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COLUNA DO JAECI

Pela volta dos craques e pelos pontos corridos

Nosso único talento, que agora já considero craque, é Neymar, que está fazendo temporada excepcional no Barcelona, tornando-se protagonista ao lado de Messi

postado em 18/04/2015 12:00

Ricardo Stuckert/ CBF

Fui à posse de Marco Polo del Nero na presidência da CBF. Em seu discurso, ele pediu apoio ao ministro do Esporte, George Hilton, no Congresso Nacional, para evitar sanções aos clubes, disse ser contra o mata-mata no Brasileiro, mas deixou nas mãos dos clubes a decisão. Para ele, o Brasil não pode se achar melhor do que outras seleções só por ter cinco títulos mundiais. Concordo. Os impiedosos 7 a 1 para a Alemanha mostraram ao mundo quão frágil é a Seleção. É inadmissível alguém como Hulk ser titular num Mundial. Um jogador apenas mediano, que chuta forte e nada mais. Também é lamentável manter dois zagueiros chorões, que não corresponderam, David Luiz e Thiago Silva. Aliás, o primeiro protagonizou um vexame esta semana na Liga dos Campeões, ao levar duas canetas nos gols do uruguaio Luis Suárez para o Barcelona, que praticamente se garantiu nas semifinais. O segundo recusou-se a bater pênalti contra o Chile e caiu em prantos. Miranda, em grande forma, nem sequer foi chamado por Felipão.

O futebol brasileiro precisa se reencontrar, sob o risco de passar as próximas quatro Copas sem chegar à final. Del Nero enalteceu Dunga e Gilmar Rinaldi pela invencibilidade de oito jogos, pedindo-lhes que fiquem 30 a 40 partidas sem perder. Penso que essas vitórias são ilusórias, diante de adversários que não ligam muito para amistosos, mas nas competições oficiais detonam o Brasil, como a França. Acredito que uma mudança de postura deveria começar pelas divisões de base dos clubes, com problemas até de pedofilia. Nelas, o que interessa é o olho do empresário, ávido por levar o que há de melhor no meio de tantos garotos despreparados e sem talento.

Apontem-me um craque no futebol brasileiro atual. Ganso tem talento raro, mas, depois de duas cirurgias nos joelhos, virou jogador comum. Claro que é diferenciado tecnicamente, mas já não rende o mesmo. Pato surgiu como promessa no Inter e na Seleção Sub-17, mas, depois de fracassar na Europa, ficou instável. Costumo dizer que no passado havia muito craque e pouco dinheiro. Hoje, há muito dinheiro e nenhum craque.

Nosso único talento, que agora já considero craque, é Neymar, que está fazendo temporada excepcional no Barcelona, tornando-se protagonista ao lado de Messi (foto). É nosso único jogador em condições de mudar uma partida para a Seleção. Mas com o restante não vamos a lugar nenhum. Que não venham iludir a torcida brasileira com conquistas das copas América e das Confederações, que nada representam. Talvez para o Chile, anfitrião neste ano, valha algo. Para o Brasil, é como a Libertadores em relação à Liga dos Campeões: diferença abissal. Copa do Mundo é outra história – nela, a projeção é mundial.

Acho que Del Nero deve manter o Brasileirão por pontos corridos, pois já temos as copas do Brasil, do Nordeste e Verde em mata-matas. Acho curioso que, quando o São Paulo ganhou três edições consecutivas, ninguém pediu a volta do mata-mata, mas bastou o Cruzeiro ganhar as de 2013 e 2014 para que se levantasse esse defunto. Já disse aqui que os pontos corridos são um avanço para o nosso futebol, por premiar o mais regular e bem preparado. É inadmissível um time se classificar em oitavo lugar, como o Santos em 2002, e ser campeão. Como explicar que em 1977 o Galo tenha feito 10 pontos a mais do que o São Paulo, mas este é que foi o campeão?

O Brasil só é pentacampeão mundial graças a talentos e craques como Pelé, Garrincha, Romário, Bebeto, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo. Sem a arte, a bola não entra no gol. Esse negócio de “gol de bola parada” é para seleção sem criatividade, sem ginga, sem molejo. O Brasil sempre encantou por esses três ingredientes, e é preciso retomar esse caminho. E vamos continuar lutando pela manutenção dos pontos corridos. É a forma justa de premiar os que trabalham com eficiência, competência e sabedoria.

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