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ESTÁDIOS

Bolso cheio, lugares vazios

Cenário das partidas decisivas da Copa do Brasil tende a se repetir em 2015. Com ingressos caros e renda que atende aos clubes, casa lotada não é preocupação

Juarez Rodrigues / EM DA PRESS
Mesmo com os dois maiores times de Minas em alta e a inédita disputa do título entre eles, a decisão da Copa do Brasil surpreendeu pela quantidade de lugares vazios. Tanto no jogo de ida como no de volta, setores de arquibancada ficaram desocupados no Independência e no Mineirão – situação que se repete em outros jogos do Cruzeiro em casa. A tendência, segundo especialistas, segue a lógica do preço dos ingressos: enquanto os clubes aproveitarem jogos decisivos para faturar, o torcedor pensará duas vezes antes de pagar caro para ir ao estádio.

Apesar de o público de Cruzeiro 0 x 1 Atlético na quarta-feira não ter se aproximado da capacidade máxima do Gigante da Pampulha (39.786, dos 58.170 disponíveis - ao todo são 62.170), a renda de quase R$ 8 milhões é a terceira maior em jogos de clubes no Brasil. Como comparação, o jogo do tetracampeonato brasileiro do Cruzeiro contra o Goiás, no domingo, teve mais de 56 mil pagantes e rendeu pouco mais de R$ 3,5 milhões. O time celeste vê o esvaziamento com naturalidade, enquanto o alvinegro não descarta mandar mais jogos decisivos na Pampulha em 2015.

“Os clubes brasileiros estão atrás de dinheiro, faturamento e acabam investindo em ingressos cada vez mais caros. No caso do Independência, por ser menor, para o Atlético é mais fácil trabalhar a demanda. Há muita gente interessada. Mas no Mineirão, a cena é chocante. As pessoas não estão dispostas a pagar caro”, aponta o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi.

O especialista crê que, por mais que Cruzeiro e Atlético estejam no topo do futebol nacional, o nível do espetáculo entre ambos ainda não é comparável à uma partida de futebol da Europa, com preço de entrada inferior (veja infográfico). O fato de torcedores driblarem a venda utilizando a meia-entrada sem direito ao benefício, acaba impactando na conta final. “O brasileiro pode ser considerado um povo falsificador. Existe um ambiente de crime em shows e eventos esportivos. Se as autoridades e os clubes tivessem um controle efetivo disso, os preços cairiam drasticamente”, acredita Somoggi. Uma das soluções, sugere, seria a venda antecipada de cadeiras por temporada. “Não adianta só fazer programas de sócio-torcedor. O sócio só vai em alguns jogos. O grande diferencial é a venda antecipada. É o que os clubes europeus fazem. Enquanto os clubes brasileiros não fizerem isso não teremos uma média elevada porque vai depender sempre do resultado em campo para lotar o estádio”.

O gerente do movimento Por um Futebol Melhor – união de multinacionais que concede descontos na compra de produtos –, Rafael Pulcinelli, pensa de forma parecida. “É importante que clube e torcedor não foquem o programa (sócio-torcedor) apenas no ingresso. Claro que existe um grande peso nisso, mas não é desta forma que o clube terá sucesso. O clube precisa oferecer outras vantagens”, acrescenta.

O Cruzeiro ressalta que as cadeiras vazias na lateral do gramado do Mineirão estão nos setores mais caros do estádio, operadas pelo consórcio Minas Arena, e, como em qualquer jogo, são os últimos a ser vendidos. “Claro que queremos uma imagem melhor para o clube, mas é um problema para quem está em casa. O que importa é, primeiro, haver torcedor para empurrar o time, aliado com a remuneração. E o Cruzeiro tem feito de sua casa um fator muito forte. Economicamente, não tem interferência, já que o clube não participa daquela receita”, defende o diretor de marketing do clube, Marcone Barbosa.

Fatores como a derrota por 2 a 0 no primeiro jogo e a transmissão pela TV (para BH), segundo ele, pesaram para o esvaziamento na quarta-feira. “No Mineirão, temos direito a 54 mil ingressos e estamos com média de 30 mil pagantes. Ainda temos 24 mil lugares para preencher com 100% da receita para o clube”, destaca o dirigente. O Minas Arena informou em nota que as vendas das cadeiras vip tem crescido – a média, segundo o consórcio, foi de 72% nos últimos três jogos, chegando a 98% na quarta-feira. Os preços do setor são regidos pelo Cruzeiro, conforme contrato. “Além da localização central, temos apresentado novas vantagens ao torcedor como a venda direta pela internet e acesso ao estádio mediante apresentação do cartão de crédito”.

Jogos decisivos Substituto de Alexandre Kalil na presidência do Atlético a partir da próxima semana, o atual vice, Daniel Nepomuceno, não descarta novos jogos do time alvinegro no Mineirão. Como é parceiro da Arena Independência, o Galo não pode deixar de vez o estádio do Horto – onde tem 50% de participação nos lucros comerciais. Mas fontes comentam que o time alvinegro mandaria de 10 a 15 jogos na Pampulha no ano que vem, reduzindo o preço dos ingressos nos jogos do Brasileiro e na reta decisiva do Mineiro dos atuais R$ 120 para cerca de R$ 60. “O Atlético joga no Mineirão, claro, mas precisamos decidir, ver o contrato. O Independência é nossa casa, nosso parceiro. Quando for jogo que tem condições, a gente joga também. É também um interesse nosso”, afirma Nepomuceno.

A Arena Independência declarou, em nota, que fez um teste para a venda de camarotes ao torcedor comum no jogo de ida da Copa, mas não obteve sucesso. Para 2015, o consórcio pretende manter a comercialização corporativa por temporada, mesmo que isso implique camarotes vazios. “O preço das cadeiras vips só pode ser definida pelos clubes”, explica o gerente operacional, Helber Gurgel.

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