Atlético
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DA ARQUIBANCADA

Contraindicado para cardíacos desde 1908

"O novo Mineirão é o Automóvel Clube do atleticano. Por isso, da próxima vez que eu pisar lá, será em traje esporte fino, de blazer e gravata"

postado em 26/07/2014 14:00

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Alexandre Guzanshe/EM/D. A press


E o Galo, com seus roteiros de novela do João Emanuel Carneiro elevados à décima potência, segue deixando o pobre Shakespeare no chinelo. Pra que seus dramas e tragédias, meu caro Willian, se existe o Atlético? Em matéria de épicos, coitado de Ben Hur e Carruagens de fogo perto da gente. Diante do atleticano que luta pra não enfartar, toda a literatura do mundo é Paulo Coelho piorado, é Sabrina em banca de jornal. O Galo não devia disputar campeonato de futebol – devia disputar o Oscar, o Prêmio Nobel. Não ia ter pra ninguém.

Senão o que foi essa Recopa Sul-Americana? Se não bastasse coincidir com o aniversário de um ano do Dia mais feliz de nossas vidas, estávamos nós de volta ao palco onde tudo aconteceu, em nosso reformado salão de festas. O novo Mineirão é o Automóvel Clube do atleticano. Por isso, da próxima vez que eu pisar lá, será em traje esporte fino, de blazer e gravata, porque não são festas quaisquer essas que a gente tem feito na casa dos outros.

O grande mérito da reforma do Mineirão não são os banheiros onde se mija dignamente, até porque o sujeito apertado sabe que digno mesmo é mijar, seja no mármore, na árvore ou dentro da piscina. O bom da reforma do velho Mineirão não são as cadeiras retráteis em 50 tons de cinza nas quais temos de nos equilibrar de pé, porque, enquanto cadeiras, foram feitas para bundões. O melhor da reforma foi, sem dúvida, a retirada da cabeça de burro enterrada ali com o objetivo claro de prejudicar o Atlético. Com o rebaixamento do gramado, desfez-se a macumba.

E não apenas ela se desfez como voltou-se contra o macumbeiro. Prova disso foi a entrada criminosa de Sobrenatural de Almeida naquele atacante do Olimpia que desabou, perdendo o gol do título depois de driblar São Victor – já na madrugada de 25 de julho de 2013, a data que eu tatuei no braço pra pagar minha promessa. Contra o Lanús, Almeida reapareceu livre na área para encobrir o goleiro e fazer o gol do título, passando a régua naquele jogo de maluco, estilo Copa do Mundo na Fonte Nova. O Atlético deveria jogar com tarja preta, contraindicado para cardíacos desde 1908.

Tive a felicidade de levar meu filho de 6 anos ao salão de festas pela primeira vez. Tive a felicidade de vê-lo sair rouco do estádio pela primeira vez, campeão in loco e desse jeito que nego não esquece nunca mais. Tive a felicidade, suprema felicidade, de ter trocado nossos assentos no Galo na Veia por um lugar na Galoucura, onde a torcida torce em vez de se comportar como público de teatro – e onde se celebra por 105 minutos a sorte de ser Galo, no lugar de ofender o presidente que mudou nossa história porque não ficou no melhor lugar pra ver a Marília Pêra.

Agora, a lamentar mesmo, apenas essa história de que R10 estaria de saída. Meu caro Ronaldinho, você não tá jogando nada, mas eu não tô preparado pra nossa separação. Fica no banco, troca o Brasileiro com que a gente sonha tanto pela despedida do Deco, mas não vá embora. Como um corno manso, eu aceito tudo. Leve até o disco do Pixinguinha, fique com o que quiser – mas não vá embora jamais, porque meu coração judiado dessa vez não vai aguentar.

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