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DA ARQUIBANCADA

O raio vai cair pela quinta vez no mesmo lugar

"Deus estava zapeando a TV quando viu Riascos partir pra bola. Naquele momento, deu-se conta de que havia esquecido o atleticano no limbo desde 1971"

postado em 18/04/2015 12:00

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
No presente momento, o atleticano agoniado não se preocupa com o Colo Colo e muito menos com o Cruzeiro, esse freguês preferencial que vai acabar quebrando a banca tamanha a quantidade de pontos já acumulados em seu plano de fidelidade. Nessa altura do campeonato, a grande questão desloca-se do futebol para a meteorologia: cairá o raio cinco vezes no mesmo lugar?

Antes da canonização de São Victor, em 30 de maio de 2013, não havia estatística a favor que sobrevivesse ao carma do atleticano sofredor e azarado. A cada semifinal de Brasileiro que alcançávamos, pensava comigo: “É estatístico, agora vai!”. Mas, tendo a mínima oportunidade, nosso pão caía sempre com a manteiga pra baixo, como se fosse um pão Pullman untado em ambas as superfícies.

O atleticano é como Angus Young: sua vida resume-se ao AC/DC – antes da canhota e depois da canhota. No intervalo das guerras e epidemias com que passa o tempo envolvido, Deus estava zapeando a TV quando viu Riascos partir pra bola. Naquele momento, deu-se conta de que havia esquecido o atleticano no limbo desde 1971 – e ordenou, conforme salmo a ser transformado em adesivo futuramente, que todas as injustiças se desfizessem.

Para ratificar sua decisão, manifestou-se na perna esquerda de Victor através do joystick de seu Playstation. E como Riascos acabaria levando a culpa, prometeu a ele um contrato vantajoso mais adiante. Pediu apenas um tempo até que pudesse localizar um cartola capaz dessa incrível proeza. Graças a Deus que tinha o Gilvan.

Pois bem. Deus foi cuidar da vida, das guerras e das epidemias, e o pepino ficou na mão de seus assessores: como reverter tanta injustiça acumulada em mais de 40 anos de sacanagens diversas? Com as conquistas épicas e as viradas monumentais! Daqui pra frente, se o pão Pullman cair da mesa, que caia de pé.

Desde então, a sorte é nossa amiga: não adianta juiz ladrão, não adianta cruzeirense secar, não adianta a imprensa carioca nem a dancinha do Mano – no fim, todo mundo já sabe o que vai acontecer. E se algo por um acaso foge do script, basta digitar um 2 a 0, a nossa senha pra falar com Deus. É nessa hora que Ele pega o joystick.

O Galo foi bisonhamente operado no primeiro jogo contra o Cruzeiro. Sem saber das ligações entre Deus e o Atlético, o juiz Raphael Claus assinou seu passaporte pro inferno. Deixa ele. Não é a primeira vez que recorrem a esse expediente na tentativa já desesperada de vencer o Galo. Domingo passado, foram 12 contra 10, e nem assim. O Parkinson do cruzeirense se aprofunda, com o aumento da tremedeira e a perda da memória. Já se perguntam: da última vez que o Cruzeiro ganhou do Atlético, a Carminha ainda tava na novela? Mandela estava vivo ou morto? Havia as torres gêmeas?

Contra o Atlas, quem nos operou foi o Levir. Por que não entrou com o Guilherme? Por que tirou o Pratto? Por que não pôs o Jô? Fato é que, na estranha confluência das coisas inexplicáveis, voltamos a precisar de um 2 a 0. O mesmo 2 a 0 que precisávamos contra Newell’s, Olimpia, Corinthians e Flamengo. A mesma senha pra falar com Deus. Quarta que vem, quando faltarem 5 minutos pra acabar o jogo, a Terra vai parar de girar em volta do sol. E só retornará ao seu curso normal quando a bola dos 2 a 0 entrar. O raio vai cair pela quinta vez no mesmo lugar. Do que, como bom devoto, dou fé.

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