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TIRO LIVRE

Falta ao Cruzeiro ser time

No dia em que perdeu a invencibilidade que já durava 22 jogos em 2017, o time celeste também parece ter perdido o rumo

postado em 12/05/2017 12:00 / atualizado em 12/05/2017 09:59

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press


Colocar os nervos no lugar. Segundo o técnico Mano Menezes, esse é o primeiro passo para que o Cruzeiro se reerga na temporada e reencontre o rumo, depois de duas decepções no espaço de três dias – a derrota na final do Campeonato Mineiro para o Atlético e a queda na Copa Sul-Americana para o modesto Nacional. De fato, é um bom conselho, inclusive para o próprio treinador.

Num momento de tamanha pressão, é ele, como líder do grupo, que precisa dar o exemplo. Como comandante, é quem deve mostrar o caminho. Mais do que apontar os erros de seus jogadores, Mano devia chamar para si a responsabilidade e buscar o motivo para, de um mês para cá, a receita celeste ter desandado de forma tão radical. Fossem apenas erros individuais, como o treinador destacou ao justificar a derrota para o time paraguaio, seria fácil resolver. Troca uma peça por outra, e voilà! Porém, o que deixa essa avaliação mais complexa é o fato de a pane ter sido geral. São poucos os que não estão com saldo negativo, talvez apenas o goleiro Rafael e o volante Henrique.

A involução é visível e facilmente de ser classificada de maneira cronológica. Os primeiros sinais apareceram no primeiro tempo apático da Raposa contra o São Paulo, no Mineirão, pela Copa do Brasil – uma semana antes, na partida de ida, o Cruzeiro tinha arrancado elogios Brasil afora pela postura firme que garantira a vitória por 2 a 0, no Morumbi. No dia em que perdeu a invencibilidade que já durava 22 jogos em 2017, o time celeste também parece ter perdido o rumo.

Nas semifinais do Estadual, contra o América, mais instabilidade. Aquela Raposa de toque de bola consciente e comportamento ousado deu lugar a uma equipe de lampejos. Na época, Mano atribuiu a queda de rendimento à maratona de partidas, que impedia treinos e desgastava atletas. “Não posso cobrar deles uma vírgula a mais”, disse, após o primeiro duelo com o Coelho. O problema é que essa vírgula que não foi cobrada virou uma grande interrogação daí pra frente.

A equipe celeste voltou a atuar mal diante da Chapecoense, no Mineirão, pela partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. Os dois entraram em campo com equipes mistas e, cá pra nós, misto por misto, o misto cruzeirense tinha a obrigação de ser melhor. Mas não foi o que ocorreu. Partida parelha, vitória magra do Cruzeiro por 1 a 0 e as primeiras vaias, sinalizando que algo estava errado.

O sinal amarelo ganhou tons vermelhos na decisão do Estadual. Nas duas partidas, o Cruzeiro foi anulado pelo Atlético. Especialmente na finalíssima, no Independência, o Galo dominou completamente o arquirrival. “A única coisa que esse tipo de resultado traz é que te prepara melhor para a frente, te ensina a ser mais cascudo”, afirmou o treinador. Pois não foi um time “cascudo” que o torcedor viu diante do Nacional. Como vencera em casa por 2 a 1, o Cruzeiro foi para Assunção podendo empatar e até perder por um gol de diferença, desde que marcasse dois, que ficaria com a vaga na segunda fase da Sul-Americana. Mas o poço era ainda mais fundo do que a torcida imaginava.

“O Cruzeiro está se caracterizando por ser uma equipe que tem comportamento que não gosto, de sair do jogo com facilidade”, decretou o treinador. Em outras palavras, o Cruzeiro tem vivido de apagões. Individuais sim, como disse Mano, mas também coletivos, táticos inclusive. E o resultado é que, às vésperas da estreia no Campeonato Brasileiro, o time azul, que até bem pouco tempo era apontado como um dos favoritos ao título, precisa se reinventar.

Tanto quanto encontrar soluções táticas e técnicas, é necessário que se resgate, na Toca, a sintonia do Cruzeiro como grupo. Os últimos dias mostraram que de nada adianta ter um técnico renomado, gastar rios de dinheiro com jogadores e contar com bons nomes na equipe quando não se tem um time, no conceito que está lá no dicionário: “Grupo de pessoas empenhadas numa mesma atividade conjunta”. Tem faltado ao Cruzeiro, justamente, ser time. Do presidente ao ponta-esquerda.

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