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COLUNA TIRO LIVRE

Quantos Neymar o Neymar compraria?

O Neymar do PSG é um patamar que não existia no futebol. E que nos faz pensar até onde vai a ambição de quem comanda os destinos dos mais ricos clubes do mundo

postado em 04/08/2017 12:00 / atualizado em 04/08/2017 13:06

AFP

Desde que foi confirmada a ida do atacante brasileiro Neymar para o Paris Saint-Germain, os valores astronômicos da transação (o clube francês pagou 220 milhões de euros, aproximadamente R$ 812 milhões, ao Barcelona) povoaram o pensamento de reles mortais, que vivem numa realidade financeira muito distante das milionárias cifras que compõem esse quase fantasioso mundo do futebol.

Pelo quatro cantos do planeta pipocaram cálculos a respeito do que daria para fazer com tanta grana. Os portugueses logo perceberam que seria possível bancar, durante dois anos e meio, o salário, as premiações e a receita de publicidade do astro luso Cristiano Ronaldo. Os ingleses atentaram para o fato de que é dinheiro suficiente para comprar uma frota de Aston Martin MA-RB 00, carro mais caro do planeta (cada unidade custa 3,3 milhões de euros) – seriam 67 deles na garagem. Até viagens para o espaço foram contabilizadas: a revista eletrônica norte-americana Money destacou que, com o valor que gastou para contratar Neymar, o PSG poderia adquirir 1.000 passagens na Virgin Galatic, empresa de turismo espacial, e levar todos os seus 31 jogadores para a exploração do universo todos os dias, durante um mês.

Para nós, mineiros, um Neymar equivale ao Mineirão novinho em folha, já que a remodelação do Gigante da Pampulha para a Copa das Confederações’2013 e o Mundial’2014 custou R$ 743,4 milhões, de acordo com o Tribunal de Contas da União.

A contratação de Neymar não se encerra nesses 220 milhões de euros. Ainda tem os 40 milhões de euros (quase R$ 148 milhões) para o pai do jogador, que também é seu empresário, e o salário de 30 milhões de euros (R$ 110 milhões) por temporada, livre de impostos. E não é só! A essa conta o PSG soma ainda 60 milhões de euros (R$ 221 milhões) em publicidade que o jogador vai embolsar apenas para estampar sua carinha em produtos patrocinados por parceiros do clube.

Como se não fosse masoquismo suficiente expôr todos esses números, chegamos ao derradeiro cálculo que a versão francesa de Neymar ganhará, por mês, “pouco mais” de R$ 27 milhões. E ainda entra nessa superfaturada estimativa financeira o bônus de morar em Paris, meca da moda mundial, com direito a passeios pela Champs Élysée, jantar de frente para a Torre Eiffel, visitas ao Louvre e até uma ida para agradecimento na Basílica de Sacré Cœur...

O Neymar do PSG vai ganhar o dobro do Neymar do Barcelona, que já era muito bem pago, diga-se de passagem. No clube catalão, o atacante embolsava 15 milhões de euros (R$ 55,5 milhões) por ano. Mas agora ele está em outro nível. Vai receber mais, inclusive, que  o argentino Messi (24 milhões de euros, ou R$ 88,8 milhões) e Cristiano Ronaldo (21 milhões de euros, R$ 77,7 milhões).

O Neymar do PSG é um patamar que não existia no futebol. E que nos faz pensar até onde vai a ambição de quem está na linha de frente desse esporte, comandando os destinos dos mais ricos clubes do mundo. Qual é o parâmetro para essa turma? Quanto vale, de fato, um jogador de futebol? Como mensurar isso? Como controlar?

A Uefa, que dirige o futebol europeu, tenta fazer isso pelo regulamento de fair play financeiro. Segundo esse regimento, os salários dos jogadores não podem ser maiores que 70% do rendimento de um clube. O último balanço do PSG indica, na era pré-Neymar, arrecadação de 542 milhões de euros (mais de R$ 2 bilhões) e gastos de 437 milhões (cerca de R$ 1,615 bilhão).  Em 2016, 54% da receita correspondeu ao pagamento de salário de seus jogadores, e várias estrelas nada baratas estão entre eles, como o uruguaio Cavani e o argentino Di María. A essa turma se juntou, no último mês, um também valorizado Daniel Alves, ajudando a inflacionar um pouquinho essa folha salarial.

Já está claro que dinheiro não é problema para o catariano Al-Khelaifi, presidente/dono do PSG desde 2011. Hoje, o clube aparece em 11º na lista dos mais ricos do mundo, em relação divulgada em junho pela revista Forbes. Ao dar esse passo gigantesco para contratar Neymar, Al-Khelaifi mostrou que não há fronteiras no planeta bola, enquanto sua conta bancária puder bancar quem ele desejar ver vestindo a camisa de sua equipe. Nem o céu, nesse caso, parece ser o limite.

 

Tags: futinternacional