COPA

Cego desde 2004, estudante foi conhecer a Fan Fest para acompanhar a Seleção Brasileira

Thiago Campos sebte atmosfera do futebol na areia de Copacabana apenas pelo som

postado em 18/06/2014 15:04 / atualizado em 18/06/2014 17:24

Cassio Zirpoli/DP

Cassio Zirpoli
Enviado especial

Rio de Janeiro - "Vem com a gente, Thiago. Assiste lá. Vai perder uma dessa?" Os amigos nem precisaram insistir muito. O fato de ter futebol e multidão na jogada já era suficiente para convencer o rapaz de 21 anos, que diz gostar de fazer loucura por futebol. Apesar da autodescrição, a estreia no Mundial tinha sido em casa, na companhia da famíla, sem aperreio. Ontem, encarou a areia e o sol forte de Copacabana para torcer pela Seleção Brasileira. No aperto. Entre os mais de 25 mil torcedores presentes na Fan Fest, numa gama de culturas e línguas tão distintas, ao menos um não fixou o olhar para o enorme telão de LED no palco principal. Não precisava. O comportamento da massa e a intensidade da narração bastavam para a tarde valer a pena. Thiago Campos não enxerga há dez anos.

Uma doença diagnosticada tardiamente na adolescência tirou totalmente a sua visão. Uma de suas últimas últimas lembranças no futebol é justamente a última Copa do Mundo conquistada pelo país, em 2002. "Lembro de Zidane acabando com a gente em 1998, mas lembro ainda mais do time de Ronaldo e Rivaldo. A minha torcida não mudou de lá para cá", disse o estudante, que saiu de casa, em Santíssima, na zona oeste, logo cedo.

Ele sabia que o dia seria agitado. O trânsito realmente não foi fácil no Rio, com o fluxo tenso nos dois sentidos. Muita gente voltando rapidamente para casa após meio expediente e outras tantas se dirigindo ao maior foco de animação da cidade. A imensa maioria foi a caráter. Ou com o uniforme da respectiva seleção ou segurando bandeiras. E nem precisava fazer parte de direito da Copa 2014. Torcedores escoceses e israelenses que o digam.

No meio desse furdunço todo, num consumo de cerveja além da conta dos demais, Thiago se divertia em seu canto, acompanhado do amigo Rodrigo, numa mistura de sons e percepções. "Eu gosto da torcida. Sou Flamengo e frequento o Maracanã direto. O barulho no estádio é demais. Meus amigos vieram na estreia e disseram que era legal. Aí, topei escutar aqui também", afirmou Thiago, claro, vestido de verde e amarelo. Assíduo do Maraca, ele conseguiu ingresso para apenas um jogo da Copa. No próprio Mário Filho, domingo, no confronto entre Bélgica e Rússia.

Antes, precisava apoiar o Brasil. Entre uma foto e outra, e dezenas de mexicanos passando pra lá e pra cá com os seus sombreros e máscaras do mucha lucha, ele foi ficando apreensivo no silêncio da torcida brasileira. As chances foram surgindo, mas com a bola sempre parando em Guillermo Ochoa. "Eu sei quando vai sair o gol. Eu simplesmente sei. Vai mudando tudo. E por isso que ainda vou aos jogos. Espero não ser pé frio". A narração de Galvão Bueno - na transmissão oficial do evento - não chegou a tanto.

Na verdade, ninguém viu gol, com a Seleção ficando no empate. Não houve o levante tão esperado pelo torcedor, mas não fez diferença. A atmosfera durante toda a tarde, com milhares de pessoas de todos os cantos correspondeu à expectativa criada pelos amigos. Melhor sorte no Maracanã, Thiago.