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COLUNA DA ARQUIBANCADA

Futebol feminino e suas Marias

A criação de um time feminino de futebol será apenas mais um detalhe, e tenho certeza de que faremos isso com a maior competência

postado em 15/02/2017 12:00 / atualizado em 15/02/2017 09:24

A CBF formalizou o licenciamento de clubes para o futebol brasileiro. Agora, as regras são mais rígidas, com maior controle financeiro, padrões de funcionamento, incentivos para as categorias de base e a obrigação de ter um time feminino de futebol.

O nosso time do coração já incentiva outras modalidades de esporte, e temos muita competência nisso.  Temos o departamento de atletismo com os corredores participando e ganhando competições pelo Brasil e fora dele. O vôlei tricampeão mundial não precisa de muitas explicações. A criação de um time feminino de futebol será apenas mais um detalhe, e tenho certeza de que faremos isso com a maior competência. O movimento para desenvolver o futebol feminino não é só da CBF – a Conmebol também está incentivando os times a ter sua equipe feminina. Acho uma ótima iniciativa. Mas agora quero ver como a turma do outro lado da lagoa vai fazer pra torcer pelo seu time feminino de futebol . Pra começar, nenhuma atleta poderá se chamar Maria. Será que a camisa delas terá pelo menos algum detalhe da cor rosa? Poderia fazer uma pequena lista deste perfil preconceituoso que já vem desde a camisa amarela do Raul e seu apelido de Wanderléia.

Atualmente, uma discussão entre torcedores dos dois times quase sempre acaba com a seguinte frase por parte deles: “O Cruzeiro ganha títulos, mas vocês são ‘tudo’ maria”. Usar de tal artifício não é novo na história da humanidade. Você questionar a sexualidade do adversário nada mais é do que apelar pela falta de argumentos. Ainda temos no mundo muitos exemplos do uso deste tipo de preconceito com relação a mulheres, gêneros e etnias.

Mas quem realmente são as Marias? Há um livro chamado Freakonomics que, num de seus capítulos, traça uma teoria sobre como alguns nomes mudam de classes sociais ao longo do tempo, somem e após algumas gerações voltam novamente a ter relevância. Se formos levar ao pé da letra, de acordo com dados do IBGE de 2016, já começamos com quase 12 milhões de torcedores que foram registrados com esse nome tão carinhoso. Eu, por exemplo, tenho quatro tias: Maria Helena, Maria de Lourdes, Ana Maria e simplesmente Maria, todas torcedoras do time de Vespasiano. Vou avisá-las de que terão que mudar de time.

Confesso que cansa escutar tantas piadas que fogem de parâmetros futebolísticos, mas não há o que fazer. O problema não é nosso,  o apelo por maior virilidade é, na verdade, uma dificuldade que eles têm.

Se teremos um time feminino, que ele seja cheio de Marias e ganhem muitos títulos. Pelo Ibope, a China Azul tem 51% de seus torcedores do sexo feminino.  Só posso agradecer e dizer que todas as Marias são extremamente bem-vindas à torcida azul-celeste. Afinal de contas, somos especializados em ganhar títulos, independentemente de onde eles venham.

Tags: cruzeiroec