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TIRO LIVRE

E agora, alguém liga? Talvez sim

A possibilidade de Atlético e Cruzeiro disputarem o título mereceu pelo menos uma elevação unilateral de sobrancelha do torcedor

postado em 01/09/2017 12:00 / atualizado em 01/09/2017 09:13

Montagem: Alexandre Guzanshe e Bruno Cantini

Você já deve ter lido/ouvido toda sorte de trocadilho a respeito da Copa da Primeira Liga. O nome da competição, associado ao pouco interesse do público (a média geral não chega a 7 mil torcedores por partida) e dos próprios times, tornou fértil a mente dos que gostam de brincar com as palavras. Até a tarde de quarta-feira, reinava a afirmação: ninguém liga. Mas com Atlético e Cruzeiro classificados para a semifinal e a perspectiva de clássico mineiro na decisão do título, o rumo mudou para um questionamento: “Será mesmo que ninguém liga?”. A reposta pode demorar um pouquinho a ser conhecida, mas há indícios de que os torcedores alvinegros e celestes podem acabar, no fim das contas, ligando para a final da Primeira Liga.

Pra início de conversa, é bom deixar claro que são os próprios clubes, criadores da competição, os maiores responsáveis por desvalorizá-la. No papel, uma grande ideia. Afinal, não havia momento mais adequado para se desvincularem da CBF, cujos cartolas (e ex-cartolas) são investigados internacionalmente por participação em esquema de corrupção – inclusive o próprio presidente, Marco Polo del Nero, não deixa o Brasil nem para competições oficiais com a Seleção temendo ser preso. Com a liberdade para negociar contratos e formato, as equipes brasileiras tinham a grande chance de ir à forra. Mas meteram os pés pelas mãos. Mostraram que os interesses individuais ou de pequenos grupos ainda estão acima do coletivo. E a CBF, na figura de seus mandatários, ficou assistindo a tudo de camarote.

A partir daquela bagunça que foi a criação da própria Liga, há dois anos, era difícil imaginar que a Copa engrenaria. E de fato não engrenou. Dentro de um calendário já estrangulado, as partidas pelo torneio perderam o embate com competições mais atrativas para a torcida, como Libertadores e Copa do Brasil. Não foram poucas as vezes em que as equipes entraram em campo com formações mistas ou mesmo totalmente reservas. Num efeito dominó, o torcedor sumiu da arquibancada, preferindo investir seu dinheiro em outras frentes.

Como se o cenário não fosse desanimador o suficiente, a ele se juntou um grande intervalo entre os jogos, como bem lembrou o técnico cruzeirense, Mano Menezes, após o jogo contra o Grêmio, na quarta à noite. “Ninguém nem se lembrava mais da Primeira Liga”, disse, referindo-se ao período de cinco meses entre a última partida da primeira fase e as quartas de final. Não tinha muito como dar liga.

E aí calhou de Atlético e Cruzeiro chegarem à semifinal contra os paranaenses Paraná e Londrina, respectivamente. E a possibilidade de os rivais mineiros disputarem o título mereceu pelo menos uma elevação unilateral de sobrancelha do torcedor.

O celeste pode dizer que a prioridade é o penta da Copa do Brasil, e ninguém em sã consciência pensaria diferente. Completamente compreensível, e mais do isso, altamente aconselhável Mano poupar seus titulares contra o Londrina, domingo, na semifinal da Primeira Liga. A atenção precisa estar toda no Flamengo, neste momento não tem como ser diferente. Mas avançar à final do torneio pode não ser de todo mal, uma vez que a decisão da Primeira Liga será apenas em 8 de outubro e, até lá, a ressaca do desfecho da Copa do Brasil terá passado, uma vez que o campeão será conhecido 11 dias antes.

Já para o Atlético, o jogo contra o Paraná não deixa de ter vindo em boa hora. Tivesse sido eliminado pelo Internacional, o alvinegro viveria um hiato de nove dias até a retomada do Campeonato Brasileiro, no dia 9. Em vez de liberar os jogadores para uns bons dias de folga (até porque são raros os que estão merecendo qualquer tipo de férias-prêmio neste momento), melhor trabalhar e pôr os treinos em prática contra o tricolor paranista, amanhã. Aliás, o que mais Rogério Micale precisa, agora, é ajustar a equipe. E todo mundo sabe que treino é treino e jogo é jogo. Então, colocar o time pra jogar pode trazer benefícios que vão além da Primeira Liga.

Nesse raciocínio, ainda entra a compensação financeira. O campeão da Primeira Liga vai embolsar R$ 3 milhões. Não é nada, não é nada no milionário e inflacionado mundo do futebol, para o Atlético já banca um mês e meio de salário de Robinho e Fred. Para o Cruzeiro, dá e sobra para pagar a dívida que o Barcelona de Guayaquil cobra pela transferência do zagueiro Caicedo, segundo a imprensa equatoriana, R$ 850 mil.

Por fim, entra a rivalidade, combustível principal do futebol, que justificaria qualquer disputa por título. Aí, todo mundo liga. O capítulo final desta história nós contaremos em outubro, quando a Coluna Tiro Livre retornar de férias – diferentemente dos jogadores atleticanos, a colunista aqui fez o dever de casa direitinho nos últimos 12 meses e merece seus abençoados dias de descanso.

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