América
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Emoção com gosto virtual

postado em 17/09/2013 08:51 / atualizado em 17/09/2013 09:19

Marcos Vieira EM DA PRESS
Bruno Freitas, Laura Valente, Renan Damasceno e Tiago de Holanda

Desde que a bola voltou a rolar no Mineirão, em fevereiro, há cruzeirenses que só conhecem o novo estádio pela TV. Muitos deles marcam presença num bar na Rua Jacuí, no Bairro Concórdia (Região Nordeste de Belo Horizonte). O Bar do Romário, acanhado, se tornou reduto de uma torcida que prefere gastar ali a ter de pagar ingresso, estacionamento e alimentação no Gigante da Pampulha, casa do Cruzeiro pelos próximos 25 anos. Situação não muito diferente da que ocorre em outros pontos da cidade.

“Faz 10 anos que não vou ao Mineirão”, destaca Guilherme Magalhães, de 22 anos. Apaixonado pela Raposa, o auxiliar contábil culpa o preço dos tíquetes e o horário tardio de algumas partidas. “Se houvesse ingressos populares eu até poderia pensar em ir”, aponta ele.

Os amigos dele têm opinião parecida. A última partida que o vendedor Wagner da Silva Júnior, 43, acompanhou de perto foi Cruzeiro x Coritiba, antes do fechamento do Mineirão, em 2010, para a reforma rumo ao Mundial. Desde então, prefere simplesmente atravessar a rua. “A razão é o preço. O ingresso mais barato custa em média R$ 70. Se eu for a quatro jogos num mês, gastarei no mínimo R$ 280”, diz o ex-frequentador da geral.

Para o motorista Márcio Silva, de 37 anos, assistir a quase todos os confrontos era “muito bacana”. Neste ano, só sentou na arquibancada duas vezes. A razão também é financeira. “A gente ia com bandeira, almofadinha”, lembra.

Apontando para a televisão e mostrando vasta faixa de cadeiras desocupadas, o contador Paulo Magalhães, de 51, diz que falta inteligência e sensibilidade aos dirigentes. No Mineirão reinaugurado Paulo não conseguiu levar os filhos e a mulher, a auxiliar fiscal Elvânia Barros, de 30. “O estádio poderia ficar lotado, mas os dirigentes preferem botar o preço lá em cima”, critica. “A gente ia a toda partida, com bandeira na janela do carro. Era ótimo programa”, recorda. “Depois, almoçava lá perto. Ir ao Mineirão não era apenas ir ao jogo”, diz.

Não foi unicamente o ingresso que teve o preço inflacionado, reclama ele. “O estacionamento está mais caro. E como a pessoa precisa chegar mais cedo, acaba tendo fome, sede, mas a comida também ficou mais cara”, constata. “Agora, a gente prefere fazer um churrasco aqui, juntar a galera”, acrescenta.

CONCENTRAÇÃO Além de uma família com três filhos, torcedores da Raposa, o amor do casal Rosângela Rossi e Manoel Muradas deu origem a um reduto cruzeirense no Bairro Sagrada Família, na Região Leste: há 32 anos, dia de jogo é promessa de casa cheia na Pizzaria do Gaúcho. Cedo, dona Rosa começa a preparar os tira-gostos, famosos entre frequentadores, enquanto Manoel coloca a cerveja para gelar.

Vizinhos e clientes fiéis de outros bairros, como as contadoras Tânia Márcia Santos e Laura Cristina Santos Barbosa, mãe e filha, do União, na Região Nordeste, se juntam. “Não enfrentamos fila para ingresso e nem há dificuldade para estacionar. A cerveja é gelada, a comida boa e vibramos com a mesma intensidade do estádio”, justifica Laura.

Com capacidade para 80 pessoas, a pizzaria já recebeu 120 numa final de campeonato. Sulian Dantas, correspondente bancária, e Rodrigo Orsini Costa Val, programador visual, frequentavam o local quando engataram o namoro, há oito anos. A união virou casamento e vieram os gêmeos Matheus e Samuel. “Quando fizerem 5 anos, vamos dividir: alguns jogos aqui e outros no Mineirão”, avisam os pais.

Para o gerente de negócios Jairo da Silva, em alguns quesitos o estádio perde para o bar. “É também questão de segurança, do ambiente familiar e até financeira, pois ir ao campo fica mais caro”, resume, ao lado dos filhos, Maria Luiza, de 16 anos, e Vítor, de 14. O corretor Marcos Luiz Ferreira Gomes emenda: “Aqui, assistimos ao jogo com emoção, encontramos os companheiros e não enfrentamos a fila do ingresso. É o programa sagrado no Sagrada”.

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