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ENTREVISTA

Enderson completa um ano de América e abre o jogo: briga pelo acesso, aposta na base, carreira, polêmicas e propostas

Treinador completa um ano no comando do Coelho nesta sexta-feira

postado em 21/07/2017 06:30 / atualizado em 20/07/2017 23:26

Juarez Rodrigues / EM / D.A.Press

O técnico Enderson Moreira completa, nesta sexta-feira, um ano no comando do América. Apresentado no CT Lanna Drumond em 21 de julho de 2016, ele é hoje o terceiro treinador que está há mais tempo no cargo entre os times que disputam as Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Está atrás apenas de Marcelo Tencati, do Londrina, e Zé Ricardo, do Flamengo. No Coelho, Enderson chegou à sua maior sequência em um clube desde 2013, quando deixou o Goiás após 94 jogos. No clube alviverde já são 56 partidas, com  17 vitórias, 18 empates e 21 derrotas.

Enderson Moreira chegou ao América na 16ª rodada do Brasileirão do ano passado com o objetivo de salvar o então lanterna do rebaixamento à Série B. Na ocasião, em 23 partidas sob o comando dele, a equipe acumulou cinco vitórias, cinco empates e treze derrotas. A campanha não foi suficiente para evitar o descenso. O Coelho encerrou o campeonato na última colocação, com 28 pontos, 17 a menos que o Vitória, primeira equipe fora do Z4. Apesar do baixo aproveitamento, o time apresentou melhora no rendimento após a chegada de Enderson, conquistando vitórias sobre equipes como Santos, Botafogo e Atlético-PR, que acabaram a competição entre os classificados à Libertadores. Esse fator fez com que o treinador fosse mantido no cargo para 2017.

No primeiro semestre deste ano, o Coelho viveu altos e baixos, sendo eliminada nas semifinais do Campeonato Mineiro e ainda na segunda fase da Copa do Brasil. No entanto, atualmente, o América vive o seu melhor momento na temporada. A equipe está invicta há nove jogos na Série B, chegando à 3ª colocação, com 27 pontos, empatado com o líder Guarani-SP e com o vice-líder Juventude, que levam vantagem no número de vitórias e no saldo de gols.

Leia, na íntegra, a entrevista exclusiva de Enderson Moreira ao Superesportes:

Avaliação do primeiro ano no América

Chegamos para um momento de reconstrução no ano passado. A gente ia tentar de todas as formas lutar contra o rebaixamento, mas quem trabalha com futebol sabe que a situação do América era quase impossível. Se não era impossível, era muito perto disso. Mas com o propósito claro de fazer o melhor possível na Série A, e nós tentamos fazer isso. Conseguimos algumas boas vitórias, mas, infelizmente, não foi suficiente para que a gente pudesse alterar o desfecho do ano.

Trabalhamos já com o planejamento de que a gente pudesse remontar uma equipe que pudesse ser competitiva, para disputar bem o Mineiro com o propósito muito claro de poder voltar à Série A do Campeonato Brasileiro em 2018. Estamos caminhando, mas ainda tem muita coisa pela frente e as dificuldades só vão aumentar, com certeza.

Juarez Rodrigues / EM / D.A.Press


Planejamento para Série A, caso conquiste o acesso


Para um clube como o América e os clubes que estão na Série B, que de alguma forma estão nessa briga constante pelo acesso e depois contra o descenso, é claro que é sempre um grande desafio, porque o investimento que um clube como o América pode fazer na Série A é muito menor do que um clube que já está há mais tempo lá.

Então, é sempre uma luta muito desigual. Precisamos estar sempre bem conscientes do que o América pode fazer. Temos que procurar tirar uma grande base da equipe que está montada hoje, uma sustentação de equipe para que a gente possa fazer os encaixes para um time que vai disputar uma Série A de Campeonato Brasileiro. É claro que o nível de exigência é muito maior, mas eu acredito que a gente tenha uma equipe com perfil muito bom para disputar uma Série A, e isso é um grande caminho.

Encaixe do time nesta Série B

Eu costumo fazer uma análise muito clara do que é o futebol. No Campeonato Mineiro, eu via claramente que o Cruzeiro era o favorito, embora não tenha confirmado isso. Eu digo isso porque manteve a base de jogadores e também o treinador. Nesse aspecto você sai na frente, porque você conhece os atletas, já sabe mais ou menos o que vai acontecer. O Atlético estava trazendo o Roger [Machado], mas tinha mantido grande parte da base. Sobre o Campeonato Mineiro, a gente precisa ser muito claro para falar. Cruzeiro e Atlético serão sempre favoritos. Não é à toa que o América não ganhava há 15 anos. É muito difícil, uma competição complicada para um time do interior ou para o América, porque as diferenças de investimento e de receita são enormes. Então, a gente sabia que era importante que a gente fizesse um bom papel, e acho que fizemos. Disputamos de igual para igual a semifinal com o Cruzeiro.

Por estar remontando uma equipe, a gente sabia também que uma coisa serviria para que a gente tirasse algumas lições do Campeonato Mineiro. Era importante que a gente saísse da competição com muito mais certezas do que dúvidas, e acho que isso foi muito importante. A gente já trilhou um caminho, sabíamos para onde queríamos ir. Até os jogos das semifinais serviram como base para a gente ver que o caminho estava certo. Eu costumo falar que nós fomos muito superiores no primeiro jogo [contra o Cruzeiro] e que o segundo foi bastante equilibrado. Poderíamos ter até saído na frente do placar, mas foi equilibrado e em determinado momento precisamos sair para tentar o gol e oferecemos o contra ataque ao Cruzeiro, que é um aspecto forte da equipe deles.

Então, o América naquele momento era uma reconstrução de equipe. Embora tivesse mantido o treinador, mudou completamente o elenco. Acho que o Mineiro foi muito importante para a gente dar esse passo [rumo ao encaixe de equipe], e é só com o tempo mesmo. A gente poderia ter interrompido esse processo há algumas rodadas, porque todo mundo tem ansiedade de que a gente possa dar o resultado rapidamente, mas o futebol demanda tempo, demanda encaixe. O mais importante é que eu vejo que sempre estivemos em boa situação. Quando o resultado não vinha, pelo menos a atuação era boa. Agora que a atuação não é tão boa, os resultados estão acontecendo. Isso dá mais estabilidade para a equipe.

Maior sequência em uma equipe desde 2013

Eu digo que no Brasil se você fica um ano em uma equipe, corresponde a uns três ou cinco anos lá fora. Em termos de desgaste, de tudo aquilo que você conseguiu fazer. Se você fica um ano em um time aqui no Brasil é porque o trabalho é de alguma forma vencedor. No Brasil não tem paciência nenhuma com o treinador que perde. A gente é profissional da vitória. Ninguém consegue conviver com resultado adverso, sejam os diretores, presidentes, dirigentes ou a torcida. Eles não conseguem entender que tudo aquilo faz parte de um processo. Quando você vai para um jogo, você tem 33% de chance de ganhar, 33% de chance de empatar e 33% de chance de perder. Isso nunca vai mudar.

Em muitas equipes que passei, eles não tiveram a mínima condição de trabalhar com derrotas. Enquanto você está ganhando, as coisas são maravilhosas. A partir do momento em que você perde em algumas situações você acaba de alguma forma criando um “problema” para os dirigentes e torcedores, que não conseguem entender que do outro lado têm um adversário e que tudo faz parte de um processo. Então, vejo que fiz bons trabalhos, mas que quatro, cinco, seis ou sete meses é um tempo muito razoável perto do que tem acontecido diariamente com os outros treinadores no nosso futebol.

Juarez Rodrigues / EM / D.A.Press
Terceiro treinador mais longevo entre os participantes das Séries A e B do Brasileiro

A imprensa também contribui de uma maneira negativa para que isso possa acontecer [demissão de treinadores]. Tem um resultado ruim, a coisa vai gerando um clima ruim, que vai gerando insatisfação nos torcedores. Não que seja por culpa só da imprensa, todo mundo tem uma parcela de culpa nisso. Se a gente não tem uma regulamentação que proteja os treinadores, a gente vai continuar sempre com trabalhos pela metade. Vou desenvolver um trabalho que muito provavelmente será o segundo ou terceiro treinador depois de mim que vai colher algum fruto disso.

Dificilmente a gente planta e colhe aqui no Brasil, porque demanda tempo. Quanto mais você fica no clube, mais você tem conhecimento do atleta e da própria instituição. É lamentável [demissão rápida], porque com a sequência de trabalho você tem capacidade de estar sempre com um jogo melhor.

O Tencati e o Zimmermann [Rogério, demitido do Brasil de Pelotas-RS nessa quinta-feira], que fazem trabalhos de longo prazo, nem sempre foram vencedores. Eles perderam muito para ganhar. Isso faz parte do jogo. Eles têm muita consistência no trabalho deles. Você olha para o time do Brasil e sabe exatamente  qual é a forma de jogar. Você olha o Londrina, você vê exatamente o trabalho do Tencati. E o próprio Zé Ricardo, que tenho enorme respeito e admiração pelo trabalho, porque é um treinador que trabalhou muito na base, conhece aquilo que ele tem em mãos. Está em um dos maiores do Brasil, em termos de torcida, e do mundo. Para ele, é claro que é um desafio enorme, e ficar muito tempo é prova da competência dele. Claro que sempre que não tem resultado, há sempre uma cobrança enorme.

Formação como treinador

Se estou no futebol eu devo muito ao Colégio Magnum [onde foi professor]. Tenho que agradecer muito à instituição, aos diretores e ao dono do colégio, pelo o que eles me proporcionaram em termos de me manter profissionalmente e de ousar de alguma forma a me manter no futebol. Nas categorias de base, principalmente dos clubes menores, é muito complicado você conseguir sobreviver. Clubes pequenos que eu digo são aqueles que não têm tanta estrutura e tradição, como Sete de Setembro, Venda Nova e Santa Tereza. Foram investimentos que fiz na minha carreira muito em função do que o Magnum me proporcionou.

A gente nunca teve um curso de treinador à disposição, como está sendo colocado agora. A gente não tinha um caminho para poder buscar. O fato de ser ex-atleta não garante absolutamente nada para que o ex-atleta possa virar treinador, comentarista esportivo ou diretor de futebol. A experiência e a visão são completamente diferentes. Uma coisa é você jogar, outra é comandar. São atividades completamente diferentes. Não tem relação nenhuma, a não ser o conteúdo. Em termos de postura, de entendimento, são coisas completamente diferentes.

Juarez Rodrigues / EM / D.A.Press
Aproveitamento de jogadores formados na base do América

A gente aqui no Brasil tem uma pressa absurda com os meninos da base. A maturidade de um atleta profissional em termos de formação acontece até os 23, 24 anos. Nós pegamos um jogador de 18 anos e queremos que ele resolva os problemas do América. Acho isso uma injustiça absurda. Eu trabalhei no Internacional B, que era uma equipe sub-23, e ali nós salvamos vários atletas que talvez se não existisse esse projeto, teriam sidos jogados no mercado de qualquer forma. O atleta ainda tem um grande caminho a percorrer quando está nessa idade.

O Matheusinho já é uma realidade dentro de tudo que ele ainda vai crescer. É muito novo ainda. O Messias até ano passado era tido aqui no clube como um jogador descartável, talvez. Era o quinto ou sexto zagueiro do elenco, estava aqui porque tinha que estar. Então, talvez ele só tenha virado jogador este ano. Quando subiu da base ainda não estava pronto, mas teve a maturidade de chegar em um time profissional e evoluir.

Sou oriundo da base, tenho o maior carinho com a base, mas uma coisa que me irrita profundamente é você forçar essa questão de base. Não pode ser assim. Eles não podem ser a solução de um clube, a não ser em termos financeiros. Porque eles, sem dúvida nenhuma, são um ativo do clube, e quando vão bem, vão resolver financeiramente. Tecnicamente tem que ser gradual, a longo prazo, fazendo experimentações, para que o garoto possa acertar e ter a capacidade de errar também, para reiniciar esse processo e conseguir alcançar a maturidade que o próprio Messias conseguiu, que o Zé Ricardo e o Christian conseguiram, como o Matheusinho está conseguindo e o Roger e o Rubens também irão conseguir em algum momento. E que alguns outros que foram revelados no América, não conseguiram aqui, mas vão conseguir em outros clubes, porque isso faz parte da formação do jogo profissional.

Edesio Ferreira/EM/D.A Press
Saída do meia Tony

É difícil falar sobre alguém que saiu. Eu acho que todos os clubes brasileiros têm jogadores que estão de alguma forma treinando à parte No caso específico do Tony, é um jogador que a gente respeita muito, que tem muita qualidade. Em determinado momento houve uma escolha técnica, que não coloca em dúvida a capacidade ou o caráter dele. É questão de momento. Futebol é momento. O momento do América era um pouco diferente do momento do Tony, as características do jogo. Mas ele vai ser muito feliz em outros times, a gente não tem dúvida disso, pelo profissional e pela pessoa que é. Agora, a gente deu todas as oportunidades para que ele tivesse outro caminho. Ele foi avisado previamente para que pudesse buscar outro caminho, ter uma saída completamente tranquila no grupo.

Ele foi respeitado durante todo o tempo. Foi dado um prazo, em que ele e o clube não conseguiram nenhum tipo de alternativa. Em determinado momento a gente infelizmente não consegue absorver todos. O que me estranha é que um jogador experiente como ele não tenha levantado a voz em prol de outros jogadores que estavam nessa situação desde o começo do ano. O clube oferece todas as condições de trabalho para eles. Eles não podem participar do trabalho do grupo principal em virtude de opção técnica, mas o clube tem profissionais capacitados para dar o treinamento e utilizam do mesmo espaço utilizado pelo outros atletas. Então,  não vejo nenhuma falta de respeito com o jogador, sendo que ele estava recebendo salário como qualquer outro atleta e estava tendo toda a capacidade de desenvolver o seu trabalho. Foi colocado muito claramente aquilo que o clube pensava do momento técnico do América.

É um jogador que nunca tivemos qualquer tipo de problema aqui, é muito respeitado e foi muito importante para o América. Mas, como todo atleta em qualquer situação, ele tem um início e o fim de uma trajetória em clubes. É uma coisa natural. Assim como pode acontecer comigo, que posso sair do América. E, nesse caso, você não vai me ver falando que o clube me desrespeitou. Eu saí do Atlético-PR com 30 dias, isso sim é falta de respeito, porque ninguém é capaz de desenvolver um trabalho nesse tempo. Mas eu nunca falei isso do Grêmio, do Santos, do Fluminense ou do Goiás. Não houve falta de respeito, houve o desencaixe de ideias e de desempenho da equipe e, nesse caso, a diretoria tem toda a liberdade para fazer as escolhas.

Recusa à Chapecoense


Eu vou ser bem claro e justo. Eu não vejo nada de errado no que está previamente acordado. Às vezes as pessoas acham que é errado a diretoria demitir o treinador ou o profissional pedir rescisão. Eu tenho um contrato com o América no qual há uma cláusula de quebra contratual. A parte que decidir por finalizar esse vínculo tem que pagar uma multa. Isso está previsto, então não vejo problema. Se há o interesse de uma das partes em buscar outro caminho, não tem problema.

O que eu digo desde o começo é que gostaria muito de terminar o projeto no América. É uma vontade minha. Foi muito difícil plantar o que plantamos até hoje, então eu gostaria de estar aqui na hora de colher. Não sei se a gente vai conseguir subir. É o nosso desejo maior, mas pelo menos estamos no caminho. O futebol às vezes te dá algumas rasteiras que não tem como escapar, mas acho que estamos em um caminho muito interessante rumo a esse objetivo.

Desentendimento com torcedor no intervalo de ABC x América

É importante ressaltar que não foi com a torcida, foi com um único torcedor. Me xingar não é um problema, isso é natural. O que eu vejo como um problema é o cara desrespeitar os jogadores. Ninguém sabe o que estamos passando, as viagens que estamos fazendo, o desgaste que estamos tendo, e nem como é difícil colocar o time em campo um jogo após o outro. E não é só colocar em campo, é buscar o resultado e dar uma resposta de competitividade, entrega e dedicação. Isso não faltou para nenhum atleta nosso. Todos eles mostraram comprometimento e dedicação durante todo esse período, e eu acho um absurdo alguém ficar reclamando em um momento daquele, em que estávamos empatando um jogo fora de casa, contra o ABC, que está na parte de baixo da tabela.

Inclusive, eu vi uma resposta incrível da torcida deles. O time não ganhava há seis jogos e a torcida compareceu, prestigiou e incentivou a equipe até o último lance do jogo. Se o torcedor [que xingou os jogadores] estivesse na arquibancada, ok. Mas o que é a arquibancada? Para mim é você estar lá torcendo. Mas aquele torcedor foi para o alambrado, ficar do lado reclamando, e acho falta de respeito perante os meus atletas. Se quiser me xingar, pode xingar, já estamos acostumados com isso, infelizmente.

Eu não acho que o fato de alguém ter pago o ingresso dá a ele o direito de desrespeitar, não aceito isso. Ninguém paga o ingresso para entrar em um show e fica xingando o cantor. Nesse caso ele é retirado do local, mas no futebol as pessoas acham que têm direito de matar, espancar e  falar coisas absurdas sobre uma pessoa – e não somente sobre o profissional –  só porque pagaram ingresso. Isso me deixa chateado, mas é um retrato da nossa cultura. Daquilo que vivemos enquanto sociedade. Só temos no futebol a representação daquilo que vivemos no dia a dia, que é falta de respeito no trânsito, falta de respeito com os semelhantes e falta de educação em todos os sentidos. O futebol só retrata o que acontece no dia a dia.

Peço desculpas, porque sou totalmente contra violência, sempre fui muito claro com isso. Acho que minha atitude não foi correta, não devo fazer isso. Embora tenha direito de responder, aquele não era o momento e nem o local. Então, mesmo se estivermos em último lugar e o clube estiver insatisfeito, é fácil de resolver. Agora, não acho que devemos ter falta de respeito com quem está ali. Eu sou pai de família, os jogadores também são, cada um defende o seu “ganha pão” da melhor forma possível, de maneira honesta. A gente está se entregando muito para o clube, eu não falto ao treinamento ou à concentração. Eu vivo futebol 24 horas por dia. Eu posso ser incompetente, posso não ter aquilo que as pessoas imaginam como ideal. Infelizmente eu não sou capaz de poder entregar ao torcedor americano todos os seus sonhos, que quer que o time jogue bem todos os jogos, vença sempre de goleada. Isso eu não vou conseguir entregar, mas vai ser sempre o meu objetivo, pode ter certeza. Sei que não vou conseguir, mas vou sempre tentar atender aos anseios do torcedor.

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