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TIRO LIVRE

E o encanto se quebrou

O time alvinegro tem jogado tão mal e vivido tamanha irregularidade, que nem o Independência tem salvado mais

postado em 23/06/2017 12:00 / atualizado em 23/06/2017 10:04

Bruno Cantini / Atlético

O Independência sempre foi uma espécie de talismã para o Atlético. Ainda na fase pré-modernização para a Copa das Confederações’2013 e Copa do Mundo’2014, o estádio do Horto mostrou-se um companheiro leal. Por vezes deixado de lado, meio que primo pobre do Mineirão, com suas acanhadas instalações, ele se agigantava. Era só a coisa apertar que o Atlético mandava para lá seus jogos, na esperança de armar uma arapuca para os adversários, empurrado pela torcida. Volta e meia, de fato, funcionava – também não eram raros os revertérios. Mas a partir de 2013, essa relação mudou de status. De parceria, virou mística. Lenda. Arma mortal do Galo, e literalmente, pois o oponente de lá nunca saía vivo, na esteira do lema “Caiu no Horto, tá morto”.

O Atlético aproveitou-se bem dessa conjunção astral, fazendo do Independência o palco perfeito para abate de seus rivais. Arrancou vitórias épicas. Viveu jornadas homéricas. Foi no novo Horto que o alvinegro sedimentou sua caminhada rumo àquela que é considerada por muitos a conquista mais especial de sua centenária história: a do troféu da Libertadores. Era quase mágico o que ocorria ali nas partidas pelo torneio continental. Uma simbiose perfeita, que se manifestava antes mesmo de a bola rolar. Nas estreitas vias da vizinhança, a “rua de fogo”, calorosa, colorida e carinhosa acolhida do torcedor a seus ídolos. Dentro das quatro linhas, um time que conhecia cada atalho do gramado. Que lutava por cada palmo do campo. Que massacrava quem passava pela frente.

Na Copa do Brasil de 2014, o caldeirão continuou fervilhando. Outra vez, lá estava o estádio como o coadjuvante impecável, a permitir ao protagonista (o time) brilhar. Como resultado, mais uma campanha construída na base da raça e do amor, como reza o hino do clube. Era como se o Independência bastasse ao Atlético para vencer. Como se ele fosse uma espécie de senha para os triunfos, ingrediente vital para uma confiança inabalável, não importava a qualidade do adversário. Essa harmonia sublime fez com que o Galo, sua diretoria e torcida, por diversas vezes, desprezasse o Mineirão. Foram vários os momentos em que o Gigante da Pampulha, com toda a sua pompa, circunstância e quase 35 mil lugares a mais, foi deixado para escanteio.

De 2015 para cá, no entanto, a receita começou a desandar. O encanto, de alguma forma, se quebrou. Foram várias as pistas ao longo daquela temporada de que a relação estava desgastada. A equipe alvinegra não mais se sentia absoluta em seus domínios. A autoconfiança passou a ruir. Pela Libertadores, o Internacional começou a escrever, no Horto, sua passagem às quartas de final. No outrora solo sagrado atleticano, o Corinthians, com quem o Galo travava equilibrado duelo pelo título do Brasileiro, pôs uma de suas mãos na taça, e com direito a goleada incontestável: 3 a 0.

No ano passado, de novo o Atlético patinou em casa. O Horto deixou de ser trunfo. Voltou a ser apenas um estádio, como tantos outros. O grito da torcida não mais fazia diferença. O adversário não mais se sentia acuado. Neste ano, outro degrau para baixo. Dos cinco jogos que disputou em casa, o alvinegro ganhou apenas um, do lanterna, Avaí, e ainda assim por placar bem magrinho (1 a 0), distante das exuberantes atuações e placares elásticos aos quais a torcida se acostumara. Contabiliza ainda dois empates (com Sport e Ponte Preta) e duas derrotas, para Atlético-PR (1 a 0) e Fluminense (2 a 1).

Dos 20 times que disputam a elite, o Galo só não tem desempenho pior como mandante que Vitória e Atlético-PR. Até o Avaí, que está na rabeira, tem média superior diante de sua torcida. O time alvinegro tem jogado tão mal e vivido tamanha irregularidade, que nem o Independência tem salvado mais. É como se os deuses do futebol batessem o martelo e decretassem o fim da magia. Vítima de seu próprio veneno, agora é o Atlético quem tem caído morto no Horto.

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