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COLUNA TIRO LIVRE

O enigma do treino secreto

Da teoria desenhada na Cidade do Galo à prática no Mineirão houve uma grande distância. A apresentação de ontem não pode ter sido fruto de treinamento, não é?

postado em 24/11/2016 12:00 / atualizado em 24/11/2016 17:09

EM/D.A PRESS

Os dois dias anteriores à final da Copa do Brasil foram de treinos fechados no Atlético. A imprensa não teve acesso à atividade que definiria a forma de atuar do Galo na decisão contra o Grêmio, no Mineirão. Se o objetivo era esconder o jogo, a meta foi alcançada, e com êxito. O mistério foi tão grande, e tão efetivo, que o técnico alvinegro Marcelo Oliveira parece ter mantido sua tática oculta até dos próprios jogadores. Um enigma praticamente indecifrável.

A derrota alvinegra por 3 a 1 fez justiça ao que foi a partida de ontem à noite – e foi (mais) uma comprovação da ineficiência dos tais treinos secretos. Queria saber quando isso deu certo. E por que os treinadores continuam lançando mão de tal artifício. É o tipo de estratégia que serve apenas para criar expectativa. Você fica imaginando jogadas ensaiadas, novidades táticas, um zagueiro aparecendo como elemento surpresa no ataque, a mais mirabolante das inovações... A criatividade vai longe.

Daí, a partida começa e o que se vê é um time passivo. Paralisado. Quase travado. Aceitando as ações do adversário sem imprimir a menor resistência. Sem conseguir ocupar os espaços do campo. Sem sintonia entre os setores. Um comportamento quase infantil diante da importância do confronto. E olha que o Atlético tem um grupo cascudo, com jogadores acostumados a decisões, que já ergueram taças importantes inclusive pelo próprio alvinegro.

Da teoria desenhada na Cidade do Galo à prática no Mineirão houve uma grande distância – afinal, a apresentação de ontem não pode ter sido fruto de treinamento, não é? O Galo foi frouxo na defesa, inoperante no ataque. Inferior ao Grêmio tática, técnica e psicologicamente falando. Não perdeu a partida só na bola. Perdeu também no aspecto emocional. Faltou o propalado espírito de final que faz com que os jogadores se multipliquem em campo. E quando falta essa liga, não adianta treino secreto. Não adianta criar nada de última hora. Não adianta nada.

O que o Atlético mais precisava ontem era fazer bem o feijão com arroz, para parar o tricolor gaúcho e levar uma boa vantagem para a finalíssima, no Sul. Mas a receita desandou por completo. Quem cozinha sabe bem: uma pitada a mais ou a menos de qualquer ingrediente pode colocar tudo a perder. E o Galo não encontrou essa medida.

Tudo o que podia dar errado para o alvinegro, deu errado. Reparou nos detalhes? As sobras nunca iam para o pé de um atleticano. O passe final geralmente era interceptado por algum gremista. As finalizações não chegavam ao destino pretendido. E o resultado dessa noite desastrosa foi que pela primeira vez na história da Copa do Brasil, disputada desde 1989, um mandante perdeu a partida de ida.

Mais do que ruminar sobre os erros que ocorreram ontem, o Atlético vai ter de se reinventar para o jogo de volta. Marcelo Oliveira, visivelmente abatido, vai ter de encontrar o caminho. Mais do que isso: vai ter de reencontrar o rumo. Até porque, em última instância, o débito ou o lucro vão cair é na conta dele mesmo. Mas o treinador não está sozinho nessa. Por mais que ele chame a responsabilidade para si como fez (acertadamente, por sinal), não pode assumir os chutes sem direção de Robinho e Júnior Urso, por exemplo – e olha que o volante ainda desperdiçou uma chance clara ainda no primeiro tempo, de frente para o gol, defendida por Marcelo Grohe. Para completar, abaixou-se para arrumar o meião na jogada que resultou no segundo gol gaúcho! Quer imagem mais emblemática do que essa?

Tirar dois gols de diferença na Arena do Grêmio é uma tarefa que não caberá apenas ao treinador. Ele precisa saber mostrar o caminho, mas quem vai percorrê-lo, em campo, serão os jogadores. E eles também precisarão mostrar muito mais do que apresentaram no Mineirão, até mesmo individualmente. Se houver essa conjunção quase astral favorável, o título, que hoje é bem improvável, pode deixar de ser impossível. E esse roteiro, o torcedor, o treinador e os próprios atletas atleticanos conhecem bem.

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