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TIRO LIVRE

Mano Menezes, o sobrevivente

Difícil é definir se a longevidade dos treinadores é fruto do bom trabalho que desempenham ou se o bom trabalho deles é resultante da longevidade

postado em 28/07/2017 12:00 / atualizado em 28/07/2017 17:57

 Geraldo Bubniak/Light Press/Cruzeiro

Quando chegou ao Cruzeiro há exatos 366 dias, o técnico Mano Menezes se dizia em dívida com o clube, pela interrupção abrupta do trabalho em sua primeira passagem, em 2015. Demitido pelo Shandong Luneng, que o levara para a China, ele passou pouco mais de um mês desempregado. Em 27 de julho do ano passado, reassumiu a Raposa como solução emergencial para uma situação crítica: após 16 rodadas, o time celeste estava em penúltimo lugar no Campeonato Brasileiro, com apenas 15 pontos. Pois nessas 53 semanas e cinco dias, Mano viveu de tudo na Toca II. Distribuiu sorrisos, mas também apareceu algumas vezes de cara amarrada. Brincou com os repórteres, porém não perdeu a chance de destilar ironias e puxões de orelha. Ora afagado, ora criticado pelos torcedores, ele vem resistindo a chuvas e trovoadas e é, hoje, o segundo técnico mais longevo da Série A. E isso não é para qualquer um – literalmente.

Apenas o flamenguista Zé Ricardo supera Mano nessa cronologia. Ele deixou o Sub-20 do rubro-negro em 26 de maio do ano passado, chamado às pressas para assumir interinamente o profissional após a saída de Muricy Ramalho. Em 14 de julho, foi efetivado, inicialmente até o fim da temporada. Em novembro, alicerçado pela boa campanha, foi confirmado para 2017.

Na roda viva em que se transformou o futebol brasileiro, treinador completar seis meses em um clube já é de espantar. Um ano, então, virou raridade. Agora imaginem seis temporadas à frente de uma equipe? Praticamente padrão europeu! Pois é o que ocorre com Claudio Tencati, de 43 anos, que comanda o Londrina desde abril de 2011 e é o treinador há mais tempo no cargo entre os clubes que disputam todas as divisões nacionais – é o sétimo colocado na Série B. Um patamar aparentemente inatingível para a elite do Brasileiro.

Difícil é definir se a longevidade dos treinadores é fruto do bom trabalho que desempenham ou se o bom trabalho deles é resultante da longevidade. Acaba que as duas coisas são causa e consequência, complicado dissociar. Sem um bom trabalho, e isso muitas vezes significa vitórias, um treinador não consegue garantir seu emprego. Da mesma forma que é complexo cobrar resultados em pouco tempo de trabalho de um treinador.

Embora as dispensas de técnico estejam sendo excessivas neste ano, há de se destacar que nem sempre elas são injustas. Não existe uma regra só para todas as variáveis. Há treinadores, por exemplo, que nem sequer deveriam ter sido contratados – um exemplo na própria Toca da Raposa foi a passagem de Joel Santana, que durou pouco mais de dois meses em 2011. Outros, cumprem aquilo que se espera deles, por um tempo que bate mais ou menos com a expectativa criada em torno de seus nomes. Aqui se encaixa o ex-atacante Deivid, que era auxiliar de Mano, foi efetivado após a saída dele e tinha como prazo de validade o Campeonato Mineiro do ano passado, como acabou se confirmando. O que mais se vê, no entanto, são trajetórias promissoras sendo interrompidas de maneira precoce por causa de uma sequência de resultados ruins.

Daí não ser exagero dizer que Mano e Zé Ricardo são sobreviventes nesta selva chamada futebol brasileiro. Isso não significa que a caminhada deles tem sido apenas de flores. Mano, especialmente, viveu um período bem complicado no mês passado, e uma série de resultados adversos o colocou na alça de mira de muitos torcedores. Não foram poucas as vezes em que sua cabeça foi pedida.

Junho começou com um decepcionante 0 a 0 com a Chapecoense pela rodada de volta das oitavas de final da Copa do Brasil. O time celeste avançou às quartas graças à vitória por 1 a 0 na ida, em BH. Três dias depois, derrota por 2 a 0 para a própria equipe catarinense, pelo Brasileiro, naquela que foi apontada por Mano como a pior atuação da Raposa na sua passagem atual. Mais quatro dias e a criticada derrota para o Bahia na Arena Fonte Nova. No dia 11, um alívio nas cobranças com a vitória sobre o Atlético-GO, no Mineirão. Mas três dias depois, nova derrota, desta vez para o Corinthians. Veio, então, aquele empate por 3 a 3 com o Grêmio, no Gigante da Pampulha, na primeira vez que o Cruzeiro sofreu três gols sob o comando de Mano. A partida seguinte reacendeu a pressão, com o revés diante da Ponte Preta, em Campinas. O triunfo sobre o Coritiba, no Mineirão, atenuou a situação, mas daí veio mais uma igualdade por 3 a 3, com o Palmeiras, no Allianz Parque, pelo jogo de ida das quartas de final do torneio mata-mata, com o agravante que o time celeste terminou o primeiro tempo vencendo por 3 a 0.

A vaga à semifinal da Copa do Brasil, na noite de quarta-feira, chegou na hora certa. Foi a salvaguarda de que Mano precisava. No fim das contas, como naquelas reuniões de ajuda a anônimos, no futebol também vale o lema: um dia de cada vez.

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