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COLUNA DO JAECI

Uma morte anunciada

O futebol, que deveria ser amor, paixão e diversão, virou essa guerra, em todos os sentidos

postado em 04/03/2017 12:00 / atualizado em 04/03/2017 09:40

AFP / VANDERLEI ALMEIDA
Zico, que fez aniversário na última sexta-feira, detonou a determinação da Justiça do Rio para que a decisão da Taça Guanabara entre Flamengo e Fluminense tenha apenas uma torcida. O Galinho disse: “É a morte do futebol. O futebol não é guerra, e sim lazer”. O que Zico disse, eu venho dizendo e escrevendo neste espaço há tempos. O futebol brasileiro morreu, só esqueceram de enterrá-lo depois daqueles 7 a 1 da Alemanha, em plena semifinal, em nossa casa. Morreu quando fundaram as chamadas torcidas organizadas, hoje, em sua maioria, com algumas exceções, comandadas por bandidos travestidos de torcedores, que não amam os clubes. Usam os clubes para matar ou morrer. Na quinta-feira, por exemplo, o fundador da torcida Mancha Verde, do Palmeiras, foi assassinado com mais de 15 tiros. Com certeza, represália de algum, ou alguns, dos seus desafetos. E os casos não param. Brigas entre gangues acontecem de norte a sul do país, sem que as autoridades consigam dar um basta. Já vimos cenas marcantes, como aquela de um pai protegendo o filho entre seu corpo para que ele não fosse atingido, em um jogo entre Vasco e Corinthians, onde houve um massacre generalizado.

Em Minas Gerais, vivemos esse “estado de sítio” com a presença de uma única torcida no clássico Atlético x Cruzeiro, Cruzeiro x Atlético, durante os últimos anos. Agora, no jogo mais recente, pela Primeira Liga, as duas torcidas voltaram a dividir o Mineirão e deram um belo espetáculo, sem brigas, sem violência. Foi um avanço, mas que precisa ser sacramentado nos próximos clássicos para termos a certeza de que a paz voltou a reinar. Acho que Zico não entendeu que o futebol brasileiro agoniza há tempos, pelos desmandos, pela corrupção, por dirigentes venais, técnicos enganadores, jogadores medíocres, e torcedores bandidos. Essa combinação foi mortal para nos jogar no buraco. O Rio de Janeiro vive um momento crítico, com um ex-governador preso, o atual sob investigação e o estado quebrado, sem dinheiro para pagar os funcionários. Não seria o futebol carioca uma exceção. O Maracanã (foto), templo sagrado do futebol, está jogado às traças e as principais equipes abrem mão de jogar lá porque as taxas são absurdas. Os donos do espetáculo, os times, são os que mais pagam para jogar, e arrecadam muito pouco. Os valores estão invertidos. As construtoras, a maioria envolvida na Lava-Jato, acharam que iriam construir estádios, gastar uma fortuna, e que os clubes iriam concordar em ser chantageados para jogar no Maracanã. Deram-se mal. Aliás, já passou da hora de Flamengo, Botafogo e Fluminense terem seus próprios estádios, construídos por patrocinadores, que entendam que as receitas têm que ser, em sua maior parte, dos clubes.

Sim, meu caro Zico. Você jogou no Maracanã lotado, com mais de 150 mil torcedores dividindo o estádio, cada um com sua camisa, sua bandeira, esperando o resultado para soltar o grito de campeão e gozar o perdedor, de forma inteligente, leal, sem agressão ou morte. Eram outros tempos, meu caro Galinho. Eram tempos de ouro do nosso futebol, onde Jaime comandava a charanga rubro-negra; Bororó, a Charanga do Galo; Tia Dulce Rosalina, a torcida vascaína. Bons tempos que não voltam mais. O futebol, que deveria ser amor, paixão e diversão, virou esta guerra, em todos os sentidos. Nos bastidores, no campo e nas arquibancadas. Uma pena que a única coisa que nos dava alegria no país da corrupção e roubalheira está morrendo, junto com a dignidade de um povo oprimido e achincalhado por governantes ladrões e corruptos. Pobre futebol brasileiro, cinco vezes campeão do mundo, sem o mínimo de organização. Uma pena!


Aniversário

Hoje é aniversário do meu amigo, papa da ortopedia, Neylor Lasmar. Que Deus o abençoe sempre, com muita saúde, ao lado de sua linda família. Um beijo no seu coração, Neylor.

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