Por 40 anos, meu camarada, fomos esquecidos na porta do inferno. Até que o homem lá em cima, percebendo o equívoco, nos conduzisse ao paraíso. Apoiados pelas políticas compensatórias de Deus, ingressamos desde então em seu sistema de cotas: a cada três Libertadores, uma é nossa; a cada três Copas do Brasil, idem; um Ronaldinho Gaúcho pra nós, um Júlio Baptista pro Cruzeiro; um Pratto aqui, um Damião acolá; um Robinho no Galo, um Bebezão no Corinthians.
E chegamos então ao ponto crucial em que nos encontramos, a cinco dias da estreia em nossa quarta Libertadores consecutiva: não se trata mais de dar a volta por cima. A sua contratação, meu caro Robinho, é simbólica daquilo que muitos de nós nasceram só pra ver: o Galo gigante e multinacional, como já seria se não tivesse sido roubado em 1981. Agora não se trata mais de Atlético e Cruzeiro. Você com o manto sagrado, Robinho, é um recado ao Flamengo, ao Corinthians, ao São Paulo, ao Boca Juniors: eu sei que vocês tremem.
Espero que tenham comentado sobre um fenômeno inescapável: no Galo, você entra funcionário e sai torcedor. Portanto, vá se preparando para a dolorosa separação: em alguns meses, você terá de dizer aos santistas que fica com o disco do Pixinguinha sim, o resto é deles, inclusive o Damião. E quando enfim chegar a sua hora de nos deixar, você certamente conseguirá apoio num desses AA para “pessoas que amam demais”. Com sorte, encontrará em seu grupo o Tardelli e o Ronaldinho. Nenhum dos dois conseguiu ainda se curar.