O futebol brasileiro precisa se reencontrar, sob o risco de passar as próximas quatro Copas sem chegar à final. Del Nero enalteceu Dunga e Gilmar Rinaldi pela invencibilidade de oito jogos, pedindo-lhes que fiquem 30 a 40 partidas sem perder. Penso que essas vitórias são ilusórias, diante de adversários que não ligam muito para amistosos, mas nas competições oficiais detonam o Brasil, como a França. Acredito que uma mudança de postura deveria começar pelas divisões de base dos clubes, com problemas até de pedofilia. Nelas, o que interessa é o olho do empresário, ávido por levar o que há de melhor no meio de tantos garotos despreparados e sem talento.
Apontem-me um craque no futebol brasileiro atual. Ganso tem talento raro, mas, depois de duas cirurgias nos joelhos, virou jogador comum. Claro que é diferenciado tecnicamente, mas já não rende o mesmo. Pato surgiu como promessa no Inter e na Seleção Sub-17, mas, depois de fracassar na Europa, ficou instável. Costumo dizer que no passado havia muito craque e pouco dinheiro. Hoje, há muito dinheiro e nenhum craque.
Nosso único talento, que agora já considero craque, é Neymar, que está fazendo temporada excepcional no Barcelona, tornando-se protagonista ao lado de Messi (foto). É nosso único jogador em condições de mudar uma partida para a Seleção. Mas com o restante não vamos a lugar nenhum. Que não venham iludir a torcida brasileira com conquistas das copas América e das Confederações, que nada representam. Talvez para o Chile, anfitrião neste ano, valha algo. Para o Brasil, é como a Libertadores em relação à Liga dos Campeões: diferença abissal. Copa do Mundo é outra história – nela, a projeção é mundial.
Acho que Del Nero deve manter o Brasileirão por pontos corridos, pois já temos as copas do Brasil, do Nordeste e Verde em mata-matas. Acho curioso que, quando o São Paulo ganhou três edições consecutivas, ninguém pediu a volta do mata-mata, mas bastou o Cruzeiro ganhar as de 2013 e 2014 para que se levantasse esse defunto. Já disse aqui que os pontos corridos são um avanço para o nosso futebol, por premiar o mais regular e bem preparado. É inadmissível um time se classificar em oitavo lugar, como o Santos em 2002, e ser campeão. Como explicar que em 1977 o Galo tenha feito 10 pontos a mais do que o São Paulo, mas este é que foi o campeão?
O Brasil só é pentacampeão mundial graças a talentos e craques como Pelé, Garrincha, Romário, Bebeto, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo. Sem a arte, a bola não entra no gol. Esse negócio de “gol de bola parada” é para seleção sem criatividade, sem ginga, sem molejo. O Brasil sempre encantou por esses três ingredientes, e é preciso retomar esse caminho. E vamos continuar lutando pela manutenção dos pontos corridos. É a forma justa de premiar os que trabalham com eficiência, competência e sabedoria.