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TIRO LIVRE

Cadê a faísca?

O Atlético de Roger Machado tem lembrado, em alguns momentos, o Atlético de Diego Aguirre

postado em 21/04/2017 12:00 / atualizado em 21/04/2017 15:56

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press

Foram os próprios jogadores do Atlético que falaram. Mais especificamente o volante Elias, que, após a derrota para o paraguaio Libertad (1 a 0), na noite de quarta-feira, pela Copa Libertadores, comentou: “Falta só uma faísca para a gente acender e o time engrenar de vez”. Essa faísca à qual o atleta alvinegro se refere é de fato importante, e em várias relações da vida, não apenas no futebol. É ela que faz seus olhos brilharem diante do seu companheiro(a), mesmo após anos de convívio. Que lhe causa arrepios de orgulho após uma grande conquista no trabalho. E é ela também que faz a engrenagem de um time funcionar bem, dentro e fora das quatro linhas. Mas, no caso específico do Galo, tem faltado algo além da faísca.

O Atlético de Roger Machado tem lembrado, em alguns momentos, o Atlético de Diego Aguirre. Promete, mas não cumpre. Você lista os nomes dos jogadores no papel e fala: “Uma hora este time embala”. E nada. Vê o treinador, o potencial que ele tem, os bons trabalhos anteriores (no caso de Roger, no singular, pois foi apenas no Grêmio), e pensa: “Uma hora ele vai fazer esse time embalar”. E nada.

Como na era Aguirre, o Atlético é um time dividido por setores, como se dentro de uma mesma equipe estivessem contidas quatro equipes diferentes. A defesa fica isolada atrás. Os volantes não se ligam à retaguarda nem ao ataque. Os jogadores de criação estão distantes, física e espiritualmente, dos homens de frente. E os atacantes ficam digladiando, quase de forma solitária, com a zaga adversária. Não há sintonia. Não há conexão. Não há compactação.

Busco na memória um grande momento do alvinegro nesta temporada, e o que mais se aproxima disso são os 20 minutos finais da partida contra o Sport Boys, no Independência – nem tanto pela disposição tática e sim pela raça que levou o time à virada, incluindo nessa conta o oportunismo e talento de Fred. Mas nem aqueles minutos finais contra os bolivianos deixaram a impressão de que a faísca tinha se acendido. Porque se havia um jogo para acender a faísca era aquele, com uma virada bem ao estilo atleticano. Ao fim do confronto no Horto, no entanto, a imagem que ficou foi a de alívio. De uma equipe que buscou o resultado no abafa, quase como uma obrigação moral. Não foi o clique que sinaliza o acerto de ajuste.

Se levarmos em consideração apenas os números, a campanha não é todo ruim –  como também foi com Aguirre. O Galo até venceu de goleada algumas partidas neste ano, mas em placares que não refletiram bem a realidade do que ocorreu em campo. Ou você acha que aqueles 4 a 1 sobre o América traduziram fielmente o que foi o confronto? O triunfo por 3 a 0 sobre o Uberlândia é outro exemplo: todos os gols saíram a 15 minutos do fim, aos 31, 37 e 42min. “Mas enquanto o árbitro não apitar o fim está valendo!”, pensarão alguns leitores. Sim, porém, se a equipe estivesse ajustada, certamente teria demonstrado sua superioridade ao longo do jogo, não apenas nos derradeiros minutos.

Por mais que sejam apenas quatro meses de um novo trabalho, de uma nova filosofia, já era para o alvinegro ter feito apresentações melhores e mostrado alguma regularidade, se não pela fragilidade de alguns dos adversários que enfrentou, pelo menos pela capacidade individual dos atletas de que dispõe.

Desde o clássico com o Cruzeiro, pela primeira fase do Campeonato Mineiro, que o Atlético engatou uma série de partidas ruins, talvez sua pior sequência neste ano em termos de rendimento. E, a cada atuação decepcionante, foram crescendo as críticas. Chegou ao ponto de, contra a URT, pelo primeiro jogo da semifinal do Estadual, o time sair de campo vaiado.

Que Roger é um treinador capaz não há dúvida. Ele mostrou isso no Grêmio. Da mesma forma que é louvável o esforço que ele tem feito para colocar o time nos trilhos. Ele tenta. Muda esquema, muda jogador. Testa variações. Mas o encaixe não veio ainda. A faísca não se acendeu.

A falta dessa fagulha é preocupante, pois pode ser fatal, como já ficou provado no próprio Atlético. Foi exatamente isso que decretou o fim da linha para Aguirre, há quase um ano, numa trajetória que durou pouco mais de cinco meses e 31 partidas. O passado recente não deixa de ser um alerta para Roger: também pode depender desta centelha sua permanência na Cidade do Galo.

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