Em Minas Gerais, vivemos esse “estado de sítio” com a presença de uma única torcida no clássico Atlético x Cruzeiro, Cruzeiro x Atlético, durante os últimos anos. Agora, no jogo mais recente, pela Primeira Liga, as duas torcidas voltaram a dividir o Mineirão e deram um belo espetáculo, sem brigas, sem violência. Foi um avanço, mas que precisa ser sacramentado nos próximos clássicos para termos a certeza de que a paz voltou a reinar. Acho que Zico não entendeu que o futebol brasileiro agoniza há tempos, pelos desmandos, pela corrupção, por dirigentes venais, técnicos enganadores, jogadores medíocres, e torcedores bandidos. Essa combinação foi mortal para nos jogar no buraco. O Rio de Janeiro vive um momento crítico, com um ex-governador preso, o atual sob investigação e o estado quebrado, sem dinheiro para pagar os funcionários. Não seria o futebol carioca uma exceção. O Maracanã (foto), templo sagrado do futebol, está jogado às traças e as principais equipes abrem mão de jogar lá porque as taxas são absurdas. Os donos do espetáculo, os times, são os que mais pagam para jogar, e arrecadam muito pouco. Os valores estão invertidos. As construtoras, a maioria envolvida na Lava-Jato, acharam que iriam construir estádios, gastar uma fortuna, e que os clubes iriam concordar em ser chantageados para jogar no Maracanã. Deram-se mal. Aliás, já passou da hora de Flamengo, Botafogo e Fluminense terem seus próprios estádios, construídos por patrocinadores, que entendam que as receitas têm que ser, em sua maior parte, dos clubes.
Sim, meu caro Zico. Você jogou no Maracanã lotado, com mais de 150 mil torcedores dividindo o estádio, cada um com sua camisa, sua bandeira, esperando o resultado para soltar o grito de campeão e gozar o perdedor, de forma inteligente, leal, sem agressão ou morte. Eram outros tempos, meu caro Galinho. Eram tempos de ouro do nosso futebol, onde Jaime comandava a charanga rubro-negra; Bororó, a Charanga do Galo; Tia Dulce Rosalina, a torcida vascaína. Bons tempos que não voltam mais. O futebol, que deveria ser amor, paixão e diversão, virou esta guerra, em todos os sentidos. Nos bastidores, no campo e nas arquibancadas. Uma pena que a única coisa que nos dava alegria no país da corrupção e roubalheira está morrendo, junto com a dignidade de um povo oprimido e achincalhado por governantes ladrões e corruptos. Pobre futebol brasileiro, cinco vezes campeão do mundo, sem o mínimo de organização. Uma pena!