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COLUNA TIRO LIVRE

Primeiras, segundas e terceiras impressões

Para dar um pouco de alento aos que já estão pessimistas quanto à passagem de Felipe Santana pelo Atlético, a caminhada no Borussia também não começou nada bem

postado em 03/03/2017 12:00

Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Quantas vezes na vida você já mudou de opinião sobre algo/alguém depois de uma segunda chance? Uma iguaria que não agradou ao paladar no primeiro contato, uma pessoa cujo santo não bateu logo de cara, mas que conseguiu se redimir após alguns minutos de conversa; uma cidade que você teve vontade de fugir ao chegar e que ganhou seu coração depois de um olhar mais carinhoso por suas esquinas? Às vezes funciona assim. A vida decide contrariar os ditos populares, como aquele que diz que a primeira impressão é a que fica. Não necessariamente. O problema é quando a segunda impressão não cai bem. Nem a terceira, nem a quarta... Aí, virar o jogo fica mais complicado – embora não impossível.

Esse tem sido o caso do zagueiro Felipe Santana no Atlético. Depois de uma estreia regular diante do América-TO, veio a desastrosa atuação contra o Cruzeiro e uma apresentação instável diante do Tombense. Titular na vitória sobre o Democrata-GV, ele não comprometeu, mas voltou a apresentar falhas com a camisa alvinegra no empate com a Chapecoense, na noite de quarta-feira. E a torcida não tem perdoado, crucificando-o nas redes sociais após cada exibição ruim. Tem gente que prega até que Felipe Santana já seja dispensado.

Vamos à análise fria dos fatos. No jogo contra o Cruzeiro, o zagueiro entregou, de bandeja, um gol para De Arrascaeta, depois de cabecear uma bola para trás, ao tentar cortá-la. Diante do Tombense, ele voltou a demonstrar insegurança: o Galo até venceu de goleada (3 a 0), mas não passou despercebida uma vacilada quase fatal do zagueiro, no lance em que o time do interior teve um gol mal anulado por impedimento inexistente – era justamente Felipe Santana que dava condição ao jogador do Tombense. Contra a Chape, mais uma falha que resultou em gol adversário: ele subiu mal e a bola sobrou para Wellington Paulista mandar para o fundo das redes, de cabeça.

Em todos os lances, o tempo de bola pareceu ser o maior pecado de Felipe Santana. Dono de boa estatura (tem 1,94m), ele teoricamente deveria levar vantagem sobre a concorrência no jogo aéreo, mas tem provado que não basta ser gigante para tomar conta da área. É preciso mais, e esse algo a mais tem lhe faltado. O fato de ele ter ficado oito meses sem atuar pode, sim, estar influenciando esse reinício no futebol. Afinal, a noção de tempo e espaço é determinante para defensores. Mau zagueiro, como as falhas têm feito supor, Felipe Santana não é. Ou, pelo menos, não era. Lembro-me bem de suas atuações pelo Figueirense, quando ele se destacou aos 22 anos e acabou vendido ao Borussia. Ágil e seguro, ainda fazia as vezes de artilheiro. Não foi por acaso que chamou a atenção dos alemães.

Alguém pode falar que muito tempo se passou desde então, mas, no caso de zagueiros, o efeito costuma ser positivo. O tempo geralmente é aliado dos jogadores de defesa, pois, com a maturidade, vêm a serenidade e a frieza. Aos 30 anos, Felipe Santana ainda tem lenha pra queimar, e o exemplo está logo ao lado, no veterano Leonardo Silva, que em junho vai completar 38. O caso é saber se ele contará com a paciência da torcida e da comissão técnica para recuperar o futebol que o credenciou a atuar na Europa. E, ainda: se ele realmente vai reencontrar esse caminho.

Desde a primeira falha, o técnico Roger Machado ressaltou que faltava ao zagueiro sequência de partidas. O próprio Felipe Santana fez o mea-culpa, sem colocar panos quentes, o que foi muito digno de sua parte. No início desta semana, ele admitiu que o tempo parado o fez perder o “timing” de jogo e garantiu que voltou ao Brasil “para ser o Felipe Santana do Borussia Dortmund”. Lá, ele foi bicampeão alemão, campeão da Copa do Alemanha e da Supercopa.

Para dar um pouco de alento aos que já estão pessimistas quanto à passagem do zagueiro pelo Atlético, a caminhada no Borussia também não começou nada bem. Em julho de 2008, ele apresentou seu cartão de visitas marcando um gol contra num amistoso contra o Basel, abrindo o placar para o adversário. A primeira impressão foi igualmente péssima. Mas, recorrendo novamente a um dito popular, dizem que não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Nessa toada, chegamos a abril de 2013, quando Felipe Santana foi ovacionado graças a um gol heroico, que até hoje é lembrado: o que garantiu a classificação do Borussia às semifinais da Liga dos Campeões, na vitória por 3 a 2 sobre o Málaga. O time alemão perdia por 2 a 1 até os 46min do segundo tempo quando Reus empatou e, aos 48, Felipe Santana decretou a virada. A partir desse dia, certamente, ninguém mais o cobrou por aquele gol contra da estreia.

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