None

TIRO LIVRE

Promessa é dívida

Se analisarmos o aproveitamento do Palmeiras fora de casa, no Brasileiro, não é impossível que, ao fim do jogo de domingo, Mano comece a entrevista com um sorriso maroto e a frase: "Eu não avisei?"

postado em 07/07/2017 12:00 / atualizado em 07/07/2017 09:21

Washington Alves/Light Press/Cruzeiro

Terminado o clássico, ainda sob o calor da derrota do Cruzeiro para o Atlético por 3 a 1, no domingo passado, o técnico celeste, Mano Menezes, munido de forte convicção, determinou: “O Cruzeiro não leva três gols no próximo jogo”. Ele não soltou isso despretensiosamente no ar. Não fez um comentário de forma displicente. O comandante da Raposa cravou. Garantiu. Assegurou. Decretou. Sentenciou. Afiançou. Marcou data, hora e lugar: domingo, a partir das 16h, no Mineirão. Pois depois de amanhã, na partida contra o Palmeiras, muitos olhos se voltarão para o Gigante da Pampulha, para ver se a profecia será cumprida.

Não bastasse a pressão natural sobre o seu time, que vem de atuações instáveis e uma defesa muito questionada – afinal, são 10 gols sofridos nos últimos cinco jogos –, o treinador tratou de pôr uns quilinhos a mais sobre os ombros dos jogadores. Ainda que na hora não tenha pensando nisso, e muito provavelmente deva ter agido assim na melhor das intenções, querendo passar confiança ao time e à torcida, Mano acabou jogando todo o foco, justamente, para os defensores cruzeirenses.

Tudo isso desencadeado por uma sequência de três partidas em que o Cruzeiro sofreu três gols. A série que soa cabalística começou com o empate por 3 a 3 com o Grêmio, no Mineirão, pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro. Aquela foi a primeira vez, em 81 jogos, que o Cruzeiro de Mano foi vazado por mais de dois gols em um confronto.

Mas aí é aquela velha história: abriu a porteira, a boiada passa. Quem imaginava que um raio não cairia duas vezes na área celeste, viu o desastre se repetir diante do Palmeiras, pela Copa do Brasil, no Allianz Parque (em outra igualdade por 3 a 3), e novamente no clássico contra o arquirrival, no Independência.

Por não estar acostumado a ver seu time levar tantos gols, o treinador meio que perdeu as estribeiras. “Prometo ao torcedor do Cruzeiro que no próximo jogo o Cruzeiro não leva três gols não”. Indagado sobre o que ocorreria caso a promessa não fosse cumprida, não pestanejou: “Se eu estou dizendo que não vai tomar é porque não vai tomar”. E ainda acrescentou aos repórteres que o entrevistavam: “Eu garanto para vocês, pode ter certeza que nós vamos estar falando ao final do jogo do Palmeiras. O Cruzeiro não vai ter levado gols nessa quantidade (3), e vai ter vencido o jogo”. Quer dizer, ele não somente prometeu que o time não vai sofrer tantos gols como jurou que a vitória virá.

Se analisarmos o aproveitamento do Palmeiras fora de casa, no Brasileiro, de fato não é impossível que, ao fim do jogo de domingo, diante dos jornalistas, Mano comece a entrevista com um sorriso maroto e a frase: “Eu não avisei?”. O alviverde paulista tem apenas a oitava melhor campanha como visitante entre as 20 equipes. São seis pontos em seis jogos. Nada menos que quatro derrotas e apenas duas vitórias. Uma delas, 4 a 2 sobre o Bahia, em Salvador – na única vez em que marcou mais de dois gols no campo do adversário neste Nacional. Os números, analisados friamente, podem ajudar a alicerçar a autoconfiança de Mano.

Há, contudo, um provérbio chinês que recomenda cautela em caso de promessas. “Seja lento na promessa e rápido no desempenho.” Numa interpretação em português claro, significa que o indivíduo não é obrigado a prometer nada, e deveria ter muita reserva ao fazê-lo. Mas, a partir do momento em que promete, é cobrado a cumprir.

Não é preciso ir tão longe para encontrar ditos populares que exemplificam quão arriscado é empenhar a palavra. A língua portuguesa tem vários, muito além do mais conhecido, o tal “promessa é dívida”. Segue então, Mano, uma pequena lista de provérbios bem ao estilo do “quem avisa, amigo é”: “quem nada promete, nada deve”; “promessas, só as de Cristo”; “quem promete, em dívida se mete”; “muito prometer é sinal de pouco dar”; “quem promete com pressa, arrepende-se com vagar”; “mais vale não prometer do que prometer e faltar”; “pensa antes de prometer e, prometendo, cumpra”.

Tags: cruzeiroec