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O OUTRO LADO DO FUTEBOL MINEIRO

Os 'vovôs' da Terceirona

Terceira Divisão do Mineiro, que começa em setembro, vai reunir veteranos que passaram por Cruzeiro, Flamengo e Ipatinga. Competição tem três estreantes entre as 11 equipes

postado em 29/08/2014 08:00 / atualizado em 28/08/2014 18:59

Jair Amaral/EM/D.A Press


Renan Damasceno

Se o mundo do futebol dá voltas, a carreira do atacante Walter Minhoca, de 32 anos, é um carrossel. O histórico de idas e vindas em 13 anos é extenso e peculiar: foi destaque do último time de fora da capital a conquistar o Mineiro (Ipatinga, em 2005); contratado para ocupar uma disputadíssima vaga como armador do Flamengo em 2006 e, pasmem, pediu para sair; ajudou dois times a subir para a Série A (Ipatinga, 2007, e Guarani-SP, em 2009) e jogou na Arábia Saudita e Coreia do Sul. Achou pouco? Depois de perambular por ABC de Natal, fazer um retorno frustrado ao Tigre, passar por outros clubes do interior e curtir curta aposentadoria, agora ele é o destaque do recém-criado Betim, rebatizado na terça-feira para Betinense, para não ser confundido com o Ipatinga, ainda registrado na CBF com o nome da cidade que o recebeu nas duas últimas temporadas, antes do retorno ao Vale do Aço.

Ao lado do Ituiutabano, do Portal do Triângulo, o Betinense é o clube mais novo da Terceira Divisão do Campeonato Mineiro, que começa no próximo fim de semana, com 11 equipes lutando por duas vagas no Módulo II. O grupo tem folha salarial razoável para a disputa da Terceirona: R$ 150 mil. Cerca de 30 jogadores treinam no Clube do Itaú em campo de dimensões menores ao utilizado em competições oficiais. Os jogos serão na Arena do Calçado, em Nova Serrana, e na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas.

Nascido em Betim, Minhoca, o destaque, estava aposentado quando foi chamado pelo presidente Júnior José dos Santos para o projeto, que também conta com outros nomes conhecidos do futebol brasileiro, como o volante Sandro (ex-Cruzeiro) e do armador Lima (ex-Coritiba). “Eu fiquei desempregado no ano passado, vi que não ia receber salário e fiquei em casa de agosto a dezembro. Esse ano joguei no Trindade-GO, até que o Júnior me ligou para vir para cá. Eu queria vir como diretor, mas se for para ajudar, continuo jogando”

Minhoca reclama que não recebeu um centavo quando voltou ao Betim, no ano passado. Pior: não foi a primeira vez que enfrentou o problema. A outra ocorreu justamente no clube de maior torcida do Brasil. “Vivi céu e inferno no Flamengo: caí na graça dos torcedores, mas caí de produção rápido, porque o salário pesou. Eu ganhava R$ 3 mil na carteira e o Flamengo não pagava o direito de imagem, que é mais alto. Dos seis meses, fiquei sem receber cinco. O aluguel era R$ 3 mil e eu ganhava R$ 2.400. Comecei a me machucar, porque meu psicológico estava abalado. Aí, pedi para sair. Depois, me arrependi, mas já era tarde”, contou.

Jair Amaral/EM/D.A Press


INVESTIMENTO

Os salários do Betinense variam de R$ 800 a R$ 3 mil. “Eu não almejo mais nada na carreira. Estou aqui porque seria bom para o clube. Pelo meu histórico de lesão, qual clube vai contratar um cara para ficar machucado. Então, estou aqui por eles. Por prazer, pois gosto. Pela amizade. O salário é baixo. Estou porque confio no projeto”, afirmou Sandro, de 33 anos, campeão da Tríplice Coroa com o Cruzeiro em 2003, que tinha problemas crônicas no joelho e teve de ser operado várias vezes.

Para Sandro – que passou por ABC, Ituano, América-RN, Guaratinguetá, Anapolina e Botafogo-PB nos últimos anos –, levar o Betim ao Módulo II e, depois à primeira Divisão, é um desafio. “Enquanto eles quiserem, eu fico aqui. Muitos por aí não têm essa estrutura. Jogador de futebol é um trabalho como outro qualquer. Aqui pagam em dia.´É melhor ganhar em dia a ter só a promessa de ganhar muito”, disse.

Sem começar, um já desistiu

Não são todas as equipes que conseguem o dinheiro necessário para manter um grupo por no mínimo seis meses. É o caso do Fluminense de Araguari, que desistiu da disputa da Terceira Divisão antes mesmo de a bola rolar. Fundado em 1942, o clube tenta se reorganizar e mantém escolinhas na cidade. No início do ano, havia perspectiva de ajuda para montar um grupo profissional, mas, na hora H, não encontrou parceiro para bancar os cerca de R$ 500 mil que o manteriam na Terceirona.

“Para ter um time de qualidade, mesmo subindo jogadores da base, não dá para gastar menos de R$ 100 mil por mês. A gente tinha promessa de apoio, mas não conseguimos. Vamos ver para o ano que vem. Por enquanto, não dá para pensar no profissional”, alegou o presidente Carlos Barbosa.

A saída do Fluminense abre um buraco na tabela de jogos da Terceira. A competição começa em 7 de setembro. A primeira fase será composta por três chaves, com quatro clubes cada, de forma regionalizada, exceto a Chave C, do Triângulo Mineiro, que agora será formado apenas por Ituiutabano, Portal (Uberlândia) e o tradicional Uberaba –que há dois anos estava no Módulo I, amargando dois rebaixamentos consecutivos.

Os adversários jogam entre si dentro de cada grupo, em formato de turno e returno. Os dois melhores classificados de cada grupo se garantem no hexagonal final. Nesta etapa, os seis rivais se enfrentam em sistema de ida e volta. Betinense, Nacional Atlético Clube (Muriaé) e Ituiutabano são os estreantes. Das demais, Arsenal e Coimbra (BH), Novo Esporte (Ipatinga), Trio (Coronel Fabriciano), Valério (Itabira) e Portal (Uberlândia) estavam na disputa do ano passado.

CAMINHO PARA A ELITE

Participantes

Grupo A
Arsenal
Coimbra
Betinense
Funorte

Grupo B
Novo Esporte
Trio
Valério
Nacional (Muriaé)

Grupo C (*)
Ituiutabano
Portal
Uberaba

*Fluminense de Araguari desistiu

Primeira rodada

7/9
Jogo Estádio (cidade)
10h Trio x Novo Ipatinga Louis Ensch (Coronel Fabriciano)
Arsenal x Coimbra Arena do Jacaré (Sete Lagoas)
Nacional x Valério Soares Azevedo (Muriaé)
16h Uberaba x Ituiutabano Uberabão (Uberaba)

8/9
15h Betinense x Funorte Arena do Jacaré (Sete Lagoas)

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