menos do que 12 nações tinham Produto Interno Bruto nominal (PIB) inferior a 530 milhões de euros: Dominica, Tonga, São Tomé e Príncipe, Estados Federados da Micronésia, Ilhas Cook, Anguilla, Palau, Ilhas Marshall, Nauru, Kiribati, Montserrat e Tuvalu.

É do conhecimento de todos que o futebol é um esporte que movimenta bilhões de euros anualmente, mas a coisa está tomando proporções perigosas. Até quem está envolvido nesta bola de neve já deu sinal de alerta: “Nestes últimos anos, o mercado disparou. O que está acontecendo é insustentável. Tem que acabar”, afirmou o espanhol Pep Guardiola, técnico do... Manchester City! Será que ele aderiu à onda do “ouça o que eu digo, mas não faça o que eu faço?”. E para não parecer perseguição ao time inglês, há uma lista de outros abusos só de 2017: Manchester United desembolsando 85 milhões de euros pelo belga Lukaku (6ª maior contratação da história, à frente até de Cristiano Ronaldo); os chineses do Shangai gastando 70,4 milhões de euros no brasileiro Oscar (aquele mesmo da Copa 2014!); o Real Madrid aplicando 46 milhões de euros no garoto Vinícius Jr, que ainda dá os primeiros passos no Flamengo; o Liverpool queimando 42 milhões de euros no egípcio Mohamed Salah e – de novo – o Barcelona, que bancou 40 milhões de euros pra trazer o volante brasileiro Paulinho, revoltando sua torcida...

Na minha infância, uma série de tevê norte-americana chamada O homem de seis milhões de dólares, com a história de um astronauta ‘semi-morto’ que foi ‘reconstruído’ de forma biônica pelo governo dos EUA com a grana citada no título, fazia maior sucesso por aqui, até mesmo pela cifra então considerada astronômica. Hoje, no mundo da bola, isso é fichinha. Qualquer um que saiba dominar a bola e fazer umas embaixadinhas parece já valer mais do que isso...


Ela dá as cartas

Em um ambiente extremamente machista como o do futebol, Corinne Diacre segue quebrando barreiras e fazendo história como técnica do Clermont, na Segunda Divisão da França. Primeira mulher a treinar um clube que disputa as principais ligas europeias, a ex-zagueira de 43 anos (121 jogos pela Seleção de 1993 a 2005), já completou três anos à frente da equipe. E se os resultados inicias foram considerados bons para um time que nunca esteve na elite (7º lugar na temporada 2015/2016), neste ano o início tem sido animador. Após três rodadas, o time ocupa a 5ª colocação na classificação e está invicto: uma vitória em casa e dois empates como visitante. Amanhã, recebe o Lorient e, apoiado pela torcida, terá a chance de subir ainda mais na tabela. Com retrospecto de 50 vitórias, 39 empates e 44 derrotas no comando do clube e contrato até 2018, Corinne se transformará em um ‘mito’ para os torcedores locais se conseguir a façanha de levar o pequeno time à Primeira Divisão.


Sopa de letrinhas

Qarabag, Astana, Maribor, HNK Rijeka, Hapoel Be’er Sheva... para quem tem o costume de acompanhar só as principais ligas europeias de futebol, estes nomes soam praticamente como desconhecidos. Mas tais equipes (representantes de Azerbaijão, Cazaquistão, Eslovênia, Croácia e Israel, respectivamente) estão a poucos passos do maior campeonato do continente: a Liga dos Campeões. É fato que alguns devem ficar pelo caminho no playoff final que antecede a fase inicial da competição, mas ao menos um estará entre os gigantes como Real Madrid, Barcelona, Chelsea, Juventus, PSG, Bayern, entre outros: Maribor e Hapoel Be’er Sheva se enfrentam em um dos mata-matas. Aos demais, a parada será mais complicada: o Qarabag encara o Copenhagen, da Dinamarca; o Astana enfrenta o Celtic, da Escócia; e o HNK Rijeka mede forças com o Olympiacos, da Grécia.


Quem?

Um dos destaques dos jogos de ida dos playoffs da Liga dos Campeões da Europa foi Igor de Camargo, autor de um dos gols da vitória do Apoel, do Chipre, sobre o Slavia Praga, da República Tcheca. Nascido no interior de São Paulo, o atacante é um ilustre desconhecido por aqui. Afinal, fez praticamente toda sua carreira no exterior. Após atuar nas categorias de base do hoje licenciado Estrela, de Porto Feliz, ele foi para a Europa tentar a sorte quando tinha 17 anos. E encontrou seu destino na Bélgica. Entre outras equipes menores, defendeu Genk e Brussels, mas ganhou destaque no Standard de Liége, onde marcou muitos gols e foi bicampeão nacional. Acabou se naturalizando belga e chegou a defender a seleção do país (quatro amistosos, três jogos das Eliminatórias da Copa’2010 e dois das Eliminatórias da Euro’2012). Ainda passou por clubes alemães (Borussia Monchengladbach e Hoffeinheim) antes de chegar ao Chipre. Aos 34 anos, nem pensa em aposentadoria. Garante ter ainda muita lenha para queimar...

De olho
Alban Lafont

No domingo, Neymar fará, diante do Toulouse, seu primeiro jogo em casa com a camisa do PSG. E terá pela frente um garoto prodígio: Alban Lafont (foto), goleiro de apenas 18 anos. Nascido em 23 de janeiro de 1999 em Ouagadougou, em Burkina Faso, Lafont foi descoberto por um olheiro quando atuava no time de sua cidade natal e levado para a França com apenas 9 anos para defender o pequeno Latoisse. Destacou-se e em 2014 se transferiu para o Toulouse. No ano seguinte, assinou seu primeiro contrato como profissional. Naturalizou-se francês e passou a defender os Bleus desde a categoria Sub-15. Com 16 anos já teve a primeira oportunidade como titular do Toulouse, não decepcionou e logo se firmou. Com 1,93m de altura, boa saída de gol e seguro com os pés, Lafont, que já disputou 60 partidas pelo clube e teve contrato renovado até 2020, viverá no domingo sua maior prova de fogo na meteórica carreira.