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DA ARQUIBANCADA

Acreditar não é uma escolha - é o nosso DNA

"Quando você acredita no Galo, você acredita na humanidade, no futuro dos nossos filhos, em nossa república de bananas. Neste momento, meu caro, há muitos Riascos partindo pra bola"

postado em 03/10/2015 12:00 / atualizado em 02/10/2015 22:03

Bruno Cantini/Atlético

E de cara já digo, não sem antes agradecer a solidariedade dos velhos amigos, aqueles que, como o Levir, sugerem sempre a bola pra frente: eu ainda acredito. Corro o risco, eu sei, de parecer a Xuxa, que, depois de avistá-los no jardim, passou a crer em duendes. Ou os debiloides que até outro dia botavam uma fé em Eduardo Cunha, que desde PC Farias sabemos bem quem é. Mas o que fazer? O fato é que eu acredito, e não é de hoje.

O atleticano não inventou o “Eu acredito” no apagar das luzes daquele jogo contra o NOB, quando Deus desligou o disjuntor. O atleticano acredita desde que 22 estudantes da elite da cidade decidiram criar um clube sem reservas a nenhuma classe social, a nenhuma raça – e o entregaram ao povo. Ao preto e ao branco. Se isso parece utópico nestes tempos bicudos, de Felicianos e Bolsonaros superando suas fases de Tiririca e sendo tratados como gente séria, então imagine em 1908, quando a Lei Áurea contava 20 anos.

O Tímido Povo separava nativos e europeus, cada um no seu quadrado, discriminando negros, louvando o fascismo e seu líder Mussolini. Não é o torcedor que diz isso, são documentos públicos trazidos à tona por Bruno Tostes, do globoesporte.com. Enquanto isso, o atleticano seguia acreditando. Não apenas no seu time de futebol, esse esporte enfadonho em que 22 homens correm atrás de uma bola no intuito raramente concretizado de acertá-

la numa caçapa. Desde 1908, o atleticano acredita no ser humano, na generosidade entre os povos, na igualdade de oportunidades entre pobres e ricos.

Quando Telê pegou um táxi no caminho para Congonhas do Campo, descumprindo assim a promessa de fazer o trajeto a pé se ganhasse o Brasileiro de 1971, fomos severamente punidos por Deus. Nesse pleno divino do STJD não há efeito suspensivo, e por 42 anos comemos o pão que o Diabo amassou. O Telê, coitado, perdeu duas Copas. Mas foi absolvido antes da gente, tendo firmado talvez algum acordo de delação premiada.

Qualquer time do mundo que amargasse nosso jejum teria virado o Bangu. Seu conjunto de torcedores caberia hoje na Kombi do América. Mas o atleticano não – ele se multiplicou como um Mogwai que tivesse caído na caixa d’água, transformando-se em milhares de Gremlins. Por um único motivo: sua capacidade sui-generis de acreditar. Sua fé inabalável na Igreja Universal do Reino do Galo.

O Galo é a ONU que deu certo, e em nome dessa utopia nós acreditamos. No plural, como no livro dos meus amigos Mário Marra e Leonardo Bertozzi. Nós acreditamos que milicos e dirigentes deixariam Reinaldo ser campeão levantando o punho contra a Ditadura. Acreditamos em Renato Gaúcho. Acreditamos em Ronildo. Em Ziza Valadares. Até em Vanderlei Luxemburgo. E de tanto acreditar, dobramos a realidade. Acreditamos em R10 quando ninguém acreditava; em Victor, quando o gremista já queria Marcelo Grohe. Quando se sonha tão grande, meu querido Lobo Mauro, a realidade aprende.

Nós não somos o Tímido Povo, somos A Massa. Não acreditamos apenas em placares impossíveis. Acreditamos em algo maior e intangível, como foi, em tempos idos, nossa crença na construção de uma paixão universal, sem distinção de cor ou classe social.

A esta altura do campeonato, o Atlético não merece o título. O Corinthians tem mais bola, não vacila nunca, tem a mão na taça. Mas pense grande, meu amigo: você não acredita apenas nessa bobagem do futebol, com suas tabelas e gols pró. Quando você acredita no Galo, você acredita na humanidade, no futuro dos nossos filhos, em nossa república de bananas. Neste momento, meu caro, há muitos Riascos partindo pra bola. E o mundo precisa de gente que acredita como só a gente é capaz de acreditar. Porque acreditar, pra nós, não é uma escolha – é o nosso DNA.

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