None

COLUNA TIRO LIVRE

Máquina do tempo

É como se você fizesse uma grande bobagem na sua vida, percebesse a tolice e tivesse a chance de voltar atrás e corrigir a atitude, sem nenhum dano futuro

postado em 16/12/2016 12:00 / atualizado em 16/12/2016 08:59

AFP

A intenção da Fifa foi até boa. Finalmente, usar a tecnologia a favor do futebol. Mas, como diz o ditado, de boa intenção tem lugar aí de reputação não muito boa que está cheio. E o que era uma ideia positiva na teoria, na prática está se configurando uma grande lambança. Ao decidir estrear o recurso eletrônico justamente no Mundial de Clubes, a entidade mostrou que errou a mão feio na escolha tanto da hora quanto do lugar para tal experiência. Foram duas intervenções do uso das imagens de TV e dois erros. Não é que a tecnologia não tenha ajudado. Ela simplesmente atrapalhou o andamento das partidas. Um bate-cabeça danado que poderia ter sido evitado.

Esperar que as imagens de televisão dirimam toda e qualquer dúvida no futebol é utopia. O futebol não é um esporte cartesiano, as decisões não se baseiam só em isso ou aquilo, preto ou branco, frio ou quente, dentro ou fora. Há muitas outras questões, bem subjetivas, que envolvem interpretação, e aí não há inteligência artificial que resolva. Não há computador que defina se foi mão na bola ou bola na mão, se houve ou não pênalti. Até o impedimento requer observação especial para determinar se são as pernas, o tronco ou só o braço do jogador que está à frente da linha da defesa.

Até que me provem o contrário, o ser humano ainda é peça primordial dentro das quatro linhas. E a função da tecnologia – que chega tardiamente, diga-se de passagem – é justamente elucidar aquilo que o olho humano não consegue. Um complemento que deve ajudar na aplicação das regras do jogo, na correção das marcações em campo. Só que o que está sendo visto em gramados japoneses são decisões confusas, conflitantes, que parecem resultar de um grande despreparo dos árbitros para a novidade. E em vez de a dona Fifa fazer o mea-culpa e admitir os erros (ou trapalhadas), ela simplesmente tem ratificado as ações da arbitragem.

Para infelicidade da entidade, os “equívocos” ocorreram justamente nas duas partidas de maior repercussão da competição até agora, as semifinais. E foram muitos os questionamentos, tanto no confronto do Atlético Nacional com o Kashima Antlers quanto no do Real Madrid diante do América do México. Em ambos os casos, um ponto em comum: o uso da tecnologia mudou o curso do jogo quando o lance já havia tido sequência, quase num efeito retardado.

O lance do Atlético Nacional ocorreu aos 31min do primeiro tempo, num lance em que o japonês Daigo foi derrubado na área por Berrío. O árbitro Viktor Kassai deixou o lance seguir, mas foi avisado da infração pelo ponto eletrônico e, após rever a imagem, assinalou o pênalti (foto). A paralisação durou quase dois minutos. Ainda houve um complicador em toda essa polêmica: Dago estava em posição irregular.

Ontem, o gol de Cristiano Ronaldo no último minuto dos acréscimos da partida contra os mexicanos foi legitimado, anulado e legitimado novamente. Nesse meio tempo, o árbitro paraguaio Eduardo Cardozo deu prosseguimento ao jogo, logo o interrompendo para, digamos assim, avaliar melhor a situação.

No popular, é como se você fizesse uma grande bobagem na sua vida, percebesse a tolice e tivesse a chance de parar o tempo, voltar atrás e corrigir a atitude, sem nenhum dano futuro. Que a tecnologia avançou muito nos últimos anos é sabido, mas a máquina do tempo ainda não foi inventada, como tem feito supor as marcações dos árbitros em gramados japoneses. Até lá, eles, os jogadores, os senhores da Fifa e nós, na nossa vidinha extracampo, continuamos tendo de arcar com os nossos erros. Por isso é bom ficar sempre de olho para não vacilar!

Com a esperança de um 2017 de dias melhores dentro e fora das quatro linhas, a coluna Tiro Livre tira o time de campo hoje para retornar em janeiro. Boas festas e boa sorte a todos nós!

Tags: americamg atleticomg cruzeiroec