None

COLUNA DO JAECI

A casa do Galo

"Quem tem uma torcida tão fanática e apaixonada merece e necessita ter sua própria casa"

postado em 12/06/2017 12:00 / atualizado em 12/06/2017 08:59


O presidente do Atlético, Daniel Nepomuceno, apresenta o projeto mais arrojado de sua administração: a construção do estádio do clube. Seria um grande marco. O terreno, de 100 mil metros quadrados, no bairro Califórnia, já está comprado. O projeto aprovado e os empresários, atleticanos e milionários, dispostos a construir o sonho da casa própria. Rubens Menin, da MRV e Ricardo Guimarães, do BMG, deverão participar da construção da obra com o dinheiro necessário, algo em torno de R$ 400 milhões. Quem tem uma torcida tão fanática e apaixonada merece e necessita ter sua própria casa. A ideia é fazer um estádio com capacidade para 46 mil torcedores. É o modelo europeu, visto por Nepomuceno como exemplo.

Recentemente, ele esteve em Turim, no estádio da Juventus, para entender como funciona o processo. Ele sempre me disse que acha fundamental que o clube fique com toda a bilheteria, e parece que os parceiros concordam com isso. Não adianta ter estádio próprio e ficar devendo até as calças, caso do Corinthians, que “ganhou” um estádio e hoje deve mais de R$ 1 bilhão. O Galo terá sua casa sim, mas dentro do que o clube, o Conselho e o presidente pensam. Um estádio que lhe dê lucro, conforto e no qual seus torcedores se sintam donos de verdade.

Será um passo gigantesco para uma nova fase do Atlético. Como são fanáticos, os torcedores alvinegros terão a missão de comprar ingressos de forma antecipada. É assim que acontece na Europa, onde os gigantes têm seus ingressos vendidos com três ou quatro anos de antecedência. Receita que entra nos cofres dos clubes e que serve para formar verdadeiros esquadrões para várias temporadas. Sabemos que vivemos num país sem segurança, educação e saúde. Porém, o futebol ainda é nossa grande paixão. Se bem que, nos dias atuais, os jogos são sofríveis e de qualidade duvidosa. Ter uma casa própria é um dos caminhos para mudar essa triste realidade. Que o Atlético siga em busca do seu sonho, pois, tenho a certeza de que os grandes atleticanos, em condições de bancar a obra, não se furtarão a fazê-la.

E, aproveitando o momento, como o Campeonato Brasileiro está só no começo, hoje não vou falar dos jogos de ontem e sim da crise que afeta nosso futebol. Crise moral, de falta de técnicos e de craques. Se num passado, não muito distante, éramos considerados os maiores produtores de craques do planeta bola, essa realidade mudou, e para pior. Hoje, temos apenas um craque em atividade, e no Barcelona. Neymar é nossa única estrela e a maior esperança para o Mundial da Rússia, embora ele jamais tenha sido protagonista no clube catalão, que tem em Messi o dono do time. E na Seleção só passou a jogar bem quando Tite assumiu e fez com que ele, mesmo craque, fosse mais um no grupo. À partir do momento em que passou a dividir a responsabilidade com os companheiros, seu futebol cresceu e ele hoje é visto de forma diferente. Aquele garoto cai, cai, cheio de mimos, não existe mais. Está se transformando num homem de verdade. Ainda acho que ele deveria pedir o boné no Barça e tentar brilhar em outro gigante europeu. Porém, talvez não se sinta preparado para protagonizar em outro time. Prefere ser coadjuvante.

No quesito treinador, estamos na contramão da história. Enquanto os europeus se aprofundam na parte técnica, pois na tática sempre nos superaram, aqui os técnicos desaprenderam a técnica e jamais souberam tática. Não conseguimos contar nos dedos de uma mão cinco grandes técnicos no Brasil. Os destaques são Tite, Cuca, Luxemburgo, que voltou a trabalhar, e só. Os jovens ainda buscam um lugar ao sol. Renato Gaúcho tem feito belo trabalho no Grêmio, mas ainda falta-lhe aquele algo mais. Uma estabilidade maior para se confirmar como grande técnico no mercado. Roger Machado busca seu espaço, mas é muito cru, com pouca bagagem, oscilando mais para baixo. Mano Menezes não evolui como deveria. Está estagnado. Na minha visão, a participação de um técnico no comando de um time é de 10% à 15%. Se fizer sua parte direitinho, sem inventar, já estará contribuindo para o sucesso da equipe. O problema é que os técnicos brasileiros são preguiçosos. No passado, havia muito craque e eles resolviam. Hoje, não tem mais, e o que vemos é tudo, menos futebol de verdade. Vou insistir na velha tese de que é preciso investir nas divisões de base, pondo gente competente para lapidar garotos que se tornarão craques. A partir daí, vamos voltar aos velhos e bons tempos do futebol, onde cada equipe tinha, pelo menos, dois grandes jogadores por posição. Sei que muitos fatores contribuíram para a extinção dos craques. Porém, se voltarmos aos tempos de Barbatana, do Galo; Carlinhos, do Flamengo; ou Cilinho, do São Paulo, voltaremos a revelar craques.  Quanto ao quesito treinador, a maioria, enganadora, está caindo na real e os supersalários de R$ 700 mil ficaram par trás. Hoje, a maioria ganha um terço disso, que ainda é muito para quantidade medíocre que pula de galho em galho, sem nada dar em troca aos clubes.

Tags: atleticomg