Libertadores 1997
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LIBERTADORES 1997

Libertadores 1997: 20 fatos marcantes e curiosidades do bicampeonato do Cruzeiro

Mudança de técnico, reação, decisões nos pênaltis, reforços e alguns milagres

postado em 11/08/2017 08:05 / atualizado em 16/12/2020 23:07

1) Conflitos e começo de trabalho ruim

Com a ida de Levir Cupi para o Japão em 1996, o Cruzeiro contratou o ex-zagueiro Oscar Bernardi para assumir o comando do time em 1997. Foram apenas cinco jogos no comando. O treinador enfrentou a resistência de alguns atletas. Houve um atrito com o zagueiro Gelson Baresi. Cleison e Fabinho lembram esse período que antecedeu a Libertadores.

Cleison
A nossa pré-temporada não foi legal. Eu lembro que nosso treinador na época era o Oscar Bernardi, e enfim, a gente não estava com aquela sintonia entre comissão técnica e os jogadores. O Cruzeiro começou muito mal.

Fabinho
Não quero falar muito abertamente, mas a verdade é que não começamos bem fisicamente. Começamos mal, por problemas internos. A gente precisava melhorar a parte física.

(Foto: Estado de Minas)

2) Estreia com derrota

Depois de derrota em amistoso com o Fluminense (2 a 1) e três jogos pelo Campeonato Mineiro, contra Montes Claros (1 a 0), Mamoré (3 a 1) e Guarani de Divinópolis (0 a 0), o Cruzeiro estreou na Copa Libertadores em 19 de fevereiro e saiu derrotado do Mineirão pelo Grêmio, por 2 a 1. Se o ambiente já não era bom, o resultado fez aumentar a pressão.

3) Demissão de Oscar Bernardi

O revés frustrante em casa na abertura da Libertadores resultou na prematura queda de Oscar Bernardi. Ele ficou no cargo menos de dois meses e dirigiu o time em cinco partidas, com duas vitórias, um empate e duas derrotas. Vinte anos depois, em entrevista ao Superesportes, o ex-técnico lembra aquele momento conturbado.

“Eu fui demitido. Não estava um ambiente legal para trabalhar. Alguns jogadores estavam acomodados, já que eram titulares com todos os outros treinadores anteriores. Mas nome comigo não joga mesmo. Se tiver em forma, joga. Mas se achar que com nome vai jogar, não vai. Se teve algum atrito, foi coisa do futebol, de campo. Me lembro só que o Gelson veio falar comigo. Ele era titular e tal. Mas são coisas do futebol. Ele estava fora do peso, e teria que perder peso. Mas não teve atrito grave e eu não guardei nada disso. Tenho boa recordação de todos”, disse Oscar.

(Foto: Estado de Minas)

4) Contratação de Paulo Autuori

A diretoria agiu rápido e logo anunciou Paulo Autuori para substituir Oscar Bernardi. No Mineiro, o Cruzeiro passou a jogar com uma formação reserva, na época chamada de Expressinho. Quem dirigia essa equipe B era Wantuil Rodrigues. Enquanto isso, Autuori ganhou tempo para preparar o time principal para a sequência na Copa Libertadores.

”Houve mudanças na comissão, o time foi ganhando corpo, fisicamente foi melhorando. A gente precisava melhorar a parte física. A parte técnica só evoluiu quando a parte física melhorou. Tivemos uma folga, pegamos pesado na parte física e a coisa começou a funcionar”, conta o volante Fabinho sobre aquele período de transição.  

5) Mais duas derrotas, agora no Peru

Já sob a batuta de Paulo Autuori, o Cruzeiro foi ao Peru para dois jogos seguidos contra Alianza Lima e Sporting Cristal, fechando o turno do grupo. Mesmo de ânimo novo, o time perdeu os dois compromissos por 1 a 0, complicando sua situação na chave.

6) Reação, com três vitórias seguidas

Ameaçado de cair prematuramente na primeira fase, o Cruzeiro entrou no returno do grupo precisando somar pontos a todo custo. E a primeira vitória veio sobre o Grêmio, em Porto Alegre, por 1 a 0, com gol de Palhinha. Em seguida, o time se impôs diante dos peruanos no Mineirão: triunfos por 2 a 0 sobre Alianza e 2 a 1 sobre Sporting Cristal.

(Foto: Estado de Minas)
”Com a chegada do Paulo Autuori nós tiramos energia de onde não tinha, nos unimos muito. Com muita força de vontade fizemos uma grande segunda fase no grupo, e conseguimos o nosso objetivo. O Paulo foi fundamental, com muita conversa, muita sinceridade, ele é um ser humano espetacular, grande treinador, muito inteligente, sempre conversava com os jogadores, numa conversa aberta, e jogador gosta disso, de jogo aberto. Na gíria do futebol, corremos pelo nosso treinador e, no final, deu certo”, lembra Cleison.

7) O retorno de Marcelo Ramos

Um fato marcante na trajetória do Cruzeiro rumo ao título foi a contratação de Marcelo Ramos ao PSV da Holanda para a fase de mata-matas. Herói da Copa do Brasil de 1996, ele havia sido vendido ao clube holandês e por lá ficou um ano. No retorno à Toca, ele conquistou a vaga de titular e teve papel decisivo até o fim da Libertadores.

(Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press/Reproducao)

”Eu era um jogador praticamente do grupo, porque fiquei menos de um ano na Holanda. Encontrei o Nonato e ele disse que o grupo todo aceitou a minha contratação, diziam que eu era um jogador decisivo. Eu era fechado com os jogadores. O próprio Nonato me ligou para voltar, disse que o grupo estava aceitando minha contratação e isso pesou bastante para eu voltar ao Cruzeiro. Sabíamos que seria difícil vencer a Libertadores, mas que seríamos favoritos depois de passarmos por todas as dificuldades na primeira fase. Crescemos muito de produção e a parte técnica foi prevalecendo", conta Marcelo Ramos ao Superesportes.

8) A chegada do capitão

Além de fechar o retorno de Marcelo Ramos, o Cruzeiro anunciou a chegada do zagueiro Wilson Gottardo, homem de confiança de Paulo Autuori. Ambos trabalharam no Marítimo de Portugal e foram campeões brasileiros em 1995, no Botafogo. O reforço passaria a ser o capitão cruzeirense.

”Quando cheguei, faltava uma rodada para acabar a primeira fase. Estava treinando, comecei a jogar o Mineiro. Vi muita qualidade no time. Era um time diferente. Um meio-campo que marcava e jogava. Tinha o Marcelo Ramos e o Palhinha, que ajudavam a defesa; o Donizete, com facilidade para sair jogando; Ricardinho, Fabinho e Cleisson, muito firmes também. Era um time com variação de jogo, agressivo na marcação e que jogava com ousadia, com coragem. Não se intimidava com o futebol dos concorrentes na América do Sul”, lembra Gottardo.

9) O primeiro milagre de Dida 

Coube ao Cruzeiro enfrentar nas oitavas de final o El Nacional do Equador, que se classificou em segundo no grupo formado por Vélez Sarsfield e Racing da Argentina. Os mineiros não teriam vida fácil. Em Quito, derrota por 1 a 0, com gol do endiabrado atacante Chalá. No duelo de volta, no Mineirão, o Cruzeiro vencia por 2 a 0, com gols de Marcelo Ramos. O jogo parecia controlado, até que Arroyo, no último minuto, em cobrança de falta, fez o gol que levaria a decisão para os pênaltis. Começava a brilhar a estrela do gigante Dida, de 1,96m. Nas batidas, ele parou justamente Chalá, e o Cruzeiro venceu por 5 a 3. 

(Foto: Estado de Minas)
”Com aquela altura toda, a gente sabia que ele ia pegar bolas altas, pênaltis. Em cobranças de pênaltis, a gente sabia que ele ia pegar um ou dois, e isso dava tranquilidade para quem ia cobrar. Ele era muito regular. Eu era batedor, treinava muito, mas sabia que, se errasse, o Dida ia ajudar, porque ele sempre pegava ao menos um”, lembra o volante Fabinho.

10) O gol épico de Fabinho

Nas quartas de final, o Cruzeiro tinha outra pedreira pela frente: o Grêmio. Já embalado por bons resultados, o time celeste venceu por 2 a 0 no Mineirão, com gols de Elivélton e Alex Mineiro. A decisão da vaga, no antigo Estádio Olímpico, em Porto Alegre, reservava uma dessas históricas épicas do futebol. O personagem central foi o volante Fabinho. Já no segundo tempo e se destacando muito na marcação, ele sentiu uma lesão na parte posterior da coxa esquerda. “Pensei, não acredito. Meus Deus! Eu era o melhor em campo, foi minha melhor partida pelo Cruzeiro, eu estava jogando muito”, lembra.

Mas o melhor estava por vir. Mesmo machucado, Fabinho decidiu, por conta própria, lançar-se ao ataque para tentar contribuir de alguma maneira com o time até que fosse substituído. “Fui correndo na ponta do pé. Malandro, experiente, eu não deixava a perna esticar”. 

E por um dos caprichos do futebol, foi de Fabinho o gol que abriu o placar no Olímpico. Célio Lúcio roubou a bola no meio de campo e lançou Alex Mineiro na ponta direita. O cruzamento saiu perfeito e encontrou o volante sozinho dentro da área. “A bola viajou e eu ia fazer de cabeça. Mas, na hora, estava tão solto na área que botei a bola no peito, dominei e chutei. Depois da substituição, fiquei no vestiário ouvindo o jogo pelo radinho, acompanhado pelo roupeiro Geraldinho. Ficamos em cima de um saco de roupa”, lembra.

O Cruzeiro sofreu a virada, por 2 a 1, mas avançou às semifinais para encarar o Colo Colo.

11) Cleison leva a decisão para os pênaltis

Nas semifinais, o Cruzeiro enfrentou o Colo Colo, velho conhecido de embates internacionais. A série foi aberta no Mineirão, com vitória celeste por 1 a 0. De novo, Marcelo Ramos foi decisivo. Mas muitas emoções estavam reservadas para Santiago. No Estádio Monumental David Arellano, em jogo parelho, de muita pressão, o Cacique caminhava para a vitória no tempo normal, por 3 a 1, com hat-trick de Basay – dois convertidos em penalidades. Tudo mudou aos 18 do segundo tempo. Depois de cobrança de falta de Marcelo Ramos, o goleiro Marcelo Ramírez não segura e Cleison faz o gol que levaria a decisão para os pênaltis. Estava reaberto o caminho da classificação à final.



”O jogo do Colo Colo foi realmente foi espetacular, sensacional, muita disposição em campo, muita vontade. A gente estava praticamente fora, e no final eu tive a felicidade de fazer o gol que levou à decisão por pênaltis. Lembro como se fosse hoje esse jogo, pensando na tristeza que seria ser eliminado. O Cruzeiro é um clube grande, a cobrança era enorme, mas eu senti que ia fazer aquele gol. Foi numa falta, eu estava do lado, na barreira do Colo Colo. Parece mentira, mas eu senti que ia sobrar pra mim. Dei pique antes do zagueiro e tive a felicidade de fazer o gol. E saímos vencedores nos pênaltis”, lembra Cleison.

12) Dida volta a fazer a diferença nos pênaltis

Na decisão por pênaltis, contra o Colo Colo, voltou a brilhar a estrela do gigante Dida. Assim como ocorreu diante do El Nacional do Equador, ele fez a diferença em Santiago e pegou as cobranças de Basay, no centro do gol, e de Espina, no canto alto esquerdo. Naquela noite, converteram para o Cruzeiro: Ricardinho, Fabinho, Donizete e Marcelo Ramos.

”O Dida vivia uma grande fase e, com certeza, o clima era favorável pra gente nas cobranças de pênaltis. A confiança era muito grande”, lembra o zagueiro Célio Lúcio.

Assista ao depoimento de Célio Lúcio em entreista ao Superesportes na Toca I


13) Pancadaria em Santiago

Na caminhada rumo ao bi da América, o Cruzeiro teve que encarar também a violência. Passada a decisão por pênaltis, em Santiago, os jogadores e torcedores do Colo Colo não aceitaram a derrota. Durante a celebração cruzeirense no gramado, objetos foram atirados nos atletas. No caminho do vestiário, os brasileiros foram cercados no túnel do Estádio Monumental David Arellano. Quem mais apanhou foi o volante Donizete Oliveira.

Quando os ânimos foram acalmados pela polícia chilena, o vestiário cruzeirense finalmente pôde comemorar a vaga na decisão. E começou a zoeira, tendo Donizete como alvo. Logo ele, o que mais apanhou na confusão.

Cleison lembra, com risadas e detalhes, o clima no vestiário em Santiago. 

14) Rival foi algoz de argentinos

Na final, o Cruzeiro teria pela frente um adversário já conhecido. O Sporting Cristal, dirigido pelo uruguaio Sergio Markarian, havia sido rival na fase de grupos e vinha embalado após eliminar Vélez Sarsfield (oitavas), Bolívar (quartas) e Racing (semifinais). O clube já havia feito história ao levar o Peru pela segunda vez a uma decisão de Libertadores. O único time do país numa final havia sido o Universitario, em 1972.

”Fomos indo passo a passo, jogo a jogo, e passamos a acreditar que poderíamos ir longe quando conseguimos resultados importantes, como vencer o Vélez na Argentina”, recorda Nolberto Solano, meio-campista do Sporting Cristal à época, em entrevista ao Superesportes.

15) Expulsão na primeira final

O Cruzeiro abriu a final em Lima, num jogo equilibrado, e que terminou empatado em 0 a 0. Entre os jogadores do Cruzeiro foi unanimidade dizer que o time atuou melhor fora de casa nessa decisão. Houve chances de marcar. O fato marcante foi a expulsão de Cleison. Com isso, uma das figuras importantes do time estava fora da finalíssima.

(Foto: Paulo Filgueiras/EM)

16) O grande milagre de Dida

Com o Mineirão lotado, o Cruzeiro entrou em campo pressionado pelo favoritismo. O jogo corria nervoso, sem grandes oportunidades de gol. Na etapa final, a tensão aumentou. Em silêncio, os mais de cem mil espectadores viram Dida fazer uma defesa com alto grau de dificuldade em cobrança de falta frontal de Nolberto Solano, especialista no fundamento. Um leve toque da bola na barreira tornou o feito mais valioso. No rebote, o brasileiro Julinho apareceu livre, bateu à queima-roupa e o paredão do Cruzeiro salvou com as pernas. Parecia um sinal de que a noite era azul.


17) Nonato, e não Palhinha no escanteio

Uma das curiosidades da final foi revelada por Nonato em entrevista ao Superesportes. A cobrança de escanteio que originou o gol de Elivélton, aos 30 minutos, deveria ter sido feita por Palhinha. Mas, por conta da posição do meia em campo e da pressa para tentar o gol, o próprio lateral assumiu a batida. “O Palhinha estava do outro lado. Ai falei, ‘ah, não vou esperar o Palhinha sair do outro lado para bater o escanteio’. Eu mesmo vou bater. E sendo sincero, não foi escanteio bem batido, a bola viajou muito”.

18) Gol com a ‘poderosa’ perna direita

Por um dos caprichos do futebol, o escanteio mal batido por Nonato, como ele mesmo admitiu, foi cortado pelo defensor do Sporting Cristal na entrada da área. Na sequência, o Mineirão explodiu com o gol ‘improvável’ de Elivélton. Tudo porque o arremate foi dado de perna direita. O atacante era canhoto. “Ele nunca tinha dado um chute de perna direita”, brincou Nonato, ao relembrar o lance.

(Foto: Estado de Minas)

19) Falha de Balerio

O gol do título não saiu apenas graças à cobrança ruim de Nonato, ao corte do zagueiro e à ‘poderosa’ perna direita de Elivélton, mas também teve a colaboração do goleiro uruguaio Julio Cesar Balerio, com passagens por Boca Juniors e Racing da Argentina. De frente para o lance, ele saltou confiante, mas viu a bola lhe escapar das mãos e entrar no canto direito. “Teve uma ajudazinha do goleiro também. Daria para ele defender”, completou Nonato sobre o lance que colocou todos aqueles jogadores na história do Cruzeiro.

(Foto: Reprodução TV Peruana)

20) Maior público da história da Libertadores

A trajetória vitoriosa do Cruzeiro na Libertadores foi coroada com outro feito. Na final, a torcida celeste registrou o maior público presente de uma partida do torneio continental, com 106.853 espectadores. O número de pagantes ficou bem abaixo: 95.472 pagantes.

(Foto: Cruzeiro/divulgaçao)
O segundo maior público é o da final da Libertadores de 1992, entre São Paulo e Newell’s Old Boys, no Morumbi, com 105.185 torcedores presentes.

Série de reportagens começa nesta sexta e vai até o próximo domingo, dia 13/8

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