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COLUNA DO JAECI

Nepomuceno terá conversa com Levir

Creio que, com a limpeza que, parece, o futebol mundial e brasileiro vão sofrer, por causa dos escândalos recentes, passou da hora de presidentes de clubes se unirem

postado em 17/06/2015 12:00 / atualizado em 17/06/2015 08:27

EM DA PRESS
Conversei na manhã de ontem com o presidente do Atlético, Daniel Nepomuceno. Ele foi categórico ao dizer que Levir Culpi surtou ao falar em três meses de salários atrasados. O dirigente me garantiu que são dois meses de direitos de imagem atrasados para alguns jogadores, porque a conta do cartão de crédito que arrecada o dinheiro dos ingressos foi bloqueada pelo mesmo juiz que bloqueou o dinheiro do clube há algum tempo. Mas informou que já entrou com recurso na Justiça, ganhou em primeira instância, e a verba deverá ser liberada ainda esta semana. Comentou ainda que poderia tirar o montante de outra conta, mas aí perderia muitos juros que ele poderia render. Por isso, explicou aos atletas a situação. Vale lembrar que a maioria recebe 60% dos salários na carteira e 40% de direitos de imagem fora dela. Curiosamente, o técnico é dos poucos que têm apenas 10% dis direitos na carteira.

Nepomuceno tem procurado conduzir o Galo com mão de ferro, visando ao título brasileiro. Constatei que ele também anda chateado com a exposição da defesa alvinegra. E terá uma conversa com Levir para entender por que ele joga com apenas um volante, abrindo mão de Leandro Donizete, que sempre foi um cão de guarda à frente do setor. Já disse que acho o treinador um dos melhores e mais corretos do país, mas, quando cisma com uma coisa, é impressionante. E vou além: se enfrentar o Flamengo com esse esquema, voltará do Rio com mais uma derrota na bagagem, embora o time rubro-negro seja dos piores que já vi. Aliás, a cada ano piora mais. Uma hora, cai.

A questão salarial é muito complicada. Os clubes inflacionam a folha de pagamento, na tentativa de formar time para ser campeão, e acabam não tendo dinheiro para quitar o compromisso, virando uma bola de neve. Não importa se fulano ou beltrano ganha 90% de direito de imagem e apenas 10% na carteira. No fundo, é tudo salário e vai sair da mesma fonte pagadora. O que é preciso, mesmo, é reduzir drasticamente os vencimentos de técnicos e jogadores, encarar a realidade e a crise no país. Este está quebrado, e não adianta o futebol pretender ser um mundo à parte. Vai sentir também. O torcedor não tem dinheiro para ir ao campo, e com isso as receitas diminuem. A maioria dos clubes do Brasil deve a atletas e treinadores. As exceções são Palmeiras, Inter, Flamengo e Cruzeiro.

Levir deu ótima sugestão em entrevista ao EM de domingo. Nela, disse que um técnico não pode ganhar mais do que um professor. Concordo plenamente. Um professor em Minas Gerais tem piso de R$ 1,4 mil, uma miséria para quem tem a função de educar e servir também como pai ou mãe. Pelo menos na minha época, era assim. Estudei na Escola Estadual Floriano Peixoto, no primário, na Praça Argentina, em São Cristóvão, no Rio. As escolas públicas eram, então, maravilhosas, com professores bem remunerados e educação em alta. Hoje os salários foram reduzidos a essa miséria, o nível do ensino caiu de forma assustadora e professores são até agredidos e ameaçados por alunos – ou melhor, por bandidos, pois um aluno do bem jamais agrediria seu mestre.

Adorei a ideia de Levir. Que tal ele abrir mão dos R$ 400 mil mensais e passar a receber R$ 1.400? Em reportagem no Alterosa no ataque, mostramos que, com o que ele ganha por mês, dá para pagar 300 professores. Viram que absurdo os salários de um técnico no Brasil?

Creio que, com a limpeza que, parece, o futebol mundial e brasileiro vão sofrer, por causa dos escândalos recentes, passou da hora de presidentes de clubes se unirem e fixarem um piso nacional para treinadores. Quem não quiser que vá procurar emprego na Europa, onde, aliás, brasileiro não tem vez. Talvez na China, no mundo árabe ou aqui na América do Sul. A Europa não aceita enganador nem marqueteiro. O mesmo digo para os salários de jogadores. Tem gente repatriada do continente europeu ganhando mais do que lá. É mesmo o fim. Os dirigentes têm a faca e o queijo nas mãos para reduzir salários de técnicos e atletas, criar uma liga e decidir os próprios destinos dos clubes. Se perderem a chance, com certeza não terão outra.

Quanto ao Galo, que não se crie uma crise no alvinegro, que enfrenta os mesmos problemas de Corinthians, São Paulo, Santos etc., porém, com a diferença de que o dinheiro devido está numa conta bloqueada, que deverá ser liberada até sexta-feira. Pelo menos me garante Nepomuceno.

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