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Fora do futebol, Itair Machado recorda polêmicas e diz não sentir falta da vida de dirigente

Entre outros assuntos, o cartola justifica a frustrada mudança do clube do Vale do Aço para Betim e esclarece as dívidas que deixou para a atuação administração

postado em 06/10/2015 08:00 / atualizado em 07/10/2015 08:58

DIVULGAÇÃO / ARQUIVO PESSOAL
Depois de ganhar os holofotes do futebol mineiro nos anos 2000, o cartola Itair Machado, ex-presidente do Ipatinga, está longe dos bastidores da bola. Por causa das “muitas decepções” e para cuidar da saúde - é diabético do tipo 2 -, ele 'abandonou' o Tigre e montou uma empresa na área financeira. Hoje, mora em Belo Horizonte. Futebol apenas pela televisão: “Assisto aos jogos do Cruzeiro”, conta.

Em entrevista ao Superesportes, Itair Machado fala sobre as polêmicas da carreira, comenta a ascensão do Ipatinga da Segunda Divisão do Mineiro à Série A do Campeonato Brasileiro e explica também a queda da equipe, que hoje frequenta o Módulo II do Estadual. Entre outros assuntos, o cartola justifica a frustrada mudança do clube do Vale do Aço para Betim e esclarece as dívidas que deixou para a atuação administração.

Itair fundou o Ipatinga em 1998. Sete anos depois, o clube conquistou o Campeonato Mineiro com vitória sobre o Cruzeiro, por 2 a 1, no Mineirão. Aquela equipe revelou ao futebol brasileiro o técnico Ney Franco, o zagueiro Willian, os volantes Fahel e Paulinho, além do armador Walter. No ano seguinte, o Tigre foi semifinalista da Copa do Brasil. A Série A era questão de tempo. O Ipatinga fez parte da elite do futebol nacional em 2008. Em seguida, a derrocada. Hoje, está no Módulo II do Campeonato Mineiro.

Confira os principais pontos da entrevista com o ex-presidente do Ipatinga Itair Machado:

Pergunta - O que está fazendo hoje?
Resposta de Itair Machado - Estou completamente afastado do futebol. Recentemente, completei dois anos longe do futebol. Agora, moro em Belo Horizonte. Vendi minha empresa de publicidade visual em Ipatinga, e hoje sou corresponde financeiro em uma empresa que presta serviços na área de crédito consignado.

Ficou rico por causa do futebol?
Você não consegue tirar dinheiro de time do interior. A gente sempre começava o mês no vermelho. Nunca misturei minha vida particular com o clube. O que conquistei é fruto do meu esforço como empresário.

Emmanuel Pinheiro/Estado de Minas
Sente falta do futebol?
Eu tive tantas decepções no futebol que não sinto falta mais. A minha saúde também pesou. Tenho diabetes do tipo 2 e vivia estressado, resolvendo problemas de todos os tipos. Agora consigo controlar melhor a diabetes. A única coisa relacionada ao futebol que faço é assistir aos jogos do Cruzeiro pela televisão.

Pensa em voltar ao futebol?
Quem trabalha em cargos de direção no futebol não tem vida. Um diretor, por exemplo, precisa acompanhar o time em viagens fora do estado toda semana. Eu, como presidente, viajava com o Ipatinga sempre, tinha que estar presente. Eu não quero isso mais na minha vida. E hoje o futebol mineiro está bem servido. Não conheço pessoalmente, mas o Bruno Vicintin tem tudo para se tornar um grande profissional que vai fazer do Cruzeiro ainda maior do que ele é hoje. Tem o Daniel Nepomuceno que substituiu o Kalil muito bem. Outro que admiro é o Salum (dirigente que se afastou do América).

Você foi um dos fundadores do Ipatinga. À frente do time, conquistou o Campeonato Mineiro e disputou a Série A. Como o clube alcançou esses feitos?
Modéstia à parte, atribuo o sucesso do clube à minha competência. Eu criei o Ipatinga e fiquei 15 anos sempre com muitas dificuldades financeiras. Consegui fazer futebol com parcerias, recorrendo a outros clubes grandes, a empresários. Busquei parcerias e tive sorte. Penso que o Ipatinga poderia ter se estabilizado, disputando uma Série B, como o América hoje.

Por que o Ipatinga não conseguiu se firmar nas primeiras divisões do futebol brasileiro?
Se você for olhar hoje nenhum time novo consegue se firmar. Os grandes clubes receberam muito mais que os pequenos. Na Série A, por exemplo, o Ipatinga ganhava, em 2008, R$ 2,5 milhões por ano. O clube que recebia menos era o Náutico, R$ 8 milhões. Corinthians, Flamengo recebiam R$ 70 milhões, R$ 80 milhões. Esse abismo impede o crescimento de qualquer clube.

Jorge Gontijo/EM/D.A Press
Mas não faltou planejamento, já que o Ipatinga acumulou uma grande dívida?
Quando o clube chega em uma Série B, uma Série A, o dinheiro tinha que ser dividido corretamente, para conseguir manter. Quando o Ipatinga subiu para a Serie A, eu não estava alegre porque não tinha dinheiro. Durante esse período, uma série de ações trabalhistas contra o Ipatinga prejudicou o time. Mas isso não é só o Ipatinga, os clubes grandes também passam por isso. Pensei que o clube poderia ficar na Série B, como o América, por exemplo, mas não conseguimos nos estabilizar. Nós ainda perdemos o patrocínio da Usiminas, ficou pior ainda, faltava 50, 60% do salário do mês. Tinha que correr atrás de empresário, dar um jeito para arrumar a grana...

Você ficou conhecido como um dirigente polêmico. Certa vez, disse que o Ipatinga era a segunda força de Minas à frente de Atlético e América. Você se arrepende deste comportamento arrogante?
Não vejo como arrogância. No meu entendimento tanto o Atlético quanto o América devem muito ao Ipatinga. O Ipatinga vivia o melhor momento do futebol mineiro fora o Cruzeiro. Nós fomos campeões mineiros em 2005. O Atlético foi quarto colocado, e o América nem se classificou para as finais. No ano seguinte, chegamos à semifinal da Copa do Brasil. Atlético e América não faziam as campanhas que nós fazíamos. Quando eu disse que nós fomos a segunda força, não quis desrespeitar, era o momento, não falei em instituição, falei em força. O Ipatinga foi inspiração para América e Atlético que se reformularam.

Wellington Pedro/Imprensa MG
Fez muitas inimizades no futebol?
Não. Fiz mais amigos.

O mundo do futebol é sujo?
O que atrapalha o futebol brasileiro é justamente a administração da CBF, que já prejudicou América, Ipatinga. A gente sabe que eles são ladrões. Marin está preso na Suíça, Del Nero não sai do Brasil. O Ministério Público tem que intervir e tirar esses caras de lá...

Por que você tirou o Ipatinga do Vale do Aço e levou o time para Betim, em 2012?
O Ipatinga já não tinha apoio no Vale do Aço. Estávamos sem patrocínio e não tínhamos condições de permanecer lá. Tive o apoio de dois deputados estaduais. Eles me prometeram uma verba para reformar o estádio de Betim. Assim, jogaríamos em Betim e usaríamos, para treinar, a estrutura do clube do Bemge. Mas contávamos com o apoio do prefeito Carlaile Pedrosa. Fiz uma reunião com ele em Brasília, e ele me prometeu o apoio. Quando mudei o time, ele recuou. Não entendi, ele não se justificou. Eu fiz pressão, assim como os deputados, mas ele resolveu não apoiar. Na cidade, comentou-se que o time de vôlei do Cruzeiro não queria o Betim, não queria concorrência para o time de vôlei. Por isso também resolvi desistir.

Fica frustrado em ver o Ipatinga no Módulo II do Campeonato Mineiro?
Não dá frustração porque futebol é dinheiro. Quem tem dinheiro está vivo; quem não tem, sofre nas divisões de baixo.

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