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DA ARQUIBANCADA

Vais me pagar, pode chorar, pode chorar!

Desde a canhota de São Victor, a vida do atleticano virou uma interminável sessão de descarrego. Um a um nossos encostos foram expulsos deste corpo que não lhes pertence

postado em 25/10/2014 12:01 / atualizado em 25/10/2014 12:06

Fred Melo Paiva /Estado de Minas

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
No sábado passado, depois do belo autogol de Dedé, registrei aqui minhas esperanças na derrocada épica do Pirangi: “Enquanto houver Dedé, há esperança”, vaticinei, contaminado pelo grito de “Eu acredito”, que ecoara no histórico 4 a 1 contra o Corinthians, momentos antes da micareta de Mano tomar conta do salão.

No dia seguinte, Dedé marcou de novo. No caso, porém, fora corretamente informado a respeito do lado para o qual seu time estava atacando. O Pirangi pôde manter a dianteira, ao mesmo tempo em que o Mito recuperou a confiança. Era tudo o que a gente precisava: só alguém pleno de si mesmo pode entregar a rapadura mais uma vez e com tanta propriedade. Se Dedé é por nós, quem será contra nós?

Verdade que tenho uma formação de esquerda, mas chega de tanta generosidade – tá na hora de dar um basta nesse negócio de entregar o ouro aos mais necessitados. Nas oito rodadas que restam do Brasileirão, incluindo o jogo de hoje, o Galo enfrentará sete equipes que ainda fogem do rebaixamento. Chega de dar nossa cota pra esse pessoal. Eles que se virem pra sair da linha da miséria!

Ganhar o Brasileiro é tarefa que já se encontra na seara transcendental do impossível, que, em se tratando de Galo, é sempre possível. Como diz o outro: “Não é milagre, é Atlético Mineiro”. Acontece que, depois do pênalti de Riascos, o atleticano só joga a toalha quando o juiz ergue o braço e aponta o centro do campo. Antes disso, a gente pode ter 15 pontos a menos faltando apenas um jogo, que seguiremos acreditando, ainda que no apocalipse.

Já na Copa do Brasil a situação é outra. Não havia desvalidos em nosso caminho de Madre Teresa de Calcutá, de forma que pudemos passar por cima dos outros sem peso na consciência. Tiramos Palmeiras e Corinthians, duas pedras históricas em nossa chuteira. O Corinthians foi com requintes de crueldade. Agora, chegou a vez do Flamengo.

Desde 1987, o atleticano espera uma nova chance da desforra. Para uma geração inteira de torcedores, este cronista incluso, o Flamengo significou a perda da nossa inocência. Aos 8 anos de idade, em 1980, a vida me informou que nem sempre aquele que merece é o que leva. Que havia José de Assis Aragão e, depois, José Roberto Wright. Que a sacanagem era parte do modus operandi da vida. Aos 9, ouvindo pelo rádio a transmissão do jogo em Goiânia, perdi a fé em Deus. Se eu sou ateu, é culpa do Flamengo.

Desde a canhota de São Victor (foto), a vida do atleticano virou uma interminável sessão de descarrego. Um a um nossos encostos foram expulsos deste corpo que não lhes pertence. Vencemos jogos perdidos, ganhamos nos pênaltis, adversários escorregaram misteriosamente diante do gol escancarado. Ganhamos o título que parecia impossível. E o Mineirão, de maldito, virou a terra sagrada onde milagres acontecem. Milagre não, Atlético Mineiro!

Agora, chegou a vez do Flamengo. Finalmente! O encosto de todos os encostos! Sem Wright nem Aragão. Chegou a hora, minha querida Beth Carvalho, que embora botafoguense também é Galo até morrer. Chegou a hora, mulambada: vais me pagar, pode chorar, pode chorar!

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