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Gottardo revela decepção por corte no Mundial Interclubes: "Fui injustiçado"

Capitão do Cruzeiro na conquista da Libertadores de 1997, Wilson Gottardo fala sobre o título e revela decepção por ter sido cortado do Mundial por Nelsinho Baptista

14/08/2012 08:00 / atualizado em 12/09/2022 19:56
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Gottardo ergue a taça de campeão
foto: Arquivo/Cruzeiro

Gottardo ergue a taça de campeão


Revelado no União Barbarense e com passagens marcantes por Guarani, Botafogo, São Paulo e Fluminense, Wilson Roberto Gottardo jogou por pouco tempo no Cruzeiro, porém, fez o suficiente para se tornar ídolo de grande parte dos torcedores. Capitão do time celeste no bicampeonato da Copa Libertadores da América em 1997, o ex-zagueiro conta, 15 anos depois, como foi a sensação de levantar o troféu diante de mais de 100 mil pessoas no Mineirão.

”Desde sempre eu planejei esse momento na minha vida. Antes da final contra o Sporting Cristal, falei ao governador de Minas Gerais da época, Eduardo Azeredo, que a taça ficaria em Belo Horizonte. A promessa foi cumprida. Além de ter pensado na torcida do Cruzeiro, também pensei na minha família e nos meus amigos. Todos estavam unidos pela conquista do Cruzeiro e felizmente ela veio”, disse Gottardo, em entrevista ao Superesportes.

Embora tenha sido capitão do Cruzeiro na conquista da Libertadores, Gottardo só chegou ao clube a partir das oitavas de final da competição. O zagueiro, que atuava pelo Fluminense, voltava de contusão e foi contratado pelo time celeste a pedido do técnico Paulo Autuori.


“Eu já tinha trabalhado com o Paulo Autuori no Botafogo e ele pediu a contratação de um zagueiro. Na época, eu ainda estava em período de recuperação de uma contusão no tornozelo. Surgiu o interesse do Cruzeiro e eu aceitei. Porém, só fui inscrito para a Libertadores a partir da segunda fase”, revelou.

Mais de 100 mil torcedores foram ao Mineirão assistir o título do Cruzeiro na Libertadores
foto: Arquivo/Cruzeiro

Mais de 100 mil torcedores foram ao Mineirão assistir o título do Cruzeiro na Libertadores

Assim que estreou pelo Cruzeiro, Wilson Gottardo recebeu a faixa de capitão e procurou passar experiência aos jogadores mais jovens. “Assim que cheguei em Belo Horizonte, tive de me adaptar aos costumes locais, conhecer a personalidade dos jogadores e respeitar as regras do clube. Procurei interagir com todos os jogadores. Já conhecia alguns que já haviam jogado comigo em outras equipes, entre eles Gélson, Rogério Lourenço, Fabinho, Palhinha, e isso facilitou bastante”.

No caminho até a final da Libertadores, o time eliminou dois adversários nos pênaltis – El Nacional, do Equador, e Colo Colo, do Chile. Gottardo chamou a responsabilidade para si e assinalou suas cobranças nas duas decisões. “Disputa de pênaltis é muito tensa e a adrenalina é muito forte. Mesmo a gente treinando as cobranças, tudo é questão de momento. Para dar um bom chute, você tem que estar confiante, psicologicamente fortalecido e sem lesões. No meu caso, sempre criei um desafio pessoal para mim de ter a obrigação de converter as cobranças”, explicou.

Símbolo de liderança e personalidade, Gottardo afirma que sempre foi respeitado por todos os companheiros de equipe do Cruzeiro. “Procurei ajudar, passar experiência, dar orientações a todos. Minhas atitudes dentro e fora de campo e a compreensão dos colegas facilitaram para que tudo se ajustasse no elenco”, disse.

O capitão ainda falou sobre o bom relacionamento do grupo que conquistou a Libertadores. “O elenco se dava bem. Tinha jogadores vencedores e experientes, e atletas que ainda lutavam para se firmar na equipe. Também havia jogadores com história no clube, entre eles Palhinha, Dida e Nonato. Todos nós tínhamos o foco no título”, completou.
 
Na Toca da Raposa I, equipe posa para a foto oficial. Gottardo está em pé, ao lado de Dida
foto: Arquivo/Cruzeiro

Na Toca da Raposa I, equipe posa para a foto oficial. Gottardo está em pé, ao lado de Dida

O adversário do Cruzeiro na final da Libertadores foi o Sporting Cristal, do Peru, que havia caído na mesma chave que o time celeste na fase de grupos. Nos dois confrontos, uma vitória para cada lado. Quando o time celeste soube que enfrentaria o Cristal na decisão, parte da imprensa questionou, dizendo que o time era fraco. No entanto, Gottardo discordou e afirmou que os peruanos tinham uma equipe bem montada e com excelente toque de bola.

“O Sporting Cristal eliminou Vélez e Racing nos mata-matas. Tinha uma equipe qualificada, com toque de bola eficiente. Tinha o Solano, talento maior da equipe, que coordenava as jogadas. Era um time que jogava muito bem coletivamente.”

Na final da Libertadores, Sporting Cristal e Cruzeiro empataram o primeiro jogo por 0 a 0, em Lima, no Peru. Na segunda partida, no Mineirão, o gol marcado por Elivélton aos 30 minutos do segundo tempo deu o bicampeonato da maior competição de futebol das Américas ao time celeste.

Sobre o corte no Mundial Interclubes


Se por um lado Gottardo foi um dos principais nomes do Cruzeiro na campanha do título da Libertadores, por outro, ele carrega a decepção por não ter participado do Mundial Interclubes no final daquele ano, contra o Borussia Dortmund, da Alemanha. Na época, o time celeste não era mais comandado por Paulo Autuori, mas sim por Nelsinho Baptista, que optou por deixá-lo de fora da relação de convocados. Chateado, Gottardo afirmou que vivia boa fase na equipe e que sua ausência na decisão contra os alemães foi injusta.

Gonçalves, Donizete e Bebeto no Cruzeiro
foto: Arquivo/Cruzeiro

Gonçalves, Donizete e Bebeto no Cruzeiro

“Não participar do Mundial foi a maior tristeza que eu tive na minha carreira. Foi uma decisão do Nelson, na qual eu achei injusta. Na época, fui conversar com o presidente Zezé Perrella a respeito dessa situação, não só comigo, mas também com outros jogadores. O Zezé apenas disse que a decisão era do treinador e não poderia fazer nada”, afirmou o ex-capitão.

No Mundial, o Cruzeiro foi derrotado pelo Borussia Dortmund por 2 a 0, com gols de Zorc, aos 34 minutos do primeiro tempo, e Herrlich, aos 39 da etapa final. Para a única partida, a diretoria contratou o zagueiro Gonçalves e os atacantes Bebeto e Donizete Pantera, que tiveram atuações apagadas. Gottardo disse que foi difícil ter que acompanhar um dos jogos mais importantes do Cruzeiro dentro de casa. “Foi difícil. Imaginava que, se estivesse ali dentro, poderia fazer algo pelo Cruzeiro. Eu não sabia o que fazer, vendo o time sendo derrotado, numa situação negativa e não poder ajudar da maneira como queria. Não culpo ninguém que esteve presente naquela final, porém, acho que fui injustiçado, assim como outros jogadores”, desabafou.

Após a final da competição, Gottardo pediu ao então presidente Zezé Perrella para deixar o o Cruzeiro. No entanto, o dirigente não quis liberá-lo e, assim, o ex-capitão continuou na equipe. Jogou em Minas até o final da temporada de 1998, quando o Cruzeiro foi eleito pela imprensa o melhor time do Brasil. Deixou o clube ao final da temporada e assinou com o Sport, no ano seguinte, onde permaneceu até encerrar a carreira.

Carreira de empresário e treinador

 
Após pendurar as chuteiras, Wilson Gottardo continuou no mundo do futebol. Em 2001, começou a trabalhar como empresário de jogadores, onde permaneceu no ramo durante seis anos. Foi ele quem agenciou a carreira do volante Ramires até a venda ao Benfica, em 2009.

Dois anos antes, em 2007, o ex-zagueiro deu início ao objetivo de se tornar treinador de futebol. Fez estágios com grandes profissionais do ramo, entre eles Vanderlei Luxemburgo (ex-Palmeiras), Adílson Batista (ex-Cruzeiro), Rogério Lourenço (ex-Flamengo) e até mesmo o italiano Carlo Ancelotti, que treinou o Chelsea entre 2009 e 2011.
Gottardo foi técnico do Villa Nova-MG

Gottardo foi técnico do Villa Nova-MG


“Procurei me preparar para ser treinador. Fiz estágio com o Vanderlei, com o Adílson, com o Rogério e fui à Inglaterra para conversar com o Ancelotti, que na época treinava o Chelsea. Foi uma experiência muito boa, o Ancelotti é uma pessoa muito humilde. Fiquei durante nove dias em Londres e tentei absorver o máximo que pude, até pedi para gravar as orientações dele”, disse.

Além do período de experiência como estagiário, Gottardo teve passagens por Villa Nova, onde conduziu a equipe no Campeonato Mineiro de 2011, e Bonsucesso-RJ, time no qual permaneceu por apenas três meses. De modo geral, Gottardo acredita estar pronto para assumir um clube de grande porte do futebol brasileiro. “Não quero ser igual à mesmice que todo mundo reclama. Tenho interesse em inovar. Não tenho empresário, porém, tenho um histórico de profissionalismo ao meu favor que pode me credenciar em uma boa equipe”, afirmou.

Sobre o atual momento do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro, Gottardo disse que o time tem potencial para chegar mais longe na competição. “A campanha do Cruzeiro está um pouco instável. O Celso Roth ainda não conseguiu encaixar o padrão de jogo desejado, seja por lesões ou por desfalques em decorrência de cartões. O elenco é bom e se fizer um sacrifício, pode até alcançar o G4 no campeonato”, finalizou.

Wilson Roberto Gottardo

Data de nascimento: 23 de maio de 1963
Naturalidade: Santa Bárbara d'Oeste, São Paulo
Clubes: União Barbarense, Guarani, Náutico, Botafogo, Flamengo, Marítimo (Portugal), São Paulo, Cruzeiro e Sport
Títulos pelo Cruzeiro: Campeonato Mineiro de 1997 e 1998; Copa Libertadores da América de 1997


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